Lisboa - A cultura da exclusão tem que ser banida de Angola, defendeu o nacionalista Adolfo Maria que esteve presente nas iniciativas para a formação do MPLA e em subsequentes lutas internas.

Fonte: VOA

Adolfo Maria fez também parte da chamada “Revolta Activa”, foi preso e e subsequentemente expulso do país.

Adolfo Maria participou no programa “Angola Fala Só” para discutir a história do MPLA tendo em conta que João Lourenço, quebrando um tabu dentro do partido, declarou-se como quinto presidente do MPLA.

Essa declaração foi um reconhecimento tácito de que no período anterior a Agostinho Neto tinha havido outros dirigentes do partido que estão a ser ignorados.

Adolfo Maria disse que, “do lado positivo”, João Lourenço com essa declaração “abre um debate”.

“Ou pelo menos diz: Afinal houve mais coisas do que aquilo que se propala”, continuou o nacionalista para quem "é bom que se discuta este e outros temas nacionais”.

Mas Adolfo Maria afirmou que na verdade antes de Agostinho Neto houve só um presidente do Partido (Mário de Andrade) pelo que João Lourenço é o quarto presidente do partido.

A confusão deve-se ao facto de se considerar Ilídio Machado como primeiro presidente quando na verdade nessa altura o MPLA não existia pois só foi oficialmente formado em meados de 1960.

Adolfo Maria explicou que a confusão com a existência de um quinto dirigente se deve ao facto de se querer apresentar a formação do MPLA em 1956, algo que se deve à luta pela legitimidade com a UPA (mais tarde FNLA) que reivindica ser o partido mais velho devido à data de formação de 1957.

“O que é certo é que essa data ficou consagrada como oficial”, garantiu.

“Quando se está num combate político a propaganda é diferente da verdade histórica”, recordo Adolfo Maria, lembrando que a dureza da luta não só contra a a potência colonial mas contra a UPA que “no terreno matava os nossos guerrilheiros”, bem como em fóruns internacionais em que se dizia mais representativa do que o MPLA.

Adolfo Maria disse que “o grande arquitecto do MPLA foi Viriato de Cruz” que viria morrer exilado na China, depois de subsequentes conflictos dentro do movimento.

O nacionalista concordou com um ouvinte ao dizer que “o nacionalismo angolano não se resumiu ao MPLA”.

“O MPLA é uma das componentes do nacionalismo angolano e nos primeiros anos da luta armada a supremacia no terreno era evidentemente da FNLA”, acrescentou.

Interrogado sobre a governação de João Lourenço Adolfo Maria disse que “há um outro clima, outro ambiente e os problemas discutem-se mais livremente”, acrescentando que no espaço de um ano o actual Presidente não pode resolver todos os problemas.

No programa, Adolfo Maria lembrou haver “sempre uma resistência a que a verdade venha ao de cima” e sublinhou que tinha havido “uma mitologia” para apresentar o MPLA como “única força” histórica.

Mas ´”é extremamente positivo” que se esteja disposto a discutir estas questões “porque antes isso nunca tinha sucedido”.

“A propaganda é diferente da verdade histórica”, assegurou Adolfo Maria para quem não deve haver “um ajuste de contas” em Angola.

“Isso só serviria para aprofundar fracturas que já existiam”, sublinhou

Interrogado por um ouvinte sobre se questões raciais não estariam na origem de se esconder a história do MPLA, o nacionalista disse que o partido era um movimento “mais transversal a toda a sociedade angolana, com mestiços e alguns brancos, o que tornava num alvo fácil de movimento de composição étnica” como a UPA.

“Os argumentos mais fáceis e mais mobilizadores são aqueles que vão mexer com ressentimentos”, afirmou.

“São argumentos populistas que não ajudam a avançar o pensamento mas que são muito utilizados e em várias fases também foram usados dentro do próprio MPLA”, acrescentou.

Interrogado sobre Nito Alves que foi morto após uma revolta de 1977, o nacionalista disse que “a estrutura de pensamento” de Nito Alves era a mesma do que os seus opositores com quem entrou em conflito.

Era a estrutura “de exclusão do outro”, concluiu Afonso Maria.