Luanda - Às crescentes manifestações de descontentamento popular que perpassam o país, com inevitáveis ecos no seu interior, o MPLA responde com duas armas que maneja com inigualável perícia: a manha e a astúcia.
Para abafar o descontentamento?
"certificado assinado pelo camarada
Já posso morrer!"
Esta semana foram chamados ao Comité Provincial de Luanda centenas de quadros intermédios do MPLA para lhes serem atribuídas medalhas e certificados de mérito.
Remédio santo! Quem entrou no CPL do MPLA com a testa franzida saiu com um largo sorriso a rasgar toda a boca. Criado em 2006, quando o MPLA completou 50 anos, o certificado distingue os militantes pela sua ‹‹conduta exemplar e o empenho demonstrado na defesa dos ideais partidários e dos mais legítimos interesses do Povo angolano.›› Assinado pelo punho do líder do partido, o certificado provoca sobre os militantes que o recebem efeito semelhante ao de um poderoso analgésico.
‹‹Vai ficar pendurado na sala de estar. A foto da família pode ir para o quarto››, disse ao Semanário Angolense um orgulhoso militante. Um outro vai mais longe, dizendo que a sua missão na terra está cabalmente cumprida.
‹‹Ter um certificado assinado pelo camarada presidente é tudo o que um militante do MPLA pode querer. Já posso morrer!›› Quando confrontado com as dificuldades por que passam, por exemplo, os hospitais públicos, esse militante do MPLA reage: ‹‹ah, este povo também é muito impaciente. Não estão a ver que o governo está a trabalhar?›› Amigo do Semanário Angolense, esse militante do MPLA, que não pode ser identificado por razões óbvias, habitualmente tem um discurso bastante crítico para aquilo que lhe parecem ser as zonas menos claras na gestão do país.
Mas após ser distinguido, na segunda-feira, c om a m edalha e o certificado, ele não trocou de casaca, mas o seu discurso sofreu uma importante inflexão. ‹‹É preciso ser paciente. Também é preciso entender que os nossos governantes estão a ganhar experiência governando. Por isso, é natural que cometam algumas falhas›.›
É caso para dizer que o MPLA acertou na mosca: as medalhas e os certificados funcionam como que poderosos calmantes. Por ora, o descontentamento interno está controlado. Além disso, os militantes distinguidos não perdem de vista que as medalhas não são sua propriedade definitiva. A direcção do partido estabeleceu critérios que lhe permitem retirá-las aos militantes que se ‹‹portarem mal.››
* Foto: SA
Fonte: SA