Luanda - Miala é talvez o mais alto funcionário do Estado que teve a obrigação de ajustar as contas com a lei,  a sociedade e o Estado nos últimos vinte anos de governação em que o MPLA vem se deleitando no poder. Ele, por certo, não deveria ser o único. Mas como teve a audácia de desafiar  o Soba da Cidade Alta, teve o que todos já soubemos; amargar  dias de humilhação numa prisão de luxo  construído só para ele. Há quem diga que  o maluco   teve a ousadia de preparar  e planificar um golpe de Estado. Onde o desfecho terminou quando o mesmo foi dedurado pelos serviços secretos, que se acredita serem de um país Europeu; um círculo de agentes secretos onde o mesmo foi admirado e aplaudido, e que ele  supostamente andou confiando.

O País das Aranhas (V)

A idéia de que ele era um homem inteligente, um agente secreto aplaudido por alguns parceiros e até colaboradores europeus tornou o mesmo um sujeito irreconhecível   e acima  da lei. Achou que poderia chegar muito longe buscando prestígio, fama, poder  e influência.  A corda, que o sustentava, mesmo sendo  mais forte  do que  o aço- não esquecer que vivemos nos país das aranhas-, rebentou onde ele menos deveria esperar. 


O Criança Esperança surgiu na  verdade como uma idéia dele. Vindo de alguém que tinha poderes dentro do sistema, coisa habitual no regime eduardista, e que podia dar-se o luxo de subornar, agradar, bajular adversários ou simpatizantes de uma causa. Causa quase sempre direcionada há uma pessoa. O objetivo era subornar Jornalistas,  bajular os mesmos, criar uma certa reputação de boa imagem de um governante  dócil com responsabilidade social  e humanista, que um dia pudessem apoiar o suposto golpe de estado  a ser executado pelo nosso general da secreta. Paralelamente a isso, Miala, dava-se o direito de interferir na alocação de alguns quadros ou profissionais, principalmente no Ministério das Relações Exterior, onde se acredita que muitos  dos  segundos secretários de embaixadas foram posicionados  por  influência do mesmo  e apoio pessoal. E  além disso,  andou forçando a barra, por vias ilegais, que só os generais desse regime poderiam muito bem explicar, sua promoção para  ascender de patente. A última que teve  e  que foi um dos motivos  para ser  dês-promovido.


Numa fase da história onde já não se admitem golpes de estados e o perigo comunista deixou de ser usado como justificação para se executar tais empreitadas, Miala simplesmente foi dedurado por aqueles que o admiravam no exterior e tinham no mesmo como o agente  secreto que quebrou a espinha dorsal de Savimbi  e todos os seus homens.


Assim, depois da denuncia –diga-se com características anônimas- recebeu o que devia receber, ser dês-promovido por quem por direito  e dever deveria fazer. E é daí que começou uma nova ciranda para o nosso general  e o  regime  que ele sempre defendeu.


O caso Miala  pauta-se na tradição de  um estado corrupto que fez   dos chamados segredos de estado uma cortina até para encobrir crimes de todos os tipos possíveis: desvios de verbas públicas, atos governamentais e administrativos  irresponsáveis,  tráfico de influência, nepotismo,  inquestionável mania de se confundir o que é publico do privado, discricionariedades de quem é chefe  passando bem longe de todas as regras  e normas legais que só os delinqüentes conhecem. Em fim, Miala é uma verdadeira cortina de fumaça de um Estado e Governo que não tem preocupação e nem faz questão de prestar contas à  nação, ao público e à sociedade civil; um Estado vingativo, arrogante e fingido; onde a noção de cultura e civismo é tão  estranho ao mesmo como as noções de justiça e legalidade. É a barbárie travestida de civilização quando acredita que deve tirar proveito de algo ou de uma coisa. Não é a toa que se vê crescimento no meio de tanta miséria e que no final de todas as contas se recompensa o mesmo com uma viagem turística  à  L’ Áquila. Viva Angola! Viva a essa nação de miseráveis!

