Luanda - Virgílio Francisco Sotto Mayor – Nascido aos, 5 de Novembro de 1936. Filho de Francisco Sotto Mayor e de Gonga Tomás, natural de Icolo e Bengo, Cassoneca. Frequentou os estudos elementares em Cassoneca e secundários em Luanda. Onde Concluiu O 1ª ano de escolaridade. 

Fonte: Club-k.net


Fisionomia – homem com cerca de 1.70m,

                       Cabelos lisos;

                       Olhos castanhos;

                       Pele morena.

Ideologia política – Marxista, Esquerdista, Revolucionário Revisionista.


ImagePertenceu a uma geração que aprendeu a fazer política na igreja nos movimentos sociais, Clandestinos bairristas e também com a família. Os pais, irmãos, filhos e filhas; 


aprendeu a desconfiar das organizações burocráticas, dos assimilados, até  mesmo dos indígenas. Mas também a disputar o poder e as benesses das pertenças ao aparato burocrático, com o fim de camuflar as ideologias política e saber quem é quem para poder partilhar ideias – instruções de seu pai.


Amante e praticante de desporto. Mais precisamente o Futebol. Foi atleta sénior do Atlético de Icolo e Bengo fazendo uma dupla com o seu irmão, António Francisco Sotto Mayor. Enquanto jogava exteriorizava ainda adolescente seu descontentamento com outros jovens de sua geração sobre a colonização. Entretanto, usou do desporto e o seu convívio como veículo principal de recrutamento e o estudo da conexão de força do sentimento libertário de seus companheiros. Tudo isso fez, em detrimento aos contos dos massacres de 1914 e 1922 relatado pelos seus bisavós e avós, e consequentemente transmitidos pelos seus pais. A partir daí é fecundo o espírito Revolucionário do jovem adolescente. 


Nos primórdios dos anos 50, um grupo de jovens revelados por acções desumanas vividas pelos seus antepassados, se juntam esporadicamente, para mostrar o descontentamento ao colono. Este mesmo grupo tinha a missão de na sua função primária aniquilar o colonialismo no aspecto material. Virgílio Sotto Mayor e muitos companheiros como ingénuos, saíam de suas casas com catanas na calada da noite e cortavam todas as plantações novas plantadas pelos colonialistas. Isto no campo. Na cidade atacavam alguns colonos e furavam pneus de carros. Causando todos tipos de danos materiais aos colonos. Está foi a primeira maneira de lutar. Deforma isolada. Mas quando um, dois, três, quatro, se juntaram, no decorrer dos anos comungando os mesmos interesses, conhecendo melhor um e outro, formam um grupo. 


1957, Virgílio Sotto Mayor, Francisco Imperial Santana, Raul Deão, com 21 anos de idade, João Bento, Domingos Manuel, e muitos, nas mediações do Bairro Rangel, em conjunto alguns companheiros, com uma consciência Revolucionaria objectivada na flor da idade, ansiosos da consolidação dos seus ideais, formaram uma célula Anti-colonial.   


1959, Fidel de Castro derruba a Ditadura de Fulgencio Baptista em Cuba. Torna-se um dos incentivos mais concretos dos grandes Nacionalistas para a liberdade. Na rua Fernando Pessoa no nº90 na Vila Alice, Jaime Araújo organiza uma Patuscada clandestina onde se encontram vários indivíduos que comungavam os mesmos interesses, como: 


Olga Cohen, Virgílio Sotto Mayor, Francisco Imperial Santana, (na altura elementos do FULA), Padre Vicente Rafael, Eduardo Anapaz, Graça Pedro Benje, Luís Barbosa Bessa, José Maria dos Santos, Belli-Billó, Adriano “Bom Moço”, Rodolfo Teixeira e outros. Havana Livre, nos corações dos grandes nacionalistas é tornado mais do que nunca motivo de agir.


Na onda de recrutamentos da conspiração contra o colono, Paiva Domingos da Silva é recrutado a partir da Província do Uíge onde era carpinteiro, Virgílio Sotto Mayor foi o arquitecto do seu enquadramento no referido conluio, por ser um homem corajoso.


4 de Fevereiro de 1961, chefiou um grupo que atacou a 5ª Esquadra da P.S.P., foi Virgílio Sotto Mayor quem deu início do Início da Luta Armada em Angola, disparou a Bengala neste mesma madrugada. Por ordem e arcabouço lógico, de ter dado a Voz de Comando é considerado o Primeiro Comandante de Angola – Embora não constar este registo na estrutura hierárquica militar – Virgílio Sotto Mayor, na retirada, Desferiu um golpe com a Catana ao Cabo dentro da mesma Esquadra. Isto deveu-se pelo facto do mesmo não estiver com a senha que era os calções pretos e a camisola também preta. Aprofundando a atitude de Virgílio Sotto Mayor naquela noite histórica, é de que o Comandante sabia que o Cabo Cabo-verdiano mantinha uma relação de informador com a polícia colonial – Encurralados, o grupo ficou disperso. Virgílio Sotto Mayor é alvejado no braço direito por um tiro. 


