Luanda - O Tribunal Provincial de Luanda condenou está terça-feira, 04, os réus Edson Ernesto Fútila e Sílvio Massango, a 21 anos de prisão por terem assassinado, em Janeiro desde ano, Osvaldo Narciso, enteado da irmã do ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos, por causa de uma viatura de marca Jaguar que pertenceu à vítima.

Fonte: NJ
Segundo a sentença lida pelo juiz da 14.º Secção de crimes comuns do Tribunal Provincial de Luanda, João Paulino, foram ainda condenados na pena de 16,6 anos de prisão os réus Amadeo Joaquim e Evénio Pontes, ambos por cumplicidade nos crimes de homicídio qualificado, roubo e posse ilegal de arma de fogo.

Do acórdão, ficou expresso que os quatro condenados vão pagar uma multa de um ano, no valor de 40 kz por dia, e 180 mil kwanzas de taxa de justiça, bem como 20 milhões de kwanzas a título de indeminização à família de Osvaldo Manuel Pacavira Narciso "Maju", como era conhecido, que deixou três filhos uma viúva.

"Desde o dia 22 de Janeiro de 2018, em virtude da vossa acção, ficou uma família desprovida de pai, viu-se diminuída uma pessoa jovem, tal como vocês, e de quem se esperava muito, assim como a sociedade espera de vocês. Por isso, pedimos que reflictam bastante na vossa conduta e o tempo em que permanecerem na cadeia os ajude a meditar, e quando retornarem à liberdade, retomem como pessoas renovadas e não como pessoas que causam terror como foi o caso ", disse em jeito de conselho o líder do colectivo de juízes que produziu este acórdão.

Ludevino Neto, sogro de Osvaldo Narciso "Maju", disse ao NJOnline que foi feita justiça na medida daquilo que é do conhecimentos do colectivo de juízes do Tribunal Provincial de Luanda.

"Nós julgamos que apena devia ser mais agravada, porque eles premeditaram o crime e tiveram tempo de se arrependerem. Por isso acho que tinha que ser mesmo a pena máxima, visto que a família perdeu um pilar, fundamentalmente a sua mãe, que recebia da vítima um apoio muito grande e que nessa altura é irreparável a perda", explicou.

Entretanto, a viúva de Osvaldo Narciso, Tânia Maria Narciso, que acompanhou a sentença, banhada em lagrimas, bem como o advogado da família, António Joaquim, e parentes próximos, não quiseram prestar declarações à imprensa.

De recordar que os réus, agora condenados, foram julgados nos crimes de homicídio qualificado, roubo qualificado, ocultação de cadáver e posse ilegal de arma de fogo.

Segundo a acusação do Ministério Publico (MP), o arguido Edson conheceu Osvaldo Narciso em 2017, que na altura se encontrava a vender uma viatura de marca BMW. Edson mostrou-se interessado em comprar a referida viatura e depois de alguma negociação entre ambos comprou-a, num valor não esclarecido nos autos.

O MP conta que, enquanto negociavam, Edson apercebeu-se de vários aspectos sociais da vida de Osvaldo Narciso, que era detentor de várias viaturas de alta cilindrada e que parqueava as mesmas no parque do edifício D3, no Condomínio Dolce Vita, no município de Talatona.

"Edson percebeu que Osvaldo possuía assessórios caríssimos e de moda, como telefones, pulseiras, relógio etc. E que habitualmente guardava grandes somos de dinheiro no interior das suas viaturas", descreveu representante do MP, José Maria Gustavo.

Com o desejo de obter os bens alheios, segundo a acusação, em data não esclarecida, Edson Fútila contactou Sílvio Massango, mais conhecido como "Bobinho", e ambos arquitectaram o esquema do crime. "Edson e Sílvio decidiram adquirir uma arma de fogo, de forma a concretizar o assalto. Edson contactou o seu amigo Amadeo Joaquim para que esse arranjasse uma arma de fogo para realizarem o assalto", continua a descrever.

O reu Amadeo Joaquim contactou, por sua vez, sempre segundo o relato da acusação, o seu amigo Evénio Pontes, agente da Polícia Nacional, destacado nos serviços de guarda-fronteira, e informou-o que tinha um amigo que pretendia obter uma pistola e este o vendeu-lha no valor de 80 mil kwanzas.