Miala agora sirva mesmo  de papagaio tocando trombone

É uma pena que ele saiu tarde da prisão. Se saísse dias antes, não duvido que num país como Angola – o país de todas as possibilidades, das possibilidades para poucos, que só uns têm e conseguem- o mesmo talvez tivesse acompanhado a corte presidencial para aquela cidade. Afinal, não são poucos nesse governo, país, nação e com o Estado que temos  que se deram muito bem e continuam tendo uma vida exitosa mesmo sabendo que andaram roubando e açambarcando os cofres públicos. O próprio Miala mesmo tendo sido considerado como infrator da lei recebeu várias proposta para exercer  o cargo  de embaixador. Profissão de luxo, tido para muitos no país  e nessa nação chamada de Angola, a vaga pública onde o MPLA, o partido no poder,  consegue “recuperar” os quadros  delinqüentes  ou frustrados – se consegue de verdade-;   que o mesmo ao longo dos anos não conseguiu moldar a bel prazer  lá no CIR, nos cursos rápidos oferecidos para dirigentes partidários em suas escolas de formação política. Recuperação que vem como  a recompensa a ser  recebida depois de tantos anos de dedicação. Que hoje já soubemos que a dita dedicação nem sempre tem  a ver com os serviços prestados a pátria, mas para agradar e mostrar fidelidade recíproca de quem nomeia e de quem é nomeado.


Surpreendeu-nos a notícia de que o Estado Angolano- se é mesmo o Estado- foi atrás daquilo tudo que Miala apropriou-se indevidamente na época em que fazia parte do poder político, econômico e militar, aquilo que muitos chamam também de politiburgo. De que Miala deve entregar tudo, até  o último centavo  roubado e apropriado indevidamente  deve ser  um fato inquestionável.  Somos a favor de que se devolva  tudo aquilo que pertence ao Estado. E que isso não termine aí, esperamos que esse procedimento  transforme-se numa  moda corroborada pela lei e os bons costumes. E que Miala não seja o único hoje, amanhã e para sempre. Há mais gente por aí vivendo de graça com o patrimônio público, usando o mesmo de maneira indevida, apropriando-se do mesmo.


Quem sabe Miala agora sirva mesmo  de papagaio tocando trombone. Afinal ele é tido como o maior agente secreto que esse país já teve,  a língua que ele leva deve estar pesada, preparada para soltar a carga necessária. E diga-se carga explosiva! Se  pôr a boca na trombeta, possivelmente, vai poder um dia se redimir e assim vamos mandar ele por “unanimidade” – e não por vontade de alguns perssonagens-  ser embaixador de Angola nos G-8. E  ter que esperar lá o futuro presidente de Angola eleito legitimamente pelo povo.  Ainda sonhamos com isso! Nada é impossível! Pelo menos o último detalhe, o que diz respeito à  legitimidade.
 

Por isso, a oposição que está por aí dormindo deveria acordar e pôr o ex-General a tocar trombeta, a sociedade civil idem – eu nunca descobri onde começa essa e onde termina- a imprensa privada; o próprio Estado Angolano que tem que deixar de ser a representação de um sujeito e de um partido. Temos um Procurador Geral do Estado que não precisa receber ordens do presidente para investigar e que pode muito bem estar a frente de tais investigações ( se o mesmo for independente  e estiver verdadeiramente ao serviço da nação); temos o legislativo, o poder Judiciário representado pelo Ministério Público ( se valem alguma coisa). Não esquecer que Miala foi julgado por infringir a lei militar, agora pode ser  acusado, processado e julgado por desvio de patrimônio público. E como agente secreto que ele foi ele é o mago que a sociedade civil precisa para denunciar e ir atrás de todos os corruptos. Sem exceção.!!!! Vamos ver se alguém se opõe a isso. Ou se alguém tem medo de tal empreitada! Quem não deve não teme.


Vai ser  difícil acreditar que o que sair na boca de Miala é simplesmente um boato. Pode até ter caráter vingativo, mas nem por isso deixará de ser verdade.

-- Nota: Consulte --
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* Nelo de Carvalho
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