Brasil - Prefiro dizer que, até a morte de Michael Jackson foi um verdadeiro sucesso. Sem descontar o êxito, o talento, a genialidade reconhecida de modo padronizado.
Ser negro não é um fenômeno caracterizado simplesmente pela cor
A morte do sujeito veio como um alívio para o conjunto de almas que já não suportavam ouvir e receber os escândalos daquele que em muitos casos era tido como o ídolo de uma geração. Mas que suas atitudes deixavam a desejar; a mesma ( a morte) também constitui um freio para o conjunto de insucessos que nos proporcionou na vida privada ( e muito pessoal) deste músico onde cada tipo de fofoca e bisbilhotice transformava-se, por mania, em verdade para se destruir aquilo que foi construído; talvez por inveja ou até mesmo pelo afã de se destruir a gloria de um povo que fez da cultura o seu maior instrumento de resistência. É um “escândalo”, a sua morte, quando se sabe que o nosso astro, nada mais e nada menos, tinha como meta viver uns longos cento e cinqüenta anos.
Michael Jackson podia ser admirado em todos os sentidos pelo que fez: um excelente bailarino, talvez o melhor de nossa época, o artista musical mais completo de todos os tempos, o homem que logrou fundir a cultura negra e branca num país racista e ser admirados por todos. O rei do pop amado por todos, mas, também, induzindo pena a qualquer de seus admiradores. Pena, sim! Afinal quem nasceu negro e morreu branco só pode provocar pena, mais pena do que inveja e raiva. Inveja daqueles que acreditam que ser branco ou de origem caucasiano é a maneira mais cômoda de se viver nesse mundo, ou que tal fato constitui algum privilégio acima de qualquer grupo étnico diferente; e raiva por aqueles que acreditam que foram abandonados pelo mesmo ou que este ( o Michael) deixou de os representar; para muitos a negação ao seu passado infantil era tido mesmo como uma traição imperdoável. Mas Jackson era tão ingênuo no seu modo de viver e pensar que para ele qualquer transformação dispensava explicações políticas ou sócio-culturais: “eu sou um negro e ponto final”. –Basta o que eu digo e não aquilo o que os outros dizem de mim.
E por que não acreditar no Rei do Pop? Ser negro não é um fenômeno caracterizado simplesmente pela cor, é acima de tudo uma cultura; e Michael Jackson soube representar bem isso. Cada gesto de sua dança –cada passo-, aquele passo das danças das tribos africanas que caracterizava a sua dança era um culto, um elogio, um simbolismo de fazer prevalecer e enaltecer aquilo que há de melhor na cultura negra ( e africana). Dá para ver isso num dos seus sucessos mais querido “Black or Whites”. Mesmo quando estão representados ( no vídeo clip) valores culturais dos cinco cantos do planeta o que se destaca é aquele passo de vai-e-vem em desespero que caracteriza os bailes africanos, como quem diz: eu sou negro! E era com certeza isso que Michael tentava dizer na sua dança e em cada um de seus gritos, mesmo quando a mensagem ou a informação recebida não era isso que explicita e literalmente dizia.
Mas para muitos, racistas ou não, preferem ver a cor. Para essa gente é como se a cor dissesse e definisse tudo! E é por isso que de vez enquanto lidamos com uma certa ignorância, provocada até talvez por instintos racistas, de que a música rock é música branca. Eu de minha parte só consigo rir da estupidez e da própria ignorância que caracteriza a esses ditos críticos e historiadores de arte ou até jornalistas. De minha parte tenho a dizer a essa gente: Só uma cultura baseada no roubo, na delinqüência, na arrogância, no saqueio, na exploração do homem pelo homem, na prepotência do colonialismo, na escravidão, na presunção de que tudo é nosso, fomos nós os que criamos tudo, somos os primeiro em tudo pode ver o negro ou a África como um homem ou uma região sem cultura e chegar a conclusão que a música rock também é branca.
Não precisamos aqui debater nem entrar em conflitos para mostrar e demonstrar primazia. Só viemos mesmo nos despedir de Michael Josep Jackson e reconhecer que a sua dança, cada um dos seus gestos, MoonWalker, mais do que uma marca registrada é o símbolo de toda uma cultura que sobreviveu, vive e se impõe hoje como um gigante, que já perdeu a referência e que tem os portões abertos no Olimpo, ali onde só os deuses sabem reinar. E com certeza, pelo fato de perder a referência, tornar-se ainda melhor, torna-se um patrimônio de todos, de todos aqueles que vivem nos cinco cantos desse mundo!
* Nelo de Carvalho
Fonte: WWW.blog.comunidades.net/nelo