Segundo o MP, na altura que era feita a compra da pistola, Amadeo e Evénio ainda propuseram a Edson que poderiam realizar o assalto e a eliminação física da vítima pelo preço de 20 milhões de kwanzas. Mas Edson negou-se a pagar.

No dia 22 de Janeiro, para além da arma, os dois arguidos muniram-se de duas seringas contendo águas de bateria e um capacete de motorizada com a viseira do capacete pintada em preto para não serem identificados, refere a acusação. Com os meios citados, Edson e Sílvio deslocaram-se ao, edifício D3, no Condomínio Dolce Vita, em Talatona.

No prédio, os acusados entraram a bordo de uma viatura Hyundai i10 e dirigiram-se para o estacionamento, onde estavam os veículos Jaguar, modelo FX, Toyota Land Cruiser, modelo Prado e um Lexus 570, todos pertencente a vítima.

"Os dois culpados apropriaram-se do Jaguar e ao revistarem o mesmo encontraram sacos e caixas com dinheiro no valor de 8,4 milhões de Kwanzas. Ambos retiraram os valores e levaram para o veículo em que se faziam transportar, enquanto aguardavam a chegada da vítima", salienta José Maria Gustavo, acrescentando que, "minutos depois, Osvaldo Narciso entrou para o estacionamento a bordo de um Mitsubishi Pajero, e, ao descer, foi surpreendido pelos dois, tendo Edson injectado uma seringa com água de bateria na zona lombar", contou o MP acrescentando que, a vítima debatia-se muito e gritava por socorro.

Edson e Sílvio usaram a superioridade numérica "e desferiram vários socos, pontapés, golpes com a cronha da arma atingindo-o na cabeça e noutras partes do corpo".

Segundo consta dos autos, a intenção de ambos era atirar o corpo da vítima para um rio ou para o mar de forma a não deixar vestígio. Assim sendo, os réus colocaram o corpo de "Maju" na parte traseira do Toyota Land Cruiser e levaram-no até às imediações da Centralidade do Kilamba, onde pensavam que existia um rio.

Já próximo da Centralidade do Kilamba, os acusados visualizaram um cidadão a bordo de uma motorizada carregando consigo um vasilhame de cinco litros de combustível. "Prontamente Edson e Sílvio tiveram a ideia de queimar o corpo da vítima, para isso pagaram cinco mil kz ao motoqueiro e levaram o corpo para uma área muito isolada e tentaram carbonizá-lo, mas o isqueiro da viatura de Osvaldo Narciso não acendia".

Como se fazia tarde, os mesmos abandonaram o corpo no local e dirigiram-se até uma das ruas do Largo Patriota onde se desfizeram do material do crime.

Abandonaram a viatura da vítima na via pública e ambos regressaram ao condomínio Dolce Vita, de táxi personalizado, e retiraram os mais de oito milhões de kz que haviam deixado no carro em que se faziam acompanhar, detalhou o Ministério Público.

Dirigiram-se novamente ao Largo Patriota onde fizeram a divisão dos bens furtados, tendo o arguido Edson Fútila ficado com o Jaguar FX mais 7,4 de milhões de kwanzas e outros meios. O réu Sílvio Massango ficou com a quantia de um milhão de kwanzas, com a qual comprou um telemóvel no valor de 700 mil kwanzas.

Entretanto, os familiares de Osvaldo Narciso, preocupados com o seu súbito desaparecimento, foram fazendo diligências para localizá-lo, sendo assim que constataram que Edson Fútila estava na posse da viatura Jaguar FX, carro preferido da vítima. Inconformados, os parentes de Osvaldo Narciso levaram Edson à polícia, onde acabou por confessar o crime.

Recordar ainda que no primeiro dia do julgamento, Edson, foi questionado pelo juiz porque matou Osvaldo Narciso, na altura o condenado limitou-se a responder em tom baixo: "Não sei o que se passou na minha cabeça, ando arrependido e não quero lembrar mais disso. Me esta a fazer muito mal", disse na ocasião Edson Fútila, agora condenado a 21 anos de prisão.