Luanda - A consultora de risco EXX África diz que os investidores tem preocupações com a corrupção “entranhada” em Angola e o estado persistentemente fraco da economia. A EXX acredita que a “lua de mel” de João Lourenço “acabou”.

 

Fonte: Jornal Mercado

Em comunicado enviado esta quinta-feira, dia 23 de Agosto, às redações, sobre o relatório com as perspetivas no risco de investimento em Angola, a consultora EXX África acusa João Lourenço, eleito Presidente da República há precisamente um ano, de se aproveitar de uma premissa anticorrupção em proveito próprio, face aos 38 anos no poder de José Eduardo dos Santos.

 

Das medidas tomadas por Lourenço na luta contra a corrupção, que procuravam colocar um fim no monopólio nas várias indústrias, os casos seguidos pelo Governo “foram motivados politicamente”, o que permitiu a remoção de críticos e que demarcasse o seu território político, refere a EXX Africa.

 

“A elogiada posição anticorrupção do Presidente Lourenço é mais indicativa de ataques concertados para desmantelar as influências do seu antecessor e consolidar um poder absoluto sobre as instituições políticas de Angola, do que de tentativas de reformas significativas”, acrescenta a consultora, que exemplifica com o setor petrolífero e a Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol).

 

“Esta situação é evidente no setor petrolífero, onde o Governo tem sido relutante em perseguir reformas necessárias”, alerta.

 

João Lourenço é ainda censurado por nomear personalidades associadas a corrupção e a má gestão para importantes posições de governo, como o caso do ex-vice-Presidente da República e antigo presidente do conselho da administração da Sonangol, Manuel Vicente.

 

“O aumento dos preços dos alimentos, frequentes greves e cortes no setor público estão a provocar protestos e aumentam o risco de tumultos nas cidades de Angola. Se o Governo do Presidente Lourenço não se comprometer em breve com uma ampla reforma do setor petrolífero e um gestão fiscal prudente, além de abraçar ativamente as iniciativas de transparência, as perspectivas de investimento para Angola deverão deteriorar-se drasticamente à medida que os investidores perdem a fé na administração da economia por Lourenço”, refere a EXX Africa.

 

O relatório considera ainda que o investimento em “elefantes brancos” – como a construção de um novo aeroporto internacional de Luanda, iniciada há mais de uma década e com conclusão prevista apenas para dentro de dois anos – em detrimento da construção de grandes projetos de infraestruturas afetam a conceção de João Lourenço como reformista e transparente.

 

O financiamento externo, essencialmente pela China, também não passou ao lado das críticas da EXX Africa.
A consultora aponta que os “milhares de milhões em financiamento de bancos chineses” irão servir para a “expansão de infraestruturas e para manter as finanças à tona”, com a previsão de ter uma dívida à China maciça.

 

Para a consultora, se o Governo de João Lourenço não se comprometer a realizar uma reforma severa do setor do petróleo e a gerir de forma prudente as suas finanças, a perspetiva de investimento irá “deteriorar gravemente”, com os investidores a “perderem a fé” na administração da economia pelo Presidente.

 

General na reserva e ex-ministro da Defesa, João Lourenço já afastou várias figuras próximas de José Eduardo dos Santos de cargos relevantes no Estado, nomeadamente os seus filhos, Isabel dos Santos, da Sonangol, e José Filomeno dos Santos, do Fundo Soberano de Angola.