Luanda - As divisões dentro do MPLA estão a aprofundar-se e o partido poderá estar a caminho de uma “colisão”, disseram analistas angolanos contactados pela Voz da América.

Fonte: VOA

Os analistas reagiam a declarações do secretário-geral do MPLA, Boavida Neto, que numa entrevista a um jornal angolano manifestou publicamente a sua aversão às últimas prisões de figuras do partido no âmbito da cruzada contra a corrupção, assumida por João Lourenço.

 

É a primeira vez que uma figura de proa do partido no poder, em funções, se mostra crítica contra a actuação do seu próprio líder usando a comunicação social.

 

Um dos analistas disse à Voz da América que o grupo que se opõe a João Lourenço quer evitar o repatriamento compulsivo de capitais.

 

Na entrevista que deu ao semanário Expansão, Boavida Neto disse que “as prisões não vão resolver o problema” e que “não é bom” estar-se à procura de culpados mas sim deve-se reconhecer que “o caminhos que estávamos a seguir não era o melhor”.

 

“Eu não estou de acordo e não acho justo que se prendam por causa de factos que ocorreram em 2010 e 2012”, disse.

 

“ Temos que encontrar um denominador comum e uma solução boa para o país (...) para que as mudanças não sejam apenas um “fogo de artifício”, afirmou.

 

Apesar de afirmar que o combate à corrupção é um processo "irreversível” Boavida Neto ressalvou: “Não estamos à procura de uma revolução mas de uma transformação social e que não é correcto pensar-se que os corruptos só são aqueles que estiveram ligados ao governo”.

 

O secretário-geral do MPLA, que assumiu vários cargos no governo de José Eduardo dos Santos, disse que os dirigentes do seu partido devem se redimir e assumir os erros cometidos.

 

Boavida Neto assegurou que “em nenhuma circunstância” irá contra o antigo presidente da República “pelos muitos motivos positivos que deu à Pátria”.

 

Assumindo-se como “livre de pensamento e de liberdade” Boavida Neto advertiu que o presidente João Lourenço pode cometer erros “se não for ajudado”.

 

Para o analista Ilídio Manuel as declarações de Boavida Neto configuram o surgimento de duas vozes no seio da liderança do MPLA: “Fica-se com a ideia de que há clivagens no seio do próprio partido, que está a falar a duas vozes”.

 

“Há uma bicefalia a nível do partido”, acrescentou o analista para quem “o próprio Boavida Neto é uma das figuras acusadas de envolvimento em casos de corrupção”.

 

O analista, André Augusto, também admite que a nova direcção do MPLA esteja a entrar em “rota de colisão”.

 

Tal como Ilídio Manuel, André Augusto também considera que, com estas declarações, o actual secretário-geral pretendeu ser advogado em causa própria.

 

Manuel disse que Boavida Neto “faz parte da ala pró José Eduardo dos Santos” e portanto teria que fazer críticas ao actual presidente.

 

Isso como parte de uma estratégia “para poderem evitar o repatriamento compulsivo de capitais”.

 

“A estratégia é essa, nomeadamente começarem a chutar contra o presidente da República e contra aquilo que são os seus discursos políticos”, acrescentou.