Luanda - “... O espaço urbano constitui para os modernistas, num local de análise, de reflexão e de interiorização de vivências. Acompanhado de movimentos modernistas, onde as cidades passaram assumir um lugar de destaque e de construção dos próprios individuos, analisando todos os efeitos e virtudes, diriamos que é na cidade onde emergem normalmente, os movimentos literários e estéticos. É na cidade onde vislumbramos, as grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela rebelião, é ainda na mesma cidade onde cantamos inspirados pelas marés multicolores ou polifonicas, da revolução nas capitais que se pretendem modernas…”.


A metrópole pode ser quanto a nós, considerada um lugar de alienação absoluta, e não deve ser a nosso ver apenas um centro de elaboração das ideias de vanguarda. Quando por exemplo, Langier (1973), enunciou as suas teórias sobre o desenho das cidades, abrindo de forma “perigrina”, a investigação da teória da arquitectura iluminista, as suas palavras traduziram-se numa intervenção dupla, por um lado na redução da própria cidade e por outro, a superação de qualquer ideia apríoristica do Ordenamento do Território, por via da extensão do denominado tecido citadino de dimensões formais ligadas à estética do pitoresco.
 

O jardim para Langier, passou a ter um significado novo, na epóca do naturalismo e da cidade no século das luzes, a variedade da natureza que é chamada a fazer parte da estrutura urbana, e Contrariando o naturalismo consolador, oratório e formativo que durante toda a epóca que vai de 1600 a 1700, teria dominado à episodica narratividade das sistematizações barrocas.
 

A cidade enquanto obra do homem, tende para uma condição natural, tal como a paisagem atravês da selectividade critica realizada pelos pintores, devendo receber o sêlo de uma moralidade social. A nível arquitectónico e urbanistico, há, a realçar o registo de Jefferson, que mesmo com grandes pressões das incertezas resistiu com optimismo a polémica da epóca, na planificação de Washinton, o programa ideológico Jeffersoniano, foi rapidamente aceite por “ L´ Enfant” por fundar uma cidade, traduzindo a (fundação) de um mundo novo, correspondendo a uma escolha unitária, e a uma decisão de “ livre escolha” que até então nenhuma vontade colectiva havia, podido apresentar na Europa.
 

A forma da nova cidade deve em nosso entender, assumir um significado primário e preponderante, e, deverá falar das escolhas politicas realizadas apropriando-se dos modelos disponiveis da cultura e daquilo que poderá ser considerada como a praxis urbanistica africana, que deve quanto a nós, arrastar esse modelo para a possível tradição urbana “ angolana”, não é por acaso, que “ L´Efant “ desenhou um plano que veio a sobrepor-se ao esquema do quadrilatero colonial aquele, centro de vanguarda sugerido pelo jardim francês de Lenôtre, pelo plano de wren, para a cidade de Londres.
 

A analise do discurso do movimento moderno enquanto instrumento ideológico da segunda metade do século XIX, até 1931, data em que foi patente a crise em todos os sectores e a todos os niveis, significando traços de uma história que se articula em três fases sucessivas.
 

a) - Uma primeira fase, que assiste à formação da ideologia urbana, como superação das mitologias tardo-românticas.


  b) - Uma segunda que vê desenvolver, o papel das vanguardas artisticas com projectos ideológicos e como (objectivos avançados que a pintura, a poésia, a musica ou a escultura só podem realizar a um nível puramente ideal) à arquitectura e à urbanistica, foram as únicas capazes de lhes dar concretização.


c) - Uma terceira fase, na qual a ideológia arquitectónica se transforma em ideológia do plano, fase que foi por sua vez superada e posta em crise no ano de 1920, atravês da elaboração das teórias anticiclicas e da reorganização internacional da capital e após o lançamento do primeiro plano quinquenal na Russia, a função ideológica da arquitectura para tornar-se reduzido ou limitado, o desempenho das tarefas da retaguarda e de apoio à marginal.


A metropole, a vida do espirito e a multidão, estiveram presentes no imaginário de Simmel, um ilustre mestre da escola de Chicago, cuja aparição esteve associada ao individuo, que por vezes fora considerado estrangeiro, mais que na cidade assumia algumas caracteristicas daquele possivel sofrimento, e sobretudo à noção de liberdade. De alguma forma podemos dizer que sempre, existiu uma formulação de concepção ética da cidade.
 

A importáncia de que se revestiu, neste caso para a independéncia do individuo, a atitude de reserva e de indifernça, bem como as condições mentais de vida dos grandes aglomerados, só foi realmente apreciada nas densas multidões de metropoles, em que o limite do espaço de movimento e a proximidade fisica dos individuos, justificaram de imediato o seu distanciamento mental.
 

É apenas por oposição a estabilidade que, naturalmente, em determinadas condições nunca nos sentimos tão solitários e isolados como no pulmão das grandes cidades. Porque tal como nos outros sitios, não é de modo algum necessário que a liberdade dos individuos se reflictam na vida emocional como experiência agradável, assim sendo, perguntamos nós, quando é que voltaremos a ter os pulmões da nossa menina Kilumba do Atlântico?
 

Por seu turno e na sua conhecida obra postuma sobre as galerias de paris de (1982). Walter Benjamin, retoma a figura do passeante, que ja havia encontrado na poesia de Bandelaire (Benjamin, 1955), que retratando um personagem que na sua relação de proximidade, distância com o meio envolvente se aproxima do estrangeiro de Simmel, e que tal como este, foi pensado em conjunto com a figura da multidão, o passeante gosta (va) por demais da solidão, mas que quer (ia) vivê-la no meio de desconhecidos.
 
 

Cláudio Ramos Fortuna


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Urbanista

Fonte: Club-k.net