Luanda - O deputado à Assembleia Nacional pelo MPLA Vicente Pinto de Andrade (VPA) esteve no centro de uma polémica quando, há dias, disse que seria objecto de «Chacota» caso entrasse com o seu «modesto» Hyundai Accent no Parlamento, em contraste com os Lexus dos seus colegas. Para ele, a fraca qualidade do seu carro não ajudava a dignificar a instituição que representa…

Fonte: Ilidio Manuel

Não fosse o cenário de grave crise económica e financeira que assola o país, julgo que esta questão do «luxo sobre 4 rodas» seria pacificamente aceite pelos contribuintes. Não faz sentido os deputados e governantes pedirem sacrifícios à «populaça» para que esta aperte o cinto quando eles não constituem nenhum espelho de virtudes em matéria de contenção de despesas.


Do meu de vista, não cairiam o Carmo e Trindade se aos nossos parlamentares fossem-lhes atribuídos jipes de marca Toyota Land-crusier-V 6 ou 8 ou carros próximos dessa qualidade, de preferência a gasóleo.


Estive hoje a reflectir sobre uma conversa que travei há anos com um ex-ministro angolano sobre os sinais exteriores de riqueza dos nossos governantes e políticos.


A pessoa em causa, cuja identidade prefiro não revelar, confidenciou-me que alguns ministros angolanos tinham por hábito comparar a qualidade dos seus fatos, sapatos e relógios que usavam, sobretudo quando se deslocavam ao aeroporto «4 de Fevereiro» para a apresentação de cumprimentos de despedida ou recepção ao PR. Quanto mais caros eram as indumentárias e os acessórios que exibiam, maior era o «arzito de superioridade» de uns em relação aos outros…


O luxo e a exteriorização dos sinais exteriores parecem que estão na massa do sangue dos nossos governantes.


Logo a seguir ao fim de guerra de 2002, recordo-me que algumas delegações de governantes angolanos surpreenderem os altos funcionário do FMI com os quais estavam a negociar, em Washington, os pacotes de financiamentos para a reconstrução nacional do nosso país. Só o valor do fato, «pisos/sapatos», relógio, mascotes de ouro de um governante angolano era superior ao valor de todos os fatos, sapatos e relógios dos seus interlocutores… Diante de tanta riqueza dos «pobres» pedintes angolanos, os «pulas» ficaram na dúvida se o dinheiro a arrecadar seria mesmo usado para o benefício do povo ou para outros fins menos nobres…
De facto, estes hábitos e costumes dos nossos governantes envergonham-nos, sobretudo fora de portas, sendo nalguns casos uma caricatura da burguesia colonial.


Quando num país os governantes acham que devem ser valorizados/dignificados pelos sinais exteriores de riqueza, é caso para dizer que esse país já bateu ou está em vias de bater no fundo do poço…