Luanda - Anda parte do país meio atónita com o ritmo que o novo ciclo político vem imprimindo visando a normalização da vida de todos nós, a começar pelo controlo das principais fontes de receitas do Estado.

Fonte: JA

Fazem-se especulações as mais diversas e na maior parte dos casos há a tendência de querer que a vontade de uns e outros se traduza em realidade. Para tal, nada melhor do que as redes sociais, onde o anonimato é marca registada, para fazer valer essas correntes de opinião, quase sempre resultantes de grupos de pressão do que vontade livre, espontânea e individual de cidadãos.


E nesse afã buscam estatísticas comparativas, cronometrando as medidas para as classificar segundo o impacto que pode provocar em determinados sectores da sociedade.


O novo ciclo político, afinal, não tem feito mais do que foi prometido durante a campanha eleitoral com acento na moralização da sociedade através do combate à corrupção, do fim da impunidade e da abertura de oportunidades iguais para todos. De uma economia mais diversificada, que possa criar empregos, para o que é necessário que as actuais principais fontes de sustento do erário público sejam optimizadas por forma a constituírem-se em alavanca do desenvolvimento de outros sectores.


Por isso, não surpreende as mudanças operadas nas principais empresas públicas, às quais se devem somar às feitas no sector financeiro, com um novo governo e administração no BNA e no maior banco comercial, o BPC, além da gestão em outras estratégicas, como às da comunicação social ou de comercialização de diamantes, a que seguirão, não se tenha dúvidas, outras mais.


As mudanças visam, quase sempre, imprimir novas dinâmicas e não devem ser vistas como mera substituição de figuras ou nomes, um mau hábito cultivado com a funalização dos nossos assuntos. É evidente que nem sempre esse objectivo é alcançado até porque os erros e fracassos também fazem parte das nossas vidas.


O facto de algumas mudanças terem atingido figuras consideradas “intocáveis” fez nascer uma onda de ruído de que o actual Presidente da República estaria empenhado numa “caça às bruxas” a pessoas próximas ao ex-Presidente e líder do MPLA.


Estranho é que, vozes e forças que sempre se ergueram e pediam essas transformações, sejam as mesmas que hoje se mostram mais espantadas e comecem a ver fantasmas e montando cenários de uma suposta batalha entre os dois líderes políticos. Espanta, também, a forma como alguns grupos ou pessoas têm reagido à essas medidas, talvez impelidos por sentimentos de orfandade por eventuais perdas que elas possam representar para os seus interesses.


No caso concreto da Sonangol, a questão não deve ser posta no facto de Isabel dos Santos ser filha do ex-Presidente da República. Se calhar, ou talvez por isso mesmo, a petrolífera nacional não conseguia os financiamentos externos necessários ao seu desenvolvimento por saber-se que no combate ao branqueamento de capitais há pessoas politicamente expostas, as chamadas PEP, que estão sob o radar do mundo financeiro mundial.


Por isso, a Sonangol viu agravar a sua dívida e complicar as relações com as operadoras estrangeiras. Ninguém tira o mérito de se ter conseguido baixar os custos de produção nem de outras acções ( a que preço?), mas a falta de diálogo e o excesso de burocracia estavam a pôr em perigo a saúde da “galinha de ovos de ouro”, porque há anos que não se fazem novas licitações, prospecções e com isso a produção tende a cair até pela quantidade das reservas e idade de alguns poços. E, depois, não é mesmo concebível que um dos maiores produtores africanos tenha de importar quase todos o produto refinado.


Tratou-se, portanto, de uma medida de gestão, pura e dura, que algumas forças, apanhadas sem argumentação, procuram agora atirar para um alegado conflito político entre o Presidente da República e o líder do MPLA, fomentando um forçado braço de ferro e pseudo divisões no partido no poder.


E nada mais eloquente do que Isabel dos Santos manter a sua veia empresarial ao inaugurar, há dias, um novo empreendimento, provando haver vida para além do Estado.