Luanda - O coordenador da equipa africana da consultora EY defende que Angola e Moçambique estão muito expostas a Portugal e Brasil e devem diversificar as fontes de investimento externo para não ficarem expostos às crises destes países.

Fonte: Lusa


Em declarações por telefone à Lusa desde Joanesburgo a propósito da divulgação do relatório sobre a Atratividade de África, divulgado na segunda-feira, Graham Thompson defendeu que "como as principais fontes de investimento vêm do Brasil e de Portugal, estão muito sujeitos às condições económicas desses países".

Para Graham Thompson, "Angola e Moçambique têm tido um volume de Investimento Direto Estrangeiro (IDE) relativamente baixo, o que se explica pela exposição às crises económicas dos principais países investidores".

Os dois países deviam "olhar de forma mais abrangente para o mundo, focando-se não apenas numa língua e cultura comuns, apostando por exemplo nos outros BRICS [sigla que representa a Rússia, Índia, China e África do Sul, além do Brasil], é aí que deve estar o foco".

O responsável da EY para África disse à Lusa que no ano passado Angola recebeu apenas dois projetos de IDE em 2017 e três em 2016, o que se explica pela "enorme dificuldade" de fazer negócios no país.

"Angola atrai pouco IDE e o que atrai é diminuto e muito ligado ao setor extrativo, que em Angola é o petróleo, porque tudo gira à volta do petróleo", disse Thompson, acrescentando que "não há quase nenhum investimento para setores ligados ao consumidor, como as telecomunicações, a banca ou a saúde, o que é muito diferente do resto de África, onde os investimentos estão a virar-se para os setores diretamente relacionados com os consumidores".

Questionado pela Lusa sobre as razões para este investimento externo reduzido, o responsável respondeu com o "ambiente muito pouco convidativo e as enormes dificuldades que os investidores têm de navegar para investir ou expandir as operações para o país".

Angola, continuou, "tem muito trabalho pela frente para ser mais competitiva, nomeadamente na burocracia, na abertura do mercado de capitais, e também em coisas tão simples como facilitar o pagamento de impostos e o repatriamento de dividendos, que são coisas que tornam o país pouco convidativo para receber investimento externo, e daí o volume baixo de IDE".

Sobre as reformas lançadas pelo Presidente João Lourenço desde o ano passado, Graham Thompson reconheceu o esforço, dizendo que "parece haver muito progresso em tentar resolver estas questões", mas alertou que "pelo menos durante mais um ou dois anos, no mínimo, continuará a ser muito difícil fazer negócios em Angola".

Sobre Moçambique, o responsável da EY elogiou o desempenho do país, lembrando os 11 projetos de FDI que recebeu no ano passado, apesar de serem menos que os 15 recebidos em 2016.

"Moçambique tem tido sucesso a atrair IDE, não só centrado no petróleo e gás, mas também em infraestruturas como estradas, caminhos de ferro e portos, que são necessários para exportar as enormes reservas de gás que o país tem", disse Graham Thompson, concluindo que "apesar da redução em número de projetos de IDE, o país é uma contínua história de sucesso nos investimentos na indústria extrativa e nas infraestruturas e está a tentar ganhar investimentos nas áreas ligadas aos consumidores".

O relatório divulgado na segunda-feira de manhã sobre a Atratividade de África na captação de IDE revela que, "pela primeira vez desde 2005, o investimento espalha-se de forma equitativa pelas quatro regiões subafricanas", com Marrocos a igualar a África do Sul como o maior destino de investimento, concluiu o responsável.

O número de projetos estrangeiros em África aumentou 6% no ano passado, tendo sido lançados 718 novos empreendimentos com IDE, abaixo da média dos últimos dez anos, segundo um estudo da consultora EY.

"Os investidores estrangeiros lançaram 718 projetos de IDE em África em 2017, o que mostra um aumento de 6% relativamente a 2016, o que nos traz de volta a valores de 2014, mas ainda consideravelmente abaixo da média dos últimos dez anos", lê-se no relatório sobre a Atratividade de África'.

A subida do número de investimentos "está em linha com as expectativas", dada a recuperação económica do continente, e vinca que "a subida em IDE foi apoiada por uma viragem continuada de projetos extrativos para investimentos sustentáveis".

Por outro lado, acrescentam, os investidores em África "frequentemente olham para o investimento numa perspetiva de longo prazo e reconhecem que as baixas taxas de crescimento não são permanentes".