Lisboa - Na semana passada, o ministro do Interior de Angola, Ângelo de Barros Tavares ao distanciar-se das praticas de assassinatos levadas a cabo pela Polícia de Investigação Criminal, trouxe ao de cima uma auto confissão assumindo taxativamente ser o autor da operação que resultou na condenação do antigo Comandante provincial de Luanda, Joaquim Vieira Ribeiro.
Fonte: Club-k.net
Como diz o adagio popular: “o Peixe morre pela boca”

Durante os últimos seis anos, a sociedade angolana acreditava que a cabala montada contra o comissário Joaquim Ribeiro teria sido montada pelo antigo ministro do interior e ex-DG do SINSE, Antônio José Sebastião Martins. As suspeitas sobre a implicação de Martins era sustentada pelo facto de operação ter como figura um subordinado seu, Miguel José Luís Muhongo, na altura dos factos, ocupando o cargo de chefe do departamento do Crime organizado do Serviço de Inteligência e Segurança de Estado, hoje colocado como delegado provincial da secreta nas Lundas.
A participação de Miguel Muhongo por se tratar de um alto funcionário da secreta dava convicção de que Sebastiao Martins estaria mesmo por detrás da operação sobretudo aos métodos violentos que teria recorrido para colher confissão das suas vitimas.
Na altura, o ex-ministro Sebastião Martins, os familiares de Quim Ribeiro e a imprensa privada com destaque para o Folha-8, detonaram contra Sebastião Martins por os seus subordinados terem recorridos a métodos menos exemplares nesta operação. Numa tentativa de acalmar os ânimos das famílias, Martins teria justificado em fóruns próprios que os alegados interrogatórios (violentos) feitos pela corrente de Miguel Muhongo estavam a ser avançados fora do seu conhecimento.
A recente confissão de Ângelo Tavares não só iliba Sebastião Martins de métodos poucos recomendáveis na operação contra Quim Ribeiro como também trás a superfície, esclarecimento das antigas suspeitas de que o ex-patrão da secreta estava a ser “apunhalado” pelo seu próprio “Vice” que acabou por lhe tomar o lugar.
O antingo vice ministro Ângelo Tavares, coordenou tais operações sem que o seu superior hierárquico se apercebesse tanto do ocorrido e sobretudo de ter tido a sua disposição um alto funcionário da secreta (Miguel Muhongo) que tinha boas relações com Sebastião Martins.

Em meios da inteligência angolana, dizia-se que o então delegado do SINSE de Luanda, António Vieira Lopes havia sido persuadido pelas autoridades no sentido de apresentar uma versão a implicar o seu antigo Chefe da Secreta, Sebastião Martins. A recusa do mesmo resultou na condenação por um tribunal de primeiro instancia. O Tribunal Constitucional inocentou quatro anos depois por não ter ficado provado que a ordem de execução partiu de si.
No seu - direito de resposta - em forma de confissão Ângelo Tavares auto se proclama desta operação dizendo que “Foi esta pessoa que o senhor (Rafael Marques de Morais) acusa de assassino a quem o Presidente da República incumbiu a tarefa de tudo fazer esclareceras mortes de dois activistas, com graves repercussões para a imagem do país a nível nacional e internacional , e num trabalho digno de registo do Serviço de Investigação Criminal e posteriormente do Procuradoria Geral da República o caso ficou devidamente esclarecido e levado a justiça”.
Ângelo Tavares assume com regozijo a paternidade do “trabalho digno” da investigação em torno do caso dos activistas executados pela polícia de investigação criminal, porém, não esclarece a opinião pública porque permitiu a fuga do agente do SINSE Benilson Pereira Bravo da Silva “Tuchinho” que atraiu Isaías Cassule à morte. O actual ministro também não explica porque colocou de fora do processo, o tenente-general José Filomeno Peres Afonso da Secreta Militar mesmo depois de em tribunal, um dos réus Júnior Mauricio “Chéu”, afecto ao gabinete técnico do MPLA, ter confessado que foi deste oficial general que recebeu ordens para o destino dado a Isaías Cassule.
Para o activista Pedro Malembe, “O Presidente João Lourenço deve demitir o Senhor Ângelo Tavares por não reunir condições morais para servir um governo que quer distanciar-se das praticas de execuções em Angola”.
Malembe que hoje carrega no rosto uma cicatriz fruto da tortura por parte dos subordinados de Ângelo Tavares, do comando municipal do Sambizanga, acredita o novo chefe de Estado terá coragem de mandar fazer um inquérito as execuções que o SIC desencadeou este ano e que foram denunciadas pelo jornalista Rafael Marques. “Para esta tarefa, o senhor presidente não pode contar com um ministro que no caso Cassule e Kamulingue mandou uns para tribunal e deu cobertura aos verdadeiros autores do crime, que hoje estão soltos”.
* Paulo Alves