Windhoek - No ano a seguir  a independência nacional, os serviços de segurança em Angola estavam centrados em dois seguimentos, a divisão de informação e segurança de Estado (DISA) e a Contra Inteligência Militar (CIM). A DISA era no campo das operações um serviço domestico convertido em força de repressão enquanto a CIM limitava-se a funcionar em unidades militares (evitar infiltrações), e em cadeias (São Paulo) . Uma das suas principais bases em Luanda  era a unidade do grafanil que tinha a importância de ser uma unidade de logística e de arsenal.  Em muitas das vezes,  os seus operativos  eram elementos com  missão “in loco” fora do conhecimento do chefe da unidade.

A queda do ex-General 

Naquela altura, o CIM já estava apto a missões ocasionais. Em casos de chegadas de delegações estrangeira, controlavam o aeroporto recorrendo a técnicas de retardar possíveis ataques, por parte de elementos que já eram considerados suspeitos nos seus  arquivos.

Ambas as agências de inteligência tinha  estruturas em Luanda que funcionavam no mesmo perímetro de residência.  A CIM operava no primeiro andar do  Ministério da Defesa (no piso de baixo estava o Ministro da Defesa “Iko” Carreira de quem dependiam). Eram Gabinetes geralmente divididos por dois operacionais (OP). A DISA estava no quintal ao lado. Ambas estruturas  tinha os seus próprios chefes e os seus agentes frequentaram de início cursos separados em duas fases. Foram os Cubanos que em 1976 ministraram os primeiros cursos a elementos da CIM. Em Maio de 1977, a segurança ficou dividida e muitos elementos da CIM foram detidos pela DISA. Em causa estava um insurreição popular que acabou por expor a  DISA como um serviço inapto aos básicos tradicionais da análises e prevenção.

Na década de 90, após o fim do Ministério da segurança (Minse), a segurança nacional  passou a apresentar-se com três secções principais: Os Serviços de informação (SINFO), a Inteligência Militar (SIM) e a Inteligência Externa (SIE) identificado como o mais popular serviços no país.  A “Intelligence” angolana tornou-se numa das mais respeitadas em África em termos de precisão de dados e o uso de tecnologia avançada. Abortaram tentativas de golpes de Estado em países vizinhos (Alertaram a Sam Nujoma sobre uma sublevação  interna e em Março  de 2004 prestaram informação a cerca de 67 mercenários que iriam realizar um golpe de Estado na  Guine Equatorial.). Uma das manifestações deste reconhecimento foi feita em 2007 na África do Sul quando um responsável da inteligência de um país da SADC revelou, num seminário  que sempre que o seu país desejasse adquirir novos aparelhos de comunicação, davam conta que Angola tinha sido a primeira a comprar.

Teatro de operações

O SIE centra as suas operações através de colecta a partir  estrangeiro. Os seus agentes  colocados nas missões diplomáticas são geralmente chamados por Chefe de centro. Em áreas consideradas estratégicas podem funcionar dois ou três elemento subordinam-se a um virtual gabinete de Estudo, o Gabest coordenado pelo chefe de centro. Os trabalhos como resumo de impressa são confinados aos assessores de imprensa que reportam ao Ministério da Comunicação, ao Sinfo e a Presidência da Republica.

