Luanda - A nomeação do Sérgio Luther Rescova para exercer o cargo de Governador de Luanda suscitou, em muitos círculos, fortes debates. Uma série de personalidades da sociedade, com algum destaque mediático, mostraram-se contra a nomeação, com uma série de fundamentos, que em meu entendimento, salvo melhor opinião, não são justos e nem verdadeiros. Logo, cumpre-me, de seguida, de modo fundado e com rigor analítico, apontar e rebater cinco das maiores críticas à nomeação do Sérgio Rescova como Governador de Luanda.

Fonte: Club-k.net

1- É muito jovem : A primeira crítica, infundada, é que Sérgio Rescova é muito jovem. Infelizmente, alguns sectores da sociedade, com muitos preconceitos, são contra o facto de “jovens” exercerem funções de topo no aparelho do Estado e de empresas. Em primeiro lugar, Rescova não é propriamente um jovem. Tem 38 anos, sendo que, legalmente, para ser PR basta que tenha 35 anos. Ele assume a função com mais um ano que JES, quando este último assumiu a presidência do país e menos um que Macron em França. Tem mais sete anos que Sebastian Kurz (Primeiro-Ministro da Áustria). Logo, este argumento é falso. Somos um país de pessoas jovens e devem ser estes a assumir gradualmente as mais altas funções de Estado. Critica-se (e bem) a falta de renovação geracional da classe política e de dirigentes, mas, quando é nomeado alguém relativamente “jovem”, são os mesmos a alegar a pretensa juventude, que torna inapto para a função. Precisa-se, por conseguinte, de coerência.

 

2- É inexperiente : O segundo argumento da pretensa inaptidão de Sérgio Rescova é a inexperiência governativa. Este argumento também é falso, senão vejamos: O Brasil elegeu Bolsonaro quando este apenas foi deputado federal, sem experiência de governação. Cá no país, os líderes da Oposição, Isaias Samakuva e Abel Chivukuvuku não têm experiência governativa. Porém, e bem, eles são candidatos a exercerem a mais altas função de Estado (PR). Ninguém com sensatez diz que eles não podem ser PR porque não têm experiência governativa. Estes líderes têm um percurso político próximo (embora com mais longevidade) a Sérgio Rescova. São deputados, membros do Conselho da República e altos dirigentes dos seus partidos. Rescova era deputado em terceiro mandato, membro do Conselho da República há mais de dez anos, membro do Comité Central do MPLA, do BP e do Secretariado do partido que governa o país por igual período. Logo, tem muita experiência política e conhecimento dos processos de decisão, até pela natureza e sensibilidade dos dossiers tratados nestes órgãos. Por fim, já verificamos que se optarmos por escolher sempre aqueles que alegadamente têm experiência de governação, o país continuará a estar da mesma forma, ou seja, com muitas dificuldades. É preciso colocar rostos novos, competentes e comprometidos com a causa pública.

 

3- Não tem estrutura (força, peito, arcaboiço) para aguentar a função: Luanda, alegado “cemitério dos Governadores”, já teve muitos dirigentes, com muita experiência governativa e outros nem tanto, desde políticos de carreira, escritores, economistas, generais etc. Diz-se que o Governador precisa de “ter peito” para aguentar esta cidade, já que, alegadamente, é uma cidade onde todos mandam. Porém, não creio que este critério subjectivo seja o mais correcto. O Governador de Luanda deve ser acima de tudo competente e ter grande engenho e criatividade para dar as soluções possíveis, aos