Windhoek - O Presidente da República, João Lourenço, rendeu hoje, sexta-feira, na capital namibiana, homenagem aos mais de 600 refugiados namibianos, na sua maioria crianças e mulheres massacradas nas localidades de Cassinga e Chetequera, no interior de Angola, pelo então exército racista sul-africano do Apartheid.

Fonte: Angop

O Chefe de Estado angolano depositou uma coroa de flores no Monumentos dos Heróis, em Windhoek, em companhia do seu homólogo namibiano, Hage Geingob.

Considerou o massacre de Cassinga como sendo um acto hediondo que ceifou a vida de mais de 600 pessoas, maioritariamente mulheres e crianças indefesas e inocentes.

“Este foi mais um episódio trágico da vossa história que, apesar de gratuito e bárbaro, não foi suficiente para travar o ímpeto da luta que vos conduziu à victória contra a ocupação colonial no regime do Apartheid”, expressou.

O Monumento dos Heróis, na capital namibiana, esteve engalanado a preceito para acolher o acto central das comemorações do massacre de Cassinga.

O acto foi marcado por uma peça que demonstra a ocorrência do massacre, hino pelo coro dos angolanos e por um desfile militar.

O massacre de Cassinga por dentro

Ao massacre de Cassinga o regime de apartheid chamou-lhe “Operação Reindeer”. “Reindeer” significa rena, mamífero frequente na América do Sul, conhecido por caribú. Foi a segunda grande operação militar da África do Sul, depois da “operação savana”.

O ataque foi perpetrado pelo Exército sul-africano contra um campo de refugiados namibianos no dia 4 de Maio de 1978, faz hoje (sexta-feira) 40 anos.


O comandante do massacre, o coronel Jan Breytenbach, do Batalhão 32 “Búfalo”, escreveu um livro, no qual diz que o massacre de Cassinga foi para si “um dia de glória e de vergonha” e não esconde as suas simpatias com o nazismo de Hitler. Breytenbach deu ao livro o título “Eagle Strike” (Golpe da Águia).

De acordo com fontes militares, o olhar da águia é “altivo e penetrante” e ela “só depende de si para obter dados em três dimensões que lhe permitem preparar-se para caçar com total eficiência”.

Por analogia, o apartheid na RSA tinha a rede secreta “SIGINT”, instalada no Malawi, na Rodésia e nas Comores que “trouxe à tona a importância que Cassinga tinha para os namibianos”.

Porquê Cassinga


Cassinga era uma zona por onde passavam os refugiados, como aqueles que escapavam do regime racista do apartheid vigente no Sudoeste Africano (actual Namíbia).


O Massacre de Cassinga começou na manhã do dia 4 de Maio de 1978. Foi a segunda grande operação militar da África do Sul em Angola, depois da “Operação Savana”, intervenção das SADF para impedir a independência de Angola entre 1975-76 e que se tornou responsável pelo desencadear da guerra em Angola que apenas terminou a 4 de Abril de 2002.

O massacre passou por dois ataques distintos: o Campo de Refugiados de Cassinga e delegação da SWAPO em Chetequera, a 250 quilómetros e 15 quilómetros da fronteira Sul, respectivamente.

A operação sul-africana consistiu, em primeiro lugar, num ataque pelo 2º Batalhão de Infantaria Sul-Africano às delegações da SWAPO em Chetequera e Dombondola, perto da fronteira entre a Namíbia e Angola. Em segundo lugar, um ataque pelo 32º Batalhão à sede da SWAPO em Omepepa-Namuidi-Henhombe, 20 quilómetros a Leste de Chetequera.


Finalmente, o grande massacre foi realizado por pára-quedistas das SADF a Cassinga, um campo de refugiados e sede regional da SWAPO, situado a 260 quilómetros no interior de Angola. Os ataques duraram seis dias e só terminaram a 10 de Maio de 1978.

As valas comuns


A ideia de que Cassinga era um campo militar quase passou, não fosse o trabalho desenvolvido por uma equipa das Nações Unidas que se deslocou ao local do massacre, a pedido do Governo de Angolano e da SWAPO.


Foi a ONU que levou as primeiras imagens da enorme vala comum onde jaziam os corpos de mais de 400 homens, mulheres e crianças”, descreve um militar angolano que se dedica às questões da Defesa.

A jornalista Jane Bergerol, do jornal “The Guardian”, foi das primeiras pessoas que estiveram no local e fotografou a vala. Jane acompanhou toda a fase da guerra de desestabilização da África do Sul contra os Estados da Linha da Frente e a luta anti-apartheid dirigida pelo ANC.


Quando viu a realidade em Cassinga, horrorizada, disse: “A primeira coisa que vi foram vestidos e blusas coloridas, calças ‘jeans’ e camisolas e muito poucos uniformes. Havia sinais de que estas roupas vestiam as pessoas que estavam aí mortas. Inchados e manchados de sangue, estes corpos pertenciam a raparigas e rapazes jovens, alguns homens adultos e alguns adolescentes, todos aparentemente chegados da Namíbia”.


Na fotografia ilustrada no trabalho de Jane Bergerol, que foi publicada no “The Guardian” de Londres de 10 de Maio de 1978, a legenda é a seguinte: “Vala comum contendo mais de 400 corpos de namibianos massacrados pelas tropas sul-africanas. Fotografia tirada quatro dias depois do ataque”.