Em Outubro de 1997 o SIE que teve um papel crucial para por ponto final no conflito armado com a UNITA acabou por se envolver  num confronto direito com os serviços secretos do Togo. Na origem da briga estava um operativo do SIE, Casimiro da Silva flagrado em Lomé  numa  fracassada tentativa de  rapto a um filho de Jonas Savimbi, Eloy Sakaita. Casimiro da Silva  operava a partir da embaixada angolana na Nigéria sob capa de primeiro secretario. Cobria o Togo e outros países com fronteira próxima a sua área de acção . Um mês antes, o SIE sucedeu em trazer a Luanda, um  irmão de Eloy,  Araujo Sakaita. O diplomata angolano viajou de carro atravessando a fronteira entre os dois países para convencer Eloy a seguir o mesmo caminho que  um irmão seu, Araujo. Eloy simulou aceitar a proposta marcando encontro  próximo de uma discoteca onde acertaram que seria apanhado e transportado para fora do Togo via terrestre. Ao mesmo tempo, o jovem notificou a representação da UNITA que por sua vez  alertou ao Governo do Togo. No momento em que o Jovem Eloy descia da sua motorizada no local acordado, o diplomata encostou-se nele e foi apanhado pelas forças  de segurança. Foi preso e torturado. Ao ser interrogado, rejeitou denunciar o SIE optando por dizer que estava a praticar a acção  por sua conta e risco a fim de ganhar promoção. Acabou por ser liberto após  conversações diplomáticas.

 

Personificação do SIE

A principal figura do SIE, quando se deu este incidente, em Lomé,  era um Brigadeiro que por inerência de funções foi promovido a general e assim ficou o seu nome: “General Miala”. Nenhuma operação era feita sem o seu conhecimento.  Coordenava  todo tipo de operação (Da logística ao recrutamento) e estruturação administrativa  colocando homens de sua confiança nas dependências do SIE.

Em meados de 1997/8, um elemento do SIE, Antonio Van-Dúnem viu-se forçado a pedir asilo na Holanda por suposta perseguição atribuída a Fernando Miala. Ambos estavam desencontrados quando Antonio Van-Dúnem acabado de se estrear na Alemanha como primeiro secretario da Embaixada angolana em Bona, recusou ordens de Fernando Miala que  exigia o seu regresso antecipado a Luanda numa altura política e militar critica. Van-Dúnem foi mais tarde deportado a partir da Holanda e em Luanda aderiu  a igreja Maná onde se tornou pastor  no centro-sul de Angola. Nunca se soube ao certo o que tera se passado entre ambos. Surgiram insinuações segundo a qual o General Miala tentou distanciar o diplomata após se aperceber que JES nutria certa admiração pelo mesmo. Antonio Van-Dúnem é  primo irmão de “Toninho”  e Manuel Van-Dúnem, este ultimo  da casa militar.

Miala foi  responsável pela humanização do SIE que  rapidamente passou ser a  sua imagem. Era na pratica um co-presidente do país. O poder que acumulava por demasiado  terá sido responsável por alguns excessos traduzidos em demissões ou afastamentos prematuros nas missões diplomáticas e  em outras área fora do seu perímetro de jurisdição. Dizia-se que ate um antigo comandante da policia nacional no Uige, Joaquim Ribeiro chegou a ser afastado e levado amarrado para Luanda. O castigo é ate hoje atribuído a vontade de Garcia Miala.
 
A queda do ex-dirctor geral

A queda do General Miala dos Serviços de Inteligência Externa é associada a motivações de grupos internos ligados a Presidência da Republica. A feitura da sua prisão foi calculada a  mante-lo na cadeia por 15 anos. A conclusão é baseada em apreciações que tem  em conta o numero de acusações absolvidas logo de  inicio (Golpe de estado, desvio de bens e etc).

Duas versões concorrem como suporte do seu afastamento. A primeira  é veiculada ao empréstimo chinês. Fernando Miala, teria alertado ao Presidente José Eduardo dos Santos a cerca de empresas angolanas fantasmas (com poucas semanas de existência na altura) que estavam a ser postas como concorrentes (sem concurso) nas parcerias que teriam com as congéneres chineses.  De entre as empresas tidas como fantasmas estariam interesses de outros grupos hostis a si que teriam se zangado. Era um dossiê, na altura, bastante restrito do conhecimento de cerca de 5 dirigentes do circulo presidencial dentre os quais dois juristas.

