Kuito - Não disponho com precisão a trajectória e resultados da visita de trabalho que a Ministra da Saude efectuou no passado dia 30 de Dezembro à cidade do Kuito-Bié. Se ela tivesse sido anunciada com a mesma pompa e circunstância a que se seguiu a sua saída, pode crer que lhe seguiríamos o rasto, pois pretendíamos ver até que ponto os aldrabões do Governo do Bié tocariam a sua sensibilidade.

Fonte: Club-k.net

Tida a sua visita como “fazendo parte do programa de diagnóstico do sector com vista a inteirar-se dos índices de malária e não só”, me perguntei a priori que diagnóstico pode ter saído daquela missão realizada durante poucas horas de um sábado e em vésperas de ano novo?

Se verificou segundo alguns presentes, a falta de vários administradores municipais, dos directores das diversas unidades hospitalares da província, das autoridades tradicionais numa altura que se anunciou ja a municipalização dos serviços de saúde, da descentralização dos fundos municipais, ou seja uma serie de intervenientes directos nas vestes de sujeitos e objectos não estiveram porque a sua visita foi inesperada e muitos estavam já ausentes e em pleno gozo de férias.

Um diagnóstico deve ser feito com objectividade e tempo, e as declarações que prestou a comunicação social no fim da realização de sua célebre visita de diagnóstico deixa muito a desejar, senão vejamos as suas declarações no fim de sua visita segundo a Angop:

“O sector da Saúde, continua a trabalhar com os parceiros sociais, igrejas, autoridades tradicionais, associações juvenis, na promoção da saúde, aconselhando a população para a necessidade do combate do lixo, águas paradas, evitar cultivo de milho, bananeiras e hortaliças nos quintais, por oferecer condições de reprodução do mosquito.”

“A melhoria das estratégias, na aplicação das acções preventiva, disse a governante, permitirá que o Estado, reduza os custos com construção e apetrechamento de novos hospitais, ingresso de enfermeiros e sobretudo, na aquisição de medicamentos.”

Ao tecer essa consideração da melhoria das estratégias, faltou para nós objectos dessas estratégias de ouvir a Senhora Ministra dizer quais as estratégias que são predominantemente fracas e por conseguinte constituem ameaças e desse modo sujeitas a saneamento ou as estratégias fortes a partir das quais se possam constituir em oportunidades de melhoria e de expansão.

A melhoria do saneamento básico nas comunidades, continuou a Ministra, levará a redução de doenças, ficando deste modo, para as unidades sanitárias tratar as doenças crónicas, vítimas de acidentes e outras complicações, evitando investimentos avultados na medicina curativa.

Quanto a problemática da insuficiência de técnicos nas unidades sanitárias, a Ministra Sílvia Lutucuta disse ser uma questão nacional, acrescentando estar a trabalhar na formação dos quadros já existentes, para melhorar a qualidade no atendimento dos enfermos.

Em suma a Ministra da saúde disse que o problema do Bié é o que se passa no país e portanto a Governação não é responsável pelo status quo.

Esse tipo de reporte já não dá para os tempos actuais. Se pretende objectividade e transparência. Dizer-se que está a trabalhar na formação dos quadros já existentes para a melhorar a qualidade no atendimento dos enfermos é somente retórica, primeiro porque a qualidade de atendimento não está somente no problema da formação mas fundamentalmente nos câncer e toxinas internas que existem na instituição.

Não foi concreta na sua exposição porque não fez nada, porque o tempo não lhe dava mesmo para fazer ou ver quase nada. Então porque que foi ao Bié?

Sua visita me pareceu sim uma tentativa de lavagem da imagem, péssima opinião, comentário e impopularidade que o Governador do Bié arrasta precisamente sobre o sector de saúde na província onde a sua Clínica privada ganha centenas de milhões de Kwanzas precisamente pelo descalabro do sector de saúde na província que ele tinha e tem por obrigação de melhorar.