Seguindo as instruções familiares ou de seu irmão mais velho vai em direcção à casa deste em busca de socorro. Posto na casa do irmão, já sem forças para andar com bastante perda de sangue é transportado para o Patrício, um posto médico que ficava situado na rua da vaidade no Bairro Precol.


O Patrício era um cidadão angolano, dono de um consultório médico que dava informações a PIDE/DGS, sorrateiramente. Que pediu apenas como pagamento do tratamento duas galinhas, a família Sotto Mayor. Teresa Agostinho Fernandes, minutos depois de deixar Virgílio Sotto Mayor no consultório médico, é-lhe passada a informação de que o mesmo Patrício era informador da PIDE. Preocupada regressa. Encontra Virgílio e cobre-lhe com panos da cabeça aos pés – Vestindo-lhe de Mulher. Bessa-Ngana – No mesmo instante e segundos que Virgílio é poisado no famoso posto médico o Patrício também tivera abandonado o paciente dirigindo-se para lugar desconhecido. Presumindo-se assim, que facilitou o pagamento do tratamento para reter Virgílio no local referido e passar a informação que Virgílio aí se encontrava à impiedoso P.I.D.E. – Polícia Internacional e de Defesa do Estado.


Assim é  transportado as Costas pela Cunhada, para a casa de Raul Deão onde estava seu irmão mais velho confidenciando com o Deão. As acções da PIDE/DGS não Paravam em busca do rasto de Virgílio e seus correligionários. Raul Deão separa-se em busca de refúgio. Nestes momentos Virgílio Sotto Mayor corre perigo de vida. A perda de sangue é abundante. A PIDE descartava a hipótese do mesmo estiver morto. Mas não desarma os hospitais. O irmão levou-lhe à casa de uma prima que abandonara a casa para auxiliar a família em apuros. Onde ficou a curar a ferida provocada pela bala com água de Capim de deus fervida (água de Kifute). Só isso não era suficiente para a cura do ferimento. O ferimento foi se agravando atingindo uma certa podridão. A ferida só começou a sarar quando sua mãe Gonga Tomás pediu que lhe fosse tratado com um tipo erva selvagem triturado, encontrado nas áreas do mato dos km30 em diante. Este processo curativo originou que Virgílio Sotto Mayor ficara com um dos braços ligeiramente mais curta que a outra. Neste caso, o braço direito. 


Na incessante luta pela fuga do irmão, António Francisco Sotto Mayor, astuciosamente, colocou um reclame “Aluga-se” na casa onde o aludido Comandante se encontrava acoitado. Para maior protecção retirou a cama nela existente e escavou um buraco, como onde cabe um Caixão com uma profundidade entre 50 e 60 cm. – Do entulho acertou o nível do chão em forma de marketing para agradar o cliente. Como se a casa estava mesmo por arrendar – Arranjou um Luando, com três varas de paus finos e colocou, nas pontas e no meio. Para quando pusesse por cima do buraco onde dormia o comandante e todo seu arsenal, se parecesse que o mesmo estava sobre o leito do chão suportado; que o casebre estava desabitado ou mesmo dizendo, por alugar. Mesmo que algum inconfidente tentasse entrar na casa, se opinaria que a mesma estava totalmente vazia – este processo foi sempre utilizado pela família, durante a perseguição da polícia colonial. Alberto Francisco Sotto Mayor, mensageiro do comandante Virgílio Sotto Mayor (irmão cassula), era quem levava mantimentos e informações ao mano. Muitas vezes na companhia de seu Sobrinho Ávila Francisco Sotto Mayor, filho primogénito de seu irmão mais velho.