Outra  versão diz  que numa das  visitas do PR, de rotina/ferias, ao Brasil, o estadista e a sua  família, teriam pegado um susto a bordo de o avião que os trasportava. O registo da  ocorrência estranha na aeronave convenceu, mais tarde, os presentes a bordo de  que estavam diante de uma maldade contra JES, interpretada como “golpe de Estado”. Garcia Miala foi por suspeitas internas, a figura  identificada como a que mais chance teria em ver  proveito no incidente.  

Antes de ir para a cadeia, Fernando Miala foi citado pelo “Africaintelligece.com” como tendo sobrevivido a um atentado a porta de um restaurante em Luanda ao que foi desdramatizado por um diplomata angolano em Paris identificado por Cadete. A acção suportou freqüentes rumores  que sustentavam que antes do seu afastamento seria mandado a 24 de Fevereiro de 2006, em missão de serviço para o Congo e ao mesmo tempo seria realizada uma cerimônia protocolar na sede da presidência angolana que seria destabilizada por um intruso. No Congo, Fernando  Miala seria  baleado  e em justificação iria se dizer  que a sua morte deveu-se a sua fuga ao país vizinho após a uma frustrada e fracassada tentativa de golpe de Estado. O intruso seria morto e/ou confessaria que estava ligado ao mesmo.

A era após  Miala

Em simultâneo a demissão da antiga direção do SIE foi nomeado um  novo director geral, Oliveira Sango que é  um acadêmico de reconhecida reputação e com percurso iniciado  no “Branch” da Contra Inteligência Militar (CIM), na antiga unidade do grafanil em Luanda. O seu adjunto, Gilberto Veríssimo é um brigadeiro  perito em comunicações.

A nova era do SIE foi dedicada a estruturação  metodológica com base no reconhecimento de resultados/erros da antiga direcção identificados num relatório de sindicância instaurada pelo Presidente da Republica. Houve readmissão  de alguns elementos ora identificados como próximos  ao antigo DG. Em  paralelo, isto em Outubro de 2008,  foram registradas promoções de funcionários intermédios, graduação de patentes militares e a criação de cargos equivalentes a coadjutores dos directores da direção geral.

Foi devolvido ao SIE o papel de participar na preparação das viagens do PR ao exterior.  A anterior direção conforme disse o Brigadeiro Gilberto  Veríssimo no julgamento no “caso Miala” tinha sido posta de lado e passado a ter conhecimento  das viagens através dos seus colegas no estrangeiro. O quadro voltou a normalidade. Uma semana antes de o PR ter viajado em Dezembro do ano passado a China, tinha sido despachado um grupo de avanço (assessores, agentes do protocolo) e desta vez o SIE esteve presente através de um alto funcionário da sua  direção, Xavier Esteves que coordenou os trabalhos. Em Fevereiro deste ano, o PR esteve na Alemanha e parte do trabalho voltou a ser confiança a um elemento do SIE em Berlim,  Sebastião Lopes, embora com  limitações decorrentes a exigências dos Serviços de Inteligência Externa Alemão (Bundes Nachrichten Dienst-BND), que assumiu cobertura da  segurança “total” do estadista angolano.

Em finais de 2008, fez-se alusão a um premeditado afastamento do actual DG,  Oliveira Sango. Mais tarde ficou confirmando de que o assunto  nunca foi admitido no Gabinete Presidencial.  Sango não tem os mesmo poderes que o seu antecessor, foram necessário, porem, cerca de dois anos para que passasse a dar  sinais de  “consolidação” de poderes e  aceitação interna. A leitura dos sinais é feita  através de observação interna, apreciação vinda da Casa Militar/ Gabinete presidencial que assumia a transição do SIE  e apreciação externa. Na vinda a Luanda de Raul Castro, PR Cubano, o Chefe da Inteligência cubana, Delgado Rodriguez sentiu-se atraído com o modelo de reestruturação administrativa do SIE, depois de se ter mantido a par do mesmo.

 

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* José Gama
Fonte: Cluk-k