Luanda - Angola está "expectante" sobre quais serão as linhas da futura política externa brasileira, sobretudo as referentes à lusofonia, garantindo, porém, disponibilidade para diversificar bilateral e multilateralmente, disse hoje à agência Lusa o chefe da diplomacia angolana.

Fonte: Lusa


Em declarações à Lusa, Manuel Augusto escusou-se, no entanto, a intrometer-se na política externa do Brasil, alegando que o povo brasileiro elegeu uma nova liderança "durante um processo político e eleitoral democrático".

 

"Não nos oferece fazer nenhum comentário, porque o povo brasileiro acabou de escolher uma nova liderança durante um processo político e eleitoral democrático, e naturalmente, estamos todos expectantes sobre quais serão as linhas da política externa brasileira, e no que diz respeito à CPLP [Comunidade dos países de Língua Portuguesa]", disse Manuel Augusto.

 

O ministro das Relações Exteriores angolano, que representará Angola na tomada de posse do novo Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, na terça-feira, salientou que as relações de Luanda com todos os Estados lusófonos "são boas" e que todos desejam reforçá-las.

 

No entanto, Manuel Augusto realçou que as relações angolano-brasileiras - "muito ambiciosas" como disse o embaixador do Brasil em Luanda, Paulino Carvalho Neto -, estão num compasso de espera, uma vez que Angola "decidiu dar tempo" para que o processo eleitoral terminasse.

 

Essa foi, aliás, a resposta de Manuel Augusto quando questionado sobre a linha de crédito de 5.000 milhões de dólares (4,3 mil milhões de euros) proposta pelo Governo cessante brasileiro, liderado por Michel Temer.

 

"Os números não são necessariamente esses, mas, desde que, no ano passado, começou o processo pré-eleitoral no Brasil, decidimos dar um tempo para a discussão. Eu deveria ter visitado o Brasil [em 2018], não o fiz. Espero fazê-lo em 2019 já com o novo Governo, que vai decidir se manterá, melhorará ou diminuirá ou não o nível das relações financeiras e económicas com Angola", afirmou.

 

Em declarações à Lusa, em outubro, Paulino Carvalho Neto realçou que o Brasil quer atingir novamente os 4.000 milhões de dólares (3,47 milhões de euros) no comércio bilateral com Angola, valor registado na primeira década do século, estando atualmente em um quarto desse montante.

 

O embaixador do Brasil em Angola salientou então ser necessário diversificar as trocas comerciais bilaterais, evitando concentrar as atividades económicas, seja em investimento seja em importação de bens, em um ou dois produtos, como o petróleo.

 

"Queremos diversificar a pauta de investimentos, de importação e de exportação", sublinhou, indicando as áreas do agronegócio, agricultura, pecuária e indústria de transformação de alimentos, "em que o Brasil tem um know-how reconhecido internacionalmente e em que é competitivo", estando em estudo uma linha de crédito brasileira que se falou então em 5.000 milhões de dólares, mas baixou para 2.000 milhões (1.740 milhões de euros).

 

Fruto de um acordo bilateral, o Governo angolano comprometeu-se em outubro a entregar ao Brasil o equivalente a 20.000 barris diários de crude, no âmbito da negociação de uma nova linha de financiamento e seguro de crédito brasileiro para exportações.

 

A nível bilateral, acrescentou, "há um potencial muito grande", pois as trocas comerciais estão a um quarto do valor atingido na primeira década do século XXI que, no seu auge, chegaram aos 4.000 milhões de dólares.

 

"Hoje, o comércio bilateral atinge quase mil milhões de dólares. Há sem dúvida muita possibilidade de crescimento e de retomar pelo menos esses valores", defendeu o embaixador do Brasil em Luanda, estimando em 3.000 milhões de dólares o financiamento brasileiro à economia angolana nos últimos 20 anos.

 

Segundo Paulino Neto, na área multilateral, há a vontade política de integrar Angola nos BRICS - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul -, tal como Brasília defendeu na cimeira daqueles cinco Estados, que se reuniram em julho na cidade sul-africana de Joanesburgo.

 

Até há uns anos, o Brasil importava de Angola maioritariamente petróleo, números que têm vindo a diminuir porque, também nos últimos anos, a produção petrolífera brasileira também tem aumentado - atualmente, produz cerca de quatro milhões de barris/dia, contra os cerca de um 1,5 milhões angolanos.

 

No sentido contrário, as exportações brasileiras para Angola são todas do setor do agronegócio - carne, açúcar, alimentos industrializados.