Sua visita para os menos incautos tentou mostrar um Governador preocupado com a situação de saúde da província que até conseguiu fazer trazer em pleno momento de férias do Executivo a Ministra de Saúde.

Porque que só ficou algumas horas para efectuar um diagnostico importante? Porque que só visitou as unidades do Trumba (30 minutos da cidade do Kuíto), Hospital Central e a unidade do Catemo (200 metros do aeroporto donde se seguiu seu regresso).

Porque que não foi visitar também algumas unidades hospitalares privadas e medir de sua comparticipação na melhoria da qualidade de saúde e no combate as diversas patologias?

Será que leu o diagnóstico anterior realizado e o estado de sua actualização ou seja melhorou e piorou porquê e como?

Porquê que não desmembrou a sua equipa de trabalho para outras unidades situadas em regiões mais longínquas?

Porque que não foi visitar las latarias incubadoras de la muerte (edifícios sanitários pré-fabricados em chapas de alumínio) que por indicação do Governador foram instalados em quase toda a província, mesmo se sabendo dos riscos que incorporava para invasão, proliferação e estacionamento de agentes bacteriológicos e outros nas unidades que não possuem um serviço permanente de climatização, de fornecimento regular de qualquer tipo de energia, de péssimo saneamento básico e de desinfestação periódica?

Porquê não fazer um rasteio pesticida e bacteriológico dessas unidades de pré-fabricado construídas, para se inferir da sua utilidade em termos de saúde pública, já que a sua cobertura oca e a natureza do material aplicado, pode propiciar a incubação de todo o tipo de agentes orgânicos nefastos a saúde.

Porquê que não foi ao Cuemba para ver o estado de construção do hospital geral daquele município e o escândalo que representa a sua situação?

Porque que não foi ao Hospital Central do Kuíto e perceber que gastos e acções foram feitos na era de Boavida Neto para o seu restauro, prometido com pompa e circunstancia 2012 para oito meses, para agora abdicar-se da sua recuperação e apostar-se para um outro novo fora do centro da cidade?

Tendo o hospital central do Kuíto suficiente e largo espaço para a sua expansão, porquê que se construiu no seu espaço um pomposo salão memorial que a quase um ano não entra em funcionamento? Não seria mais vantajoso e oportuno a aplicação dos fundos utilizados na extensão e melhoria do Hospital do Kuíto? Quer dizer vemos no mesmo quintal um hospital degradado com sinais externos visíveis de pouca e má atenção e logo ao lado um edifício novo, bonito e ainda por cima por funcionar que nada tem a ver com o serviço público de assistência sanitária.

No caso concreto do Bié não falou sobre o desaparecimento dos medicamentos, não falou do problema da progressão de carreiras um dos factores que está por detrás da falta de humanização na saúde, corrupção e improbidade no sector, não falou na qualidade da gestão das unidades sanitárias.

Ministra, Governador e Director do Hospital (lembremo-nos que estes dois últimos são sócios na maior e melhor clínica do Bié) falaram que a situação dos picos de malária nesse período das chuvas são maiores e por conseguinte a mortalidade aumenta.

Só esta constatação já era motivo para se verificar que algo estava mal na resolução desse problema. Todos os anos o fenómeno existe, existirá sempre e é esperado e não há um programa de continência para responder a uma situação naturalmente esperada.

Não seria a preparação de hospitais de campanha e consequentemente a constituição de todo um aparato de apoio técnico material e humano através de uma malha bem definida de unidades com transportes e comunicações funcionais constituiriam a forma mais eficiente para se responder a estas situações sazonais?

As unidades sanitárias têm que possuir um formato parecido com o das empresas públicas, com a existência de vogais não executivos e conselho fiscal.

As unidades hospitalares têm que possuir os seus relatórios de exercício e contas com auditoria externa. Só assim é que podemos evitar que equipamentos completos, utensílios ou materiais sanitários tenham descaminho, má uso ou vão impunemente desviados para unidades sanitárias privadas ou no mercado paralelo.

