Luanda - A violência doméstica parte de pequenas expressões como “cala a boca”, “ tu és minha e de mais ninguém”, que muitas das vezes se transformam em “ se não fores minha não serás de mais ninguém”... Essas palavras que parecem inofensivas muita das vezes são ignoradas e tidas como uma forma de expressar os sentimentos negativos misturados com um tom de gozo. É de conhecimento geral que alguns homens também sofrem muitos dos variados tipos de violência em seus lares, mas hoje, prefiro me focar apenas nas Rosas Roxas da nossa sociedade, aquelas que sofrem caladas agressões físicas e usam maquilhagem para esconder os hematomas e a vergonha que não lhes pertence pelo simples fato de zelarem pelo bem do parceiro que tem sido um total desumano com elas, e essa preocupação do que pode acontecer ao parceiro se tomarem uma posição diferente ao denuncia-lo ou ao abandona-lo deixa-as em situações muito perigosas e na maioria das vezes chega por pôr fim a vida delas.

Fonte: Club-k.net


É quase impossível negar que este problema existe desde as sociedades mais antigas, onde a mulher sempre foi vista como objeto e como via de reprodução e satisfação masculina. Mas infelizmente ainda é bem visível em muitas culturas da sociedade atual comportamentos que inferiorizam e vejam a mulher como objeto, por exemplo a mutilação de alguns órgãos genitais femininos impedindo assim que a mulher sinta prazer durante a relação sexual. Isso dá uma ideia aqueles homens (se é devemos chamá-los assim) que a mulher é um objeto que pode ser usado quando e como lhes apetecer, por isso muitas vezes agridem verbal, moral e fisicamente e até mesmo chegam a pôr fim ao direto de vida que cada um tem. Não estou a querer justificar essa ação macabra de alguns homens, pelo contrário, condeno completamente qualquer tipo de violência e a lei é clara quanto ao assunto.


Meu objetivo é simplesmente deixar em reflexão o papel de cada um de nós como seres humanos e da sociedade de um modo geral a não se calar ou arranjar desculpas para justificar esses tipos de comportamentos. Há que refletir em coisas que de uma forma direta ou indireta passam ou relacionam a imagem da mulher como um objeto ou produto em mercado comercial e principalmente como propriedade masculina. Algumas atividades “culturais” como casamentos arranjados (hoje são menos visíveis, mas que ainda existem), casamentos obrigados por causa de gravidezes indesejadas, nalgumas vezes esses tipos de casamento não há amor, gerando um sentimento de raiva mútua ou apenas de um dos lados do casal, isso tudo pode estar na base do que tem acontecido não só em nosso país, mas no resto do mundo também.


O pior ou o maior dos problema em Angola é a Má interpretação do alambamento, muitas famílias não deixam aquela visão bonita do ritual de união e formação de uma nova família, fazem listas enormes de exigências que representam “o valor da sua filha” deixando assim a imagem de compra e venda, sendo a mulher o produto de compra e os bens que a família da noiva pede o produto de compra , e os homens aproveitam-se disso ficando com o pensamento “ eu comprei, então ela pertence-me e posso fazer com ela o que bem me apetecer, um saco de pancada, uma máquina doméstica ou até uma boneca insuflável , não importa... quando cansar dou por fim a sua existência e procuro outro brinquedo”. Parece até exagerado de minha parte, mas é exatamente isso que tem acontecido com muitas mulheres, sofremos agressões verbais e físicas, assédio sexual, somos violadas, esfaqueadas e mortas e tantas outras coisas que têm acontecem sem vir ao público.


A violência doméstica é um problema social muito grave que não deve ser ignorado ou tratado com desdém. Mulheres, não se intimidem com que a sociedade pensar se entrares com um processo de divórcio, só tu sabes o que tens passado, tuas lutas, teus sofrimentos e teus limites, não espere que estejas em uma sepultura para que ouçam tua voz de socorro. Denuncie, separe e seja livre de agressões, não permita que façam de ti uma eterna rosa roxa, quando podes ser uma rosa vermelha brilhante para o mundo. Pensemos e reajamos! O que aconteceu com Carolina da Silva e com outras tantas mulheres pode acontecer contigo, comigo, com teu filho, com a tua filha com qualquer membro de tua família. Estamos todos chamados a mudar esse quadro infeliz.