Lisboa - Tchizé dos Santos, é a única filha do ex-Chefe de Estado, José Eduardo dos Santos a quem -  perante alguns íntimos -  lhe são identificadas manifestações de desencanto face a iniciativa das autoridades em alterarem a decoração (mobílias) do palácio presidencial depois da entrada de novos inquilinos (família Lourenço).

Fonte: Club-k.net

Deputada preocupada com os gastos 

No seu ponto de vista,  as mobílias, deixadas pela sua família eram novas e  em bom estado de  conservação, pelo que entende  a  desnecessidade de gastos   sobretudo numa altura em que as autoridades anunciaram medidas de austeridade.

 

As ultimas  mobílias deixadas pela sua família foram requisitadas em Setembro de 2016. Na altura, o seu pai José Eduardo dos Santos gastou o montante de AKz: 2.873.695.250,00, para o pagamento das despesas relacionadas com os Serviços de Manutenção que se estenderam para as Áreas Protocolares.

 

Já com o Presidente João Lourenço, as autoridades, segundo documentos em posse do Club-K, gastaram cerca 10 milhões de kwanzas (35 mil euros) para a aquisição de equipamentos e 11,5 milhões de kwanzas (41 mil euros) para a compra de mobiliário e decoração do palácio. A empresa contratada para o fornecimento, montagem de mobiliário e decoração terá sido a “Moves by Inspiration «Finest Living»”.

 

Ao  total,  o actual Presidente João Lourenço, aprovou uma verba de 3.885 milhões de kwanzas (14 milhões de euros) apenas para manutenção e conservação de infraestruturas adstritas ao Palácio Presidencial.

 


Construído em 1607/1611, para acolher o então governador-geral, sob a administração colonial, o  palácio passou a ser a residência oficial do Presidente de Angola, depois da independência. Para alem da família presidencial, o palácio  é presentemente local de trabalho para 56 pessoas que vão desde um administrador do edifício até 14 empregados de limpeza. Um dos empregados mais antigos é Domingos Bandeira.

 

O palácio possui uma fachada neoclássica, com uma arcada saliente e frontão triangular. O interior inclui várias salas em que se realizam cerimónias oficiais, destacando-se o salão nobre, usado para as tomadas de posse do executivo. Nas traseiras do edifício existe outra arcada com uma escadaria que leva aos jardins, onde se situa uma piscina.

 

CONVERSA COM O TRABALHADOR MAIS ANTIGO DO PALÁCIO PRESIDENCIAL


Na recente obra “”Noticias do Palácio Presidencial”, do escritor e Porta-Voz presidencial, Luís Fernando,  dedica  uma pagina, ao funcionário mais antigo, Domingos Bandeira  em que o mesmo  revela  as circunstancias da chegada do Primeiro Presidente Agostinho Neto, no Palácio,  no dia 16 de Novembro, uma semana depois de proclamar a Independência.

 

«Havia alguns colegas que eram de outros movimentos e preferiram ir embora, saíram. Ficámos umas nove ou dez pessoas, eu, Garcia Domingos, Luís Cândido, Domingos Pires, Paulino António Ganga, Nicolau Pedro Diogo, Manuel Calunga, Joaquim Fortunato e António João Lepa, que estava internado no hospital, na altura, Domingos Quitumbo, também doente por aqueles dias, e Avelino Pascoal Correia, idem doente (...)

 

Luís Fernando: Como foi a vinda do Presidente Neto? Quem preparou o processo? Teve de vir alguém da equipa dele falar convosco, certo? Acertar tudo, ver os pormenores…

 

«Vieram Henrique Santos “Onambwe”, Manuel Rui Monteiro, o embaixador Luís de Almeida e Hermínio Escórcio, que veio com o Presidente Agostinho Neto como director do Protocolo de Estado. Neto chegou numa tarde, cerca das 16 horas, veio com militares da escolta. Não houve desconfianças da parte dele mas alguns militares ameaçavam-nos, chamavam-nos bufos porque tínhamos trabalhado com governadores portugueses. Era só para nos intimidarem, depois pararam, deixaram-nos à vontade. Tinham trazido uma cozinheira, a dona Josefa, e um empregado, o João. Neto reuniu com a equipa, estava com um velho fardado chamado Muginga. Olhou para a equipa, a maioria já mais-velhos, e fez um convite: «Olhem, agora o trabalho vai começar, quem quiser se aposentar pode dizer». Realmente, alguns que se sentiam cansados preferiram sair, como Manuel da Costa Dongoxi, que já tinha 45 anos de serviço».

 

«Neto ficou no Palácio desde Novembro de 1975 até Julho de 77, quando o Palácio entrou em obras. Fomos transferindo, a pouco e pouco, as coisas todas para o Futungo. Depois fomos todos de férias ao Namibe, passámos lá vinte dias. O comissário provincial [governador provincial, na nomenclatura actual] era António Lopes da Câmara. As obras quem as estava a fazer era a empresa Constrói. O director de gabinete do Presidente Neto era o camarada Afonso Van Dunem “Mbinda”. Quando regressámos do Namibe fomos directamente para o Futungo de Belas».

 

Luís Fernando: E Neto já não volta ao Palácio…

«As obras demoraram dois anos, eram para demorar menos… mas foram dois anos. Estávamos a preparar a inauguração depois de todo o trabalho mas foi quando o Presidente Neto morreu, em 1979. Então o corpo veio para o Palácio, o seu sarcófago ficou no salão nobre»(...)".