Lembro-lhe que um diagnóstico faz-se seguindo as seguintes premissas:


1. Deve-se justificar do porquê do diagnóstico.

2. A definição dos objectivos que se pretende alcançar.

3. A determinação dos pontos focais.

4. E por fim a metodologia a aplicar constitui as diversas técnicas, métodos ou caminhos que se utilizarão para a obtenção do conhecimento do(s) assunto(s) a diagnosticar.

Aqui tem de se ter em conta para se iniciar:

1. o último diagnóstico realizado e o estado de implementação das medidas propostas para se inferir do estado de sua actualização, de melhoria ou de saneamento.

2. A utilização da matriz swot para a determinação dos pontos fortes e oportunidades, fracos e ameaças.

3. A análise do ambiente interveniente no diagnóstico, ou seja o interno (estado da organização) e externo (demanda e resposta a demanda)

4. E por fim visitas de observação visual, reuniões e análise de dados.

Não me parece que durante as poucas horas que esteve no Kuíto-Bié conseguiu cumprir esse formato.

O senhor Governador Boavida Neto afirmou também durante o encontro que desde o início sua governação tem pautado por prestar maior e especial atenção aos sectores da saúde e de educação, pois segundo ele é a partir desses dois sectores que tudo o resto vem por arresto. Está muito enganado.

As condições de educação e de saúde arrastam-se positivamente com a redução da fome e da pobreza uma assimetria social que está no topo da curva assimétrica, através do crescimento do emprego pois dele é que aparecem os rendimentos nas famílias e nos cidadãos para melhorarem as condições de vida. Fazendo-se crescer o emprego, a economia e os rendimentos crescem e consequentemente a utilização desses recursos para a melhoria das condições de vida pelos cidadãos surgem de per si (não mais casa de capim, energia mesmo de gerador, ventoinha, televisão, etc, etc). Por isso senhor Governador está muito enganado. Faça crescer a economia e terá a partir das finanças locais as receitas necessárias para avançar para a acção social e outras.

Um dos aspectos muito importante na realização desses diagnósticos é o encontro com a sociedade civil representativa do sector. Sendo parte da solução, pois constituem o objecto da acção, a participação da sociedade civil nesses diagnósticos é fundamental para a ilustração daquilo que se deve corrigir ou melhorar.

E nessa sua visita, Vossa Excelência senhora Ministra passou de lado desse imperativo que constantemente o Presidente da República enfatiza na maior parte das suas intervenções. Os farmacêuticos, os enfermeiros e outros agentes civis esperavam por este momento para apresentarem as suas preocupações e sugestões. Viram-se defraudados. Até a imprensa local.

Espero que esse sua coibição não tenha sido decorrente de conhecer muito bem e desde a infância um velho amigo e família por afinidade, o Governador do Bié, que foi seu 1º Secretário da JMPLA no Huambo onde a senhora Ministra também pertenceu.

Estamos atentos Senhora Ministra para algumas acções de branqueamento de imagem de amigos ou conterrâneos em apuros. Não se venha com truques de cafuringa. Estamos muito atentos.

Senhor Presidente João Lourenço esteja atento. Foi avisado que era um grande risco a recondução de certas pessoas para a realização de objectivos que anteriormente foram responsáveis directos pela sua não implementação e fracasso. Pediu o apoio de todos nós. Estamos a fazê-lo. O desapontamento e a desilusão são dos piores sentimentos quando ocorre quebra de confiança que se foi dada porque promovem uma reacção diametralmente oposta a esperada. Com os olhos bem abertos estamos a fazer o que nos pediu. Continue e faça a sua parte porque somos consigo milhões e contra milhões ninguém combate quem tentar será vencido.

Para quando o corrigir o que está mal e melhorar o que está bem no Bié? Alguém já clamou isso.