Luanda - A “guerra” entre o actual e a ex-PCA do Conselho de Administração da Sonangol parece não ter fim à vista. Depois de haver defenestrado vários quadros colocados da companhia colocados por Isabel dos Santos, Carlos Saturnino tem agora um novo foco, com supostas ligações à sua antecessora. Trata-se de Tomás Faria, um dos poucos líderes dos distintos braços da petrolífera estatal que a primogénita do anterior presidente da República não pôs a correr na sua saga de rompimento com o passado, que levou muita gente para as ruas da amargura.

Fonte: Club-k.net

Petro-Atlético de Luanda é o novo campo

A manutenção de Tomás Faria à frente dos destinos do Atlético Petróleos de Luanda é tida como sendo resultado de laços fortes a uni-lo a Isabel dos Santos. A verdade, porém, é que antiga “patroa” da Sonangol entendeu que para a consecução dos seus desígnios no clube “amparado” pela companhia não precisava desfazer-se do homem. Bastava baixar ordens que seriam cumpridas como, aliás, todo o mundo fazia, num contexto de complicadas “amarras” políticas, até gora difíceis de desfazer.

 

Na jogada está o embaixador Hermínio Escórcio, o homem que “matou” o histórico e emblemático Clube Atlético de Luanda (CAL) – um alfobre do nacionalismo angolano – para fundar o Petro-Atlético de Luanda, em resultado da fusão do Grupo Desportivo da Sonangol, Benfica de Luanda e o CAL. O diplomata que nos primórdios da independência foi chefe de protocolo do presidente Agostinho Neto tem “enchido” os ouvidos de Carlos Saturnino, apontando Tomás Faria como próximo de Isabel dos Santos, uma conversa com contornos de intriga palaciana.


A “queixa” do “Dono do Petro”, como também é conhecido Hermínio Escórcio, tem outras motivações. Uma é o facto de um amigo seu de longa data, no caso Alfredo Soares, ter ficado fora da lista concorrente à eleição, onde seria “acomodado” no posto de vice-presidente. Para Hermínio Escórcio, a não inclusão do “amigo do peito” tem as impressões digitais de Tomás Faria, que supostamente terá influenciado Isabel dos Santos para o efeito. Alfredo Soares já lá esteve como “vice” nos consulados presidenciais de Paulo Gouveia, Alberto Cardoso Pereira, Mateus de Brito e do próprio Tomás Faria. Então, também foi imposto pelo embaixador que é co-fundador do Petro-Atlético de Luanda. O problema é que o indefectível do antigo director-geral da Sonangol conta já com respeitáveis 82 anos, idade que lhe devia aconselhar a ficar mais tempo a passar a sua experiência de vida a netos e bisnetos ou a escrever as suas nebulosas memórias. Ao afastá-lo, aliás, da lista concorrente de 2016, Isabel dos Santos teve exactamente em atenção a idade do ancião.


O curioso é que Alfredo Soares já faz parte de uma estrutura do clube. Ele é administrador da SIGESP, a empresa criada com fundos da Sonangol administrar os negócios do Petro – entre outros, gere postos de abastecimento de combustível e a loja de merchandising – mas está em falência técnica. Como é óbvio, chegou ao topo daquela que seria a “galinha dos ovos de ouro” por intermédio do amigo Hermínio Escórcio, ele que também vem dizendo em conversas privadas que ainda tem muito para dar à diplomacia angolana e, por isso mesmo, gostaria de ficar mais tempo no cargo de embaixador.

 

Além de não ter “engolido” a desfeita de Isabel dos Santos que em vária ocasiões recusou-se a recebê-lo para “tratar de assuntos do Petro”, ao contrário do que aconteceu com Tomás Faria, há mais outra razão de monta para Hermínio Escórcio insistir na defenestração do presidente “tricolor”. É o “não” que ouviu ao seu pedido para que o clube comprasse três carrinhas a fim de dá-las à empresa Largás, onde é sócio do amigo Alfredo Soares.


Agora a bola está na posse de Carlos Saturnino que, neste caso, pouco ou nada pode fazer em razão de a direcção do clube ter sido eleita democraticamente e o mandato ir até 2020. Mais: o PCA da Sonangol, que desde Abril último tem este dossier em cima da sua mesa de trabalho, só pode “mexer” nos órgãos sociais se houver um grave ilícito como desvio de dinheiro ou algo parecido. Mas este é um cenário pouco provável, à luz da reestruturação financeira que fez no clube, ainda na vigência de José Maria de Lemos como “Número 1” da petrolífera nacional.