Londres - Dezenas de angolanos em breve, serão despedidos no Soyo do projecto ALNG. Olhando para os recentes conflitos laborais nos tribunais angolanos, e o contínuo despedimento dos quadros angolanos nas petrolíferas internacionais que operarem em Angola, como antigo expatriado europeu em Angola, e vendo meus ex colegas expatriados a manterem os seus postos por mais de 6 anos, acho que algo está errado com a angolanizacão.

Fonte: Club-k.net

Imaginem meu pavor, quando descobri que eu e meus colegas expatriados em Angola ganhávamos cinco vezes mais do que os angolanos e muitos deles educados no Ocidente como nós? Não só isso, nós recebíamos e recebemos todos os tipos de benefícios para os quais os angolanos não são elegíveis.

Nós tiramos um mês de licença; temos bilhetes de viagem anuais pagos pela companhia, para nós e filhos. Mas para os angolanos, só 30 dias faseados. No meu caso, a BP como entidade empregadora, pagava meu alojamento, seguro de saúde e até mesmo as propinas escolares dos meus filhos. Mas o caso que segui na época foi do angolano que era analista da área Comercial da BP que foi recrutado nos Estados Unidos, e que ficou na diáspora 20 anos.

Este regressou a Angola pela BP, com esposa e filhos menores de 5 anos, 30 dias depois, ele não consegue acomodação própria, e foi expulso da acomodação da BP no Bom Dia Visinho em Talatona por Mariano Manavela expatrido e seu team leader de nacionalidade Argentina e o Chris Spaulding expatriado Americano director da área comercial.

Estes, sem o aval do RH, serviram o angolano com uma carta de insubordinação. Foi graças à intervenção da Mary na época CEO da BP Angola e José Patrício, Presidente da BP Angola, que ele não ficou no relento com sua família. Isto arrepia qualquer ser humano. E este não é o único caso tribunal contra a BP e outras operadoras. Estou a preparar uma obra que vai trazer à tona o que se passa no sector dos petróleos e que a própria Sonangol como poderei provar não se apresenta santa.

Vejamos que este angolano e outros para nomear os poucos ( Francisco da Cruz, Kumba de Almeida, Samuel Chivukuvuku , Anderson Kamukolete, etc.) todos com MBAs, e habilidades e qualificações comparáveis, nenhum deles naquela época ganhava mais de cinco mil dólares americanos. Os expatriados acima mencionados, e eu, todos ganhávamos 5 vezes mais e mais os benefícios. Isto não é angolanizacão nem em forma, nem em justiça social num país soberano.

Eles fazem o mesmo trabalho e falam a língua local e também foram formados fora, se isso pode significar alguma coisa. Na verdade, os angolanos que acompanhei, entendiam melhor o contexto do seu trabalho do que seus colegas expatriados mais bem pagos.

Outro caso caricato, foi o despedimento em 2017 pela BP, de um expatriado em Luanda, que defendeu os Angolanos de sua equipa contra despedimentos. Seu caso está no tribunal de Luanda a ser representado pelo Advogado David Mentes.

Então, por que eles estão ganhando muito mais do que os angolanos e nada mudou até hoje em 2018? Pelo que minha investigação descobriu, em conversa com muitos angolanos que ainda estão na BP e noutras petrolíferas, isto tem haver simplesmente por causa da cor da pele, nacionalidade, ou então chamemos de racismo descarado. Os mais claros em todas as petrolíferas ( conforme a lista de salários a minha posse) ganham quase o dobro dos seus colegas angolanos. Isto é facto.

No sector dos petroleos em Angola, esta é a realidade. Que a BP, TOTAL, CHEVRON, ENI, e outros exploradores dos Angolanos, venham refutar está verdade. Que digam ao governo e aos Angolanos porque os funcionários locais recebem muito menos e recebem menos benefícios que seus colegas expatriados, mesmo quando fazem um trabalho semelhante e têm qualificações semelhantes.

Aqui até desafio o Sonangol a tornar públicos os custos e desperdícios de divisas gastas na formação de muitos angolanos no exterior, despesas pagas pela Sonangol, porque são “cost recovery”, pelas operadoras e dinheiro gasto nos seus países.

Estes despedimentos, tornam-se em um crimes económicos contra Angola, ao vermos hoje estes angolanos que foram parte das negociações das operadoras para ganharem os blocos, a serem mandados a rua, despedidos em nome dos cortes de despesas, enquanto os expatriados ainda estão empregados. Muitos deles comentam mesmo que o crude está a secar no Mar do Norte, e não podemos permitir que estes angolanos nos tirem os lugares.

Nos meus 7 anos, que venho a estudar os efeitos do hiato salarial entre o pessoal local e internacional em Angola como país de baixa renda, uma conclusão sempre fincou: há aqui indícios de sérias discrepâncias de desenvolvimento, que só prejudicam o desempenho destes angolanos por esse tratamento diferencial de sistema de salário duplo.

Os expatriados em Angola, geralmente são rápidos em dispensar os sistemas de salário duplo como um problema que não é problema. Mas os angolanos contaram-me uma história diferente. Eles disseram que as disparidades tem criado sentimentos significativos de injustiça no local de trabalho e descriminação. Eles se sentem menos valorizados do que seus colegas expatriados.

Foi assim que ouvi a história de Mário Cumandala que em 2008 decidiu com o encorajamento do então director dos recursos humanos Paulo Pizarro, levar a BP as barras do tribunal por discrepância de salários ( este em 5 anos teve o mesmo salário e sem promoção) quando no seu último ano através das negociações por ele dirigidas poupou a BP na área de seguros de energia para o bloco 31, cerca de Usd 17 milhões.

Hoje, 10 anos depois, o caso esta a apanhar poeira na segunda instância da justiça lenta angolana,. Facto que me apercebi é que a BP no decorrer do caso, até tentou recrutar o advogado Alfredo Atanásio representante do queixoso, isto é corrupção e duvido que a BP não está a corromper todos nós passados 10 anos.

Disparidades salariais e benefícios, são frequentemente um tópico tabu que nunca chega ao Conselho de Ministros, mas a lista salarial de muitas petrolíferas a minha posse, dão o respaldo de tudo que argumentei aqui.

Pesquisas socialmente responsivas e responsáveis, como o meu projeto em curso, podem “falar a verdade ao poder” da Cidade Alta que tem a obrigação de preparar e manter uma classe média forte angolana para desenvolver o país. Isto é especialmente importante porque o tratamento diferenciado entre trabalhadores expatriados e locais pode prejudicar os programas deste Executivo, tais como o combate a pobreza e transferência do know how.

Finalmente, se o novo executivo quer mesmo melhorias no tecido económico de Angola, aqui está uma área que deve merece atenção diferenciada e redobrada ,do que aquela que o Executivo anterior dedicava.


* analista de Petróleos