A PIDE/ DGS no dia seguinte do acontecimento histórico aparece armada até  os dentes na casa do Irmão de Virgílio Sotto Mayor. Onde começa  um sessão de tortura e espancamento Público ao António Sotto Mayor para descobrir o paradeiro do irmão. Este nada riposta. - É de recordar que nestes dias de angústia Teresa Agostinho Fernandes acabava de ter um Parto de 15 dias de Sua filha Olga Sotto Mayor – o espancamento levou o vitimado a ser esfaqueado por uma sabre em cada nádega. Mesmo assim, António Francisco Sotto Mayor nada confessou. Partindo do princípio que a causa era comum e justa que levara seu irmão a rebelar-se ao colono. Abrir parêntese – Essencialmente, no dia anterior ao assalto as cadeias coloniais os irmãos Siameses tinham acordado: transcrição do diálogo de entendimento e estratégia familiar dos dois intervenientes apenas – (…) mano, a luta não vai terminar agora. Por isso eu vou e o mano fica. Para se alguma coisa falir, tomar conta dos demais. Por outro lado se viver a PIDE/DGS não vai descansar enquanto não me ver presos ou mortos. Por isso, enquanto eu fujo o mano vai aguentando os problemas (…)

– (…) Gino, quando se vai a luta não se morre, porque a morte também é uma forma de vencer na vida. A coragem a dignidade e as memórias ficam. O interesse na luta para produzir paz e justiça é muito mas do que viver na inconsequência … – Fizeram uma reza em conjunto com os pais pedindo à Deus protecção. De seguida levaram os pais para o esconderijo no Rangel.  


Desesperadamente a PIDE tencionava encontrar os pais de Virgílio Sotto Mayor para obrigar o seu irmão a confessar o seu paradeiro. Porque notara a dureza e firmeza de António Francisco Sotto Mayor durante as sevícias. Os três filhos da família Sotto Mayor, Ávila Sotto Mayor, Luzia Sotto Mayor e Margarida Sotto Mayor ficaram traumatizados com a situação. Sempre que vissem um homem de raça branca fugiam pensando que viessem a busca do pai. Isto impossibilitou às crianças a frequência integral do ano lectivo no ano e nos anos que se seguiram.


Depois de todo alvoroço da investida do dia 4 de Fevereiro de 1961 a tia Paulina e Kafucama ambas esposas do Comandante, foram instruídas para fazerem óbito para confundir a PIDE na sua incursão de perseguir o rasto do Comandante. Assim Virgílio foi curando a ferida. A perseguição impiedosa da PIDE com o apoio do Pina, suscitou que o mano mais velho de Virgílio, optasse por fazer o Virgílio dormir dois dias em cada casa. Em nome de Virgílio muitos seus entes queridos foram arrestados, como: Diogo Agostinho Fernandes, Sebastião António (cunhados), José Francisco Sotto Mayor, e muitos. 


14 de Abril de 1961  os colonos armados até os dentes invadem Catete em jeito de retaliação. Onde monstruosamente é assassinado em hasta Pública, incendiado vivo Agostinho Fernandes (Kabindondo) consogro dos Sotto Mayor. Neste mesmo dia, hora e minutos, juntos, foram também capturados e já não mais voltaram: sua Esposa Margarida Jorge de Oliveira – alegando a PIDE na altura que Agostinho Fernandes e a esposa tinham que acompanhar, porque toda sua família era terrorista – Mateus José Dias dos Santos, Fernando Baltazar, Paulo Van-Dunen, Bessa Martins irmão do Soba Lopes Martins, colaborador da PIDE. 


Agostinho Fernandes (Kabindondo) na altura já sabia ler e escrever, de 40 anos de idade ajudava muitos dos seus conterrâneos. Quando havia qualquer carta para ler na aldeia estava sempre disponível para emprestar o seu saber em troca de nada. Foi quando em 1959 apercebendo-se da vitória de Fidel de Castro, na aldeia de Gangajuze província do Bengo, no recursos da argumentação racional e da correlação de forças como arma política, dizia aos seus pupilos – Quando não podemos ajudar os aflitos temos que importunar quem vive no conforto – Para despertar o tino político e revolucionário aos mais novos contra o colono. 


No movimento impiedoso da PIDE, Virgílio Sotto Mayor e preso desterrado na cadeia de Missombo, na Província de Moçamedes, actualmente Província do Namibe. Mais precisamente neste Campo de Concentração na área das salinas. Como preso Político e revolucionário, considerado altamente perigoso.


Dotado de um perfil rectilíneo, ajudou muitos dos seus compatriotas que Padeciam de doença e outras enfermidades, arriscando o agravamento da sua pena. Assim, Manuel Pedro Pacavira foi um dos seus socorridos em dada situação de doença e sevícias, praticada pelos algozes colonialistas.


10 anos de pena efectiva foi o quanto o grande comandante sofreu por reivindicar o Direito a pátria. No seu perfil activo e incansável trazia também humildade, compreensão e companheirismo, no que concerne a não divulgação dos nomes e projectos das suas causas, durante a investigação e tortura por que passou. Onde de tanta tenacidade às causas que norteavam os seus ideias e dos demais, chegou a perder a vista esquerda na base da tortura. O olho em causa foi Estraçalhado por uma agulha de costurar à mão, aquecida em fogo ardente. Entretanto, a cegueira dominou o olho referido, se transformando numa membrana branca e amarelada como se fosse um ovo estrelado. Daquela vista já não mais via. Mas honrou seus ideias e princípios de liberdade, de fraternidade e se sentiu sempre bem consigo mesmo e com os outros. Porque é sabido que muitos dos seus companheiros com uma personalidade fraca denunciaram muitos outros e até mesmo fizeram-se amigos dos inimigos. É bastante pertinente frisar, porque o dever moral obriga-nos a relatar –, que a Promessa infalível feita pelos colonialistas antes de qualquer investigação para estimular a colaboração dos autuados era a Ida Para Portugal – Esta promessa levou muitos a venderem-se e denunciar seus companheiros. 


1971 recém chegado da cadeia, e nela recrutado para enquadrar no MPLA, como aderente e membro do MPLA contagiou em massa, como uma epidemia sua família a aderir o Movimento Popular de Libertação de Angola – MPLA, desde o mais novo ao mais adulto; homens e mulheres. Continuando seu trabalho político, reuniu um grupo de jovens e homens de idade considerável, encabeçado pelo seu sobrinho Mais Velho Ávila Francisco Sotto Mayor, com o apoio secreto de António Francisco Sotto Mayor e lança um apelo da necessidade de se formar grupos para a recepção do MPLA nos anos seguintes. Com palavras mobilizadoras disse – se a luta continuar todos vocês têm que ser capazes de continuar a lutar, nem que tenham que voltar ao Congo de onde virão os nossos grandes Dirigentes – Muito dos seus recrutas foram o malogrado General (Bonga Nzambi ─ recruta feita pessoalmente), Sebastião António, Alberto Sotto Mayor (Pazito) ─ recruta feita familiarmente), Madalena Agostinho dia dos Santos, Adão Borralho, Sofia Rosa, Daniel Luís Casimiro (Jank), Francisco Mateus, Chavita, Fancon, Man Pereira, Samuel Filho, Nando Mulato, Diogo Agostinho Manuel Sobrinho, Domingos Arsénio, Joaquim Augusto Correia, e muitos outros no anonimato.


Virgílio Francisco Sotto Mayor parte para o Congo na companhia, de seus dois grandes correligionários, Paiva Domingos da Silva e Francisco Imperial Santana. No percurso os mesmos foram recebidos na província de Cabinda pelo senhor Salvador Trindade, irmão da mãe de Paiva Domingos da Silva. Onde ficaram alguns dias hospedados e por conseguinte partiram para o Congo. Postos no Congo foram felicitados pela coragem que transformou o 4 de Fevereiro em data histórica angolana. Entretanto receberam a instrução de regressar a Angola para preparar a chegada dos grandes dirigentes do MPLA. Em 1973 regressa à Angola e movimenta a sua massa associativa (recrutas) para no dia 4 de Fevereiro de 1975 receber aquele que foi o Presidente do MPLA Doutor António Agostinho Neto e seu comité director.

Dada a sua entrega e sacrifício em prol do resgate a terra do colonialismo, mereceu confiança dos demais compatriotas e companheiro e muitos jovens pelo seu perfil exemplar. Foi indicado 2º comandante do comité 4 de Fevereiro. 


27 de Agosto de 1975, ao subir o cume da montanha para ver a terra prometida. Véspera da Proclamação da Independência, Virgílio Sotto Mayor é alvo da morte cruel. Não consegue subir ao cume da montanha para ver a terra prometida.

Para Virgílio Sotto Mayor – a liberdade é uma cidade imensa onde cabem todos cidadãos 


Consta o seu nome no nº 104 da lista da resolução nº1-f/92 da comissão permanente da Assembleia do Povo Publicada no diário da república nº19-1º série, de 15 de Maio de 1992


- Testemunhos:

           Excelentíssimo senhor Ministro Pedro Van-dunem

          A generosa Família Dias dos Santos e Mendes de Carvalho


A invocação destas referências deve-se ao facto destas famílias terem perdido os entes queridos na data do assassinato do velho Agostinho Fernandes (Kabindondo) pela PIDE/DGS na investida de 14 de Abril de 1961 na província do Bengo na aldeia de Gangajuze e a trajectória familiar do malogrado Comandante Virgílio Francisco Sotto Mayor
 
 


PELA FAMÍLIA

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TERESA AGOSTINHO FERNANDES