Luanda - Honra deve ser dada a quem merece. As homenagens geram sempre polêmica quando a gênese do problema não é conhecido. Com a passagem de testemunho de JES para JL na transição geracional no Estado em 2017 e a 8 de Setembro de 2018 no Partido, se conclui uma fase da geração dos nacionalistas para os combatentes da liberdade.

Fonte: Club-k.net

"MÁRIO PINTO DE ANDRADE FOI UM PRESIDENTE PROVISÓRIO"

JES representa bem esta transição por ter vivido a crise de 1962/63 do conflito entre Viriato da Cruz, MARIO PINTO DE ANDRADE com Agostinho Neto, Kilamba Kiaxi e fundador da Pátria Angolana. Ouvimos críticas infundadas sobre a cronologia da liderança do MPLA, questionando quem foi o primeiro Presidente do MPLA? O Partido iniciou sua actividade com o Manifesto de 1956 e organizou-se em 1960 com a liderança provisória de Mario Pinto de Andrade que durou até 1962 com a eleição de Agostinho Neto, depois da sua libertação e fuga para Marroco e depois RDC. A fonte é directa.

Disse Mário Pinto de Andrade na entrevista à Michel Lavam, em 20 de Junho de 1987,pág. 179:
(...)
Com a vinda de Neto, organizamos uma conferência Nacional. Foi o acontecimento mais importante do ano de 1962. Era claro que no decurso desta conferência Nacional o Presidente a eleger era Agostinho Neto. Dei o lugar voluntariamente. Considerei sempre que o meu lugar era provisório, que eu era um presidente interino, porque já no momento em que tínhamos começado a nossa acção política_ desde Conacry no ano de 60_ Neto era, internamente, o homem capaz de reunir as organizações que deviam exprimir-se em nome do MPLA. Ele foi preso alguns meses mais tarde, em 1960.

Era portanto natural que, de regresso da prisão, ele retomasse a função que devia ser a sua internamente.
(...) Do meu ponto de vista, isto não punha problemas; mas, do ponto de vista de alguns dos nossos camaradas, como Viriato da Cruz, isto punha problemas. Nós tivemos, portanto, uma crise interna_ antes mesmo da conferência de 62_, o que foi um factor negativo. O Secretário-geral do movimento, Viriato da Cruz, opôs-se_ mais por razões psicológicas que, verdadeiramente, por questões politicas, de escolha, de opções _ à direcção, à função que deveria ser a de Agostinho Neto. (...)


Da fonte supra citada concluímos que Neto foi sempre o líder do MPLA segundo o Mário Pinto de Andrade com quem até se incompatibilizou por este não ter aceite a criação de uma frente de libertação comum com outros Movimentos. Nunca houve omissão ou negação do papel de outros intelectuais que contribuíram para organizar a luta como António Jacinto, Lucio Lara na sua vocação organizativa ou de massificação e merecem toda estima. Mas líder que galvanizou e popularizou a luta para o interior foi Neto, morreu em 1979 depois de uma crise em 27 de Maio de 1977 de má memória e polêmica sobre as sanções e excessos ou abuso naquele período que dividiu o País e traumatizou o Partido, por isso, ele nunca teve a merecida homenagem, pareceu-me. No entanto, vale tarde do que nunca. No render da Guarda ou gerações no Partido. Claro que devia haver precedência, mas as circunstâncias não permitiam em reconciliação e reconstrução para criarem-se as bases democraticas e plurais e também, já terem decorrido mais de trinta anos para o fim do segredo de Estado.


Não é por isso, correcto negar a liderança galvanizados de Agostinho Neto ou Presidente Agostinho Neto que faleceu em funções no Estado e no Partido. Já era Presidente Honorário antes de ser formalizado ou eleito. Por isso, o Título Emérito é-lhe merecido ontem, hoje ou amanhã. Antes de Neto, o MPLA existia sim mas ele era o líder espiritual que, não o exerceu por ter sido preso em 1960, mas já era o líder honorário por direito. Ele foi eleito em 1962 ocupando o seu lugar por ser ele o destinado a liderar a luta pela Independência. Cuidemos da sua honra e dos seus familiares em gratidão de tudo quanto não podemos pagar...

JP