Luanda - No teatro que teve por palco de encenação o distante ano 40 do último quartel do século XX, no plano africano somente se registava na Libéria isenção do processo de colonização emitido pelo Velho Continente europeu, os demais países filhos de África ficaram todos amarrados às costas da colonização. Todavia, um vento de mudança passou à soprar sobre o Continente Berço, parafraseando Pablo Picasso “As cores, como as feições, acompanham as mudanças das emoções”, neste prisma, em 1963 duas décadas depois, vinte e nove nações africanas foram – lhes rebentadas as correntes da colonização que as prendiam há séculos. É preciso reconhecer que o processo de descolonização africana, não se realizou debalde, antes pelo contrário, mereceu resistência armada por parte dos indígenas africanos.

Fonte: Club-k.net 

I. IDENTIDADE DE VIRIATO CLEMENTE DA CRUZ: O HOMEM E A CONSCIÊNCIA DO MPLA

 

VIRIATO FRANCISCO CLEMENTE DA CRUZ, é o nome do verdadeiro Pai do MPLA, o progenitor de um amplo movimento que hoje se tornou num farol que ilumina o firmamento africano. Considerado importante homem que atiçou a poesia angolana, uma das vozes mais salientes no processo cultural e literário angolano, o Pai da literatura moderna angolana, nacionalista, poeta, intelectual e um dos maiores criadores de movimentos anti – coloniais, é admirável sua nobre capacidade criativa, desde o PCA, PLUA ao MPLA, a alma de Viriato da Cruz permanece como o sangue vivo desses movimentos.

 

Viriato da Cruz cresceu numa família miserável, e sofreu de forma ávida dos efeitos da escravidão colonial. Apesar das enormes calamidades económicas conseguiu fazer os seus estudos do ciclo primário e secundário no Liceu Salvador Correia em Luanda. Em 1950 iniciou o seu protagonismo anti – colonial através de movimentos nacionalistas clandestinos em Luanda, tendo sido um dos homens nobres que propôs na companhia de Ilídio Machado a criação do PCA. Em 1957 teve de fugir à Paris à quando da PIDE que o caçava como cães caçam cabras de mato. Em Parias Cruz terá contacto com um dos maiores pensadores e intelectual que Angola já conheceu: Mário Pinto de Andrade. Com Mário Pinto de Andrade, o dueto de cérebros nacionalistas ficou duro como a pedra, o MPLA começava a cheirar a sua origem.

 

A primeira digressão pela China Continental foi em Novembro de 1958, e durou 3 semanas. Quer Viriato da Cruz, como o seu colectâneo, intelectual, nacionalista e pensador Mário Pinto de Andrade foram à Pequim, Xangai e Guanghou (Cantão). O processo que visasse a origem do MPLA começava à encontrar uma atmosfera cintilante com esses dois cérebros angolanos, de valor incontornável no plano da origem do MPLA.

 

Viriato da Cruz, foi o homem do século 40 e 50 no plano da poesia puramente angolana, nasceu aos 25 de Março de 1928, em Kivukulo, Porto Amboim (Kwanza Sul).

 

Viriato da Cruz caracterizou-se na sua obra pelo apego aos valores africanos, quer quanto à temática, quer quanto à forma. A sua produção está dispersa por publicações periódicas e representada em várias antologias, das quais uma - No Reino de Caliban - reúne a sua obra poética. Foi uma das vozes mais salientes do “Movimento dos Novos intelectuais de Angola” (1948) e da revista Mensagem (1951 – 1952). Foi o primeiro secretário-geral do MPLA. durante os primeiros anos da década 60.

 

I.1 BREVE SÚMULA DO CONTEXTO ANTI – COLONIAL QUE DEU LUGAR À ORIGEM DO MPLA

O estabelecimento de unidade, organização e objectivos estratégicos pode dar um outro sentido ao processo de descolonização de Angola. A modificação deste cenário de forma intensa no decorrer das décadas do século XX, ajudou ao surgimento do nacionalismo angolano, e, da independência de Angola. Assim os movimentos nacionalistas, e, de independência de Angola contaram com a participação de vários segmentos daquela sociedade. Entre os quais destacam-se os intelectuais, o movimento Estudantil, e, a participação de várias entidades políticas como PLUA, PCA, e o MINA.

 

Através de ideias aprendidas em ciclos clandestinos sobre o lema “liberdade”, e “independência de Angola”, tendo por base de que era necessário lutar com armas nas mãos ou com catanas, paus e machados, e pagar com sangue tal preço de que tinha a liberdade do povo angolano. Na perspectiva dos nossos nacionalistas, o sangue derramado ao longo da luta tinha de justificar a independência de todo o povo calcinado na dor da escravidão. Todos os angolanos autóctones e alguns portugueses, foram convidados à fazer recuar o mundo facista de Salazar, tendo por foco a destituição da escravatura, baseando – se no princípio de que poderia se agir com consciência buscando soluções para as questões da escravatura, e desde então, do fim da ditadura salazarista que impôs a sua arte de separatismo entre brancos e negros, condenando os negros à submissão total ao homem branco, exaltando valores como o racismo social – darwinista, a falta de liberdade de expressão para os negros, o trabalho forçado com péssima remuneração, e a miséria extrema expressa nos musseques dos negros. Para tal fim, era imperativo a revolução à ser efectuada sob uso da força, sem esta era – lhes impossível chegar à liberdade dos povos de Angola e a independência da pátria. Neste prisma, a luta contra o colonialismo foi um acto inédito, feito como via única de ascensão à independência, todavia, a criação de movimentos anti – coloniais fizeram realizável os sonhos dos angolanos, que andavam pendurados no imaginário da noite, sendo difícil de vê – los realizados, foi assim que surgiram organizações como: Partido da Luta Unida dos Africanos de Angola, Movimento para a Independência de Angola, Partido Comunista de Angola […], Movimento Anti- colonial, […]. Com a formação de organizações de teor político, poderia ser desde logo, possível uma abertura de insurreição contra a tirania portuguesa.

 

Monangambé, poema de António Jacinto nos anos sessenta ressoou como um grito de revoltas sobre a autoridade colonial portuguesa. No sobejo das décadas posteriores ao período, que, a historiografia oficial portuguesa denominou como pacificação, o terror canibal do colonialismo português martirizou as populações indígenas que banhavam a geografia de Angola. Nas décadas de 30 e 40, já sob o domínio salazarista, o sistema colonial português produziu uma série de artifícios jurídicos, para manter sobre sua jurisdição o controlo completo da colónia, tornando esta num império forte e poderoso como nunca. Um exemplo disso foi o estatuto dos indígenas, que sujeitou à calamidades milhares de angolanos em suas próprias terras. Outro fenómeno patente nesta era, foi o êxodo massivo de portugueses às colónias, os quais acorriam às colónias tendo por direitos inúmeros privilégios de que tão raros indígenas atingiram.

 

I.2 ECOS QUE EVIDENCIARAM O SURGIMENTO DO MPLA

 

Na década de 50 avante, os interesses e o panorama mundial tornaram um solo fértil às reivindicações em Angola, era chegada a hora da ditadura colonial deitar – se de joelhos e pedir perdão pelo mal que cometeu há séculos no império do ultramar, para que tal fenómeno fosse expresso, era urgente a constituição de movimentos que fossem agir não mais com o uso da palavra, mas agora com o uso do ferro para recuar o mundo escravo.

 

A invenção do MPLA permitiu aos angolanos e alguns portugueses que sofriam de forma frustrada a ditadura salazarista começar uma guerra açulada contra o Estado Novo de Salazar. Desde então, era possível viajar para um novo tempo anti – colonial, e pôr termo à uma época de sufoco pela intensa exploração da Coroa Portuguesa. A criação do MPLA, serviu de fonte de inspiração para a ocorrência de inúmeras revoltas anti – coloniais, cujas propostas revolucionárias, foram as conquistadoras de uma Angola livre e do desejo da emancipação dos povos que banhavam o solo angolano.

 

A passagem de uma etapa de divulgação cultural para um momento de criação e organização de pequenos grupos de acção política clandestina teve como ponto de partida as ideologias da ala esquerda, sobretudo os pensamento da esfera política marxista, que os angolanos colheram nas vozes de trabalhadores marítimos e aos exilados do regime de salazar, bem como estrangeiros. O material que permitiu – lhes a construção de uma consciência política tinha, uma óptica variada, indo desde panfletos à revistas, livros didácticos de formação e romances como os de Jorge Amado ou Garciliano Ramos.

 

Ficar na Europa tornou – se inofensivo, as vozes não acabavam com a ditadura, e, África estava já à beira da independência, elevar vozes sem acção plasmada na força, não era suficiente para dar solução à ditadura que, envenenava o bom clima à ser respirado em Angola, todavia, em 1959 os nacionalistas angolanos foram forçados a abandonar a Diáspora, e ir à Angola onde iriam dar por conseguinte o plano antes tido apenas em palavras.

 

Foi necessário a mobilização de todos os nacionalistas dispersos na geografia europeia desde Berlim, Frankfurt, Paris e Lisboa, a mobilidade à Angola veio como um simbalo que tine despertando Viriato da Cruz, Lúcio Lara, Mário Pinto de Andrade, Agostinho Neto, entre outros e forçando – os à abandonarem o ocidente e começar uma guerra contra o império de Salazar, que em Angola continuava a viver a sua felicidade na sombra da mulembeira.

 

I.3 QUEM É O VERDADEIRO PAI DO MPLA?

 

Aqui é que de muito vêm as vozes agitadas contagiadas de confusão sobre quem é o verdadeiro Pai do MPLA. Tantos, mas tantos atributos à pseudo – inventores, todos que afirmaram sobre a história do MPLA no passado pecaram, pois, excepto os co – fundadores nas suas obras, e, alguns dos escritores mais críticos do mercado das letras lusófonas, souberam elevar o nome MPLA à uma personalidade de nome Viriato da Cruz, MPLA não foi criado por Mário Pinto de Andrade, nem por Ilídio Machado, MPLA foi criado por Viriato Clemente da Cruz.

 

Há inúmeras vozes políticas segundo as quais o pensador, político, intelectual e nacionalista Mário Pinto de Andrade foi o verdadeiro arquitecto do do MPLA, porém, pela ironia do destino, não há marca uma apenas que confirma que seja Pinto de Andrade, o pai de facto do MPLA.

 

Outras vozes sociais clamam ser Ilídio Machado o arquitecto do MPLA, mesmo assim, nada se pode confirmar ser Ilídio Machado o verdadeiro arquitecto do MPLA, embora se tenha de enaltecer a sua grande visão plasmada na unidade dos movimentos anti – coloniais deu origem ao MINA que até mais tarde tornou – se em MPIA, seria ainda Ilído Machado que pensou sobre a transformação do PCA criado por Viriato da Cruz em PLUA, porém, as datas divergem o seu papel na criação do MPLA, a versão oficial divulgada pelos líderes do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) no início dos anos 60, e, até hoje mantida pelo partido, dá conta de que o movimento teria sido criado em 10 de Dezembro de 1956, em Luanda, após a unificação do Partido da Luta Unida dos Africanos de Angola (PLUA) com outros grupos nacionalistas. Se a data oficial de criação do MPLA foi em 10 de Dezembro de 1956, não pode ser Ilídio Machado a criar a ideia sobre a origem do MPLA, porque essa data, não corresponde com os seus feitos de unificação dos movimentos anti – coloniais, que deram origem ao MINA, no caso do MINA foi em 1959 quando Ilído Machado dirigiu uma carta antes de ser preso pela PIDE para que houvesse a unidade dos partidos recém – formados; porém, a evidência de ser Ilídio Machado o Pai do MPLA, encontra – se no facto mediante o qual foi ele que arquitectou a transformação do PCA em PLUA, pela ironia do destino, PLUA não foi criado de forma original, mas sim uma forma de progressão e metarmofose do PCA, e neste contexto, o verdadeiro arquitecto do PCA não foi Ilído Machado, foi Viriato da Cruz, não obstante, a data de fundação do PLUA conscide com a data de fundação do MPLA, nesta acepção, o PLUA é uma representação do MPLA, por isso o facto do PLUA ser fundado em Dezembro de 1956 e o MPLA ser fundado em 10 de Dezembro de 1956, nos leva a concluir que o PLUA é o MPLA, e, o MPLA é o PLUA.

 

I.4 PLUA NÃO É MPLA É APENAS UMA FORMA EMBRIONÁRIA DO MPLA

 

Numa análise mais profunda, PLUA não pode ser MPLA, é apenas uma forma embrionária do MPLA, porque o MPLA corresponde a muitas facetas anti – coloniais criadas nos subúrbios de Luanda que unidas ao PLUA formaram o MPLA. O PLUA é considerado como o ponto de fusão de todas as outras facetas anti – coloniais, a única questão à referir é se essa: fusão se deu mesmo ao 10 de Dezembro de 1956 ou não? A ambivalência correlação a data de criação do PLUA também é questionável, o nacionalista Mário Pinto de Andrade, um dos principais líderes fundadores do MPLA na década de 60, fez expressar duas datas de fundação do PLUA, a primeira, apresentada em 1960, na revista Démocratie Nouvelle, afirma que o PLUA teria sido criado em 1956 e seria uma metamorfose do Partido Comunista Angolano (PCA). A segunda, narra que o PLUA terá sido criado em 1953. Estas datas transformaram a verdade num ardil político porque não pode haver verdades relativas, mas sim verdades absolutas como disse Aristóteles “A verdade é a conformidade entre o intelecto e a realidade”. Dentro das duas datas a que condiz a realidade é a primeira que implica ser o PLUA criado em 56 do século XX, uma vez que o PLUA surgiu um ano depois do PCA e o PCA foi criado em 55 do último quartel do século XX. O cenário de datas tem a ver com a necessidade de manter o partido vivo, uma vez que procuravam reconhecimento internacional na disputa com a UPA que rotulava – se ser a mais antiga para que fosse reconhecida como a única organização política em Angola. Em política as vezes, valem as estratégias e não as verdades, ao passo que em ciência valem as verdades, na política a verdade pode ser perigosa e fatal. Pela ironia do destino, Mário de Andrade confessou em 1990, pouco antes de morrer, que essa fora uma estratégia política necessária em que participara como pilar fundamental de vida do partido, frisava o nacionalista que o movimento precisava de ser legitimado internacionalmente sob pena de desaparecer, e que, o ardil político, visava dar-lhe, um cunho de maior autenticidade nacional e internacional. Repito, em política valem as estratégias e não as verdades, muitas das vezes, as verdades políticas se tornam num verdadeiro presente envenenado as verdades valem em ciência. O cenário internacional bipolarizado de início dos anos 60 citado por Pinto de Andrade recomendava uma postura mais anticolonial e menos incisiva no tocante às filiações políticas.

 

Carlos Pacheco, em artigo sobre o golpe, publicado no Diário de Notícias de Lisboa, afirma que o MPLA tinha sido criado em 1960, em Luanda, por obra de Viriato da Cruz.

 

Neste embróguiu analítico, negamos ser o idiólogo Mário Pinto de Andrade o arquitecto da ideia MPLA, porque se a ideia vem do PLUA, e o PLUA surge em 1956, nessa altura o nacionalista Mário Pinto de Andrade estava na metrópole em busca do saber, e não pode ser ele o Pai do MPLA, por essa grande razão. No segundo cenário sobre o nacionalista Ilídio Machado, pode ser este por duas razões: Foi o arquitecto da origem do MINA e do MPIA em 1959 que passavam a se identificar como MPLA;

a) Foi o arquitecto do PLUA que corresponde a metarmofose do PCA em 1956 nessa organização anti – colonial.

Três fenómeno o acusam de não ser Ilído Machado o ideólogo e arquitecto do MPLA:

a) Não foi ele o ideólogo do PCA mas sim Viriato da cruz;

b) O PLUA não existiria se o PCA não fosse criado;

c) O MPLA na sua literal forma não é PLUA, mas sim outra coisa porque tanto em Angola quanto no exterior até o final do ano de 1959 não há indícios que comprovem a existência do movimento.

d) O manifesto, segundo o qual o MPLA é ramificação do PLUA, dando lugar a versão literal de criação do MPLA, pertenceria à obra de Viriato da Cruz escrita em 1956 para os estatutos do PLUA, em suas palavras finais pronclama a população angolana para a criação de um amplo movimento popular de libertação de Angola. Esse trecho, portanto, teria servido de inspiração para o nome MPLA, se nesta versão o MPLA vem do PLUA, de então seria Viriato da Cruz o seu Pai, ideólogo e arquitecto, através do manifesto de 1956 cuja origem do partido somente se efectivou em 1960, mesmo que fora criado esse movimento em 1956, não consiguiu concretizar tal facto, o facto somente se concretizou após a conferência realizada em Tunes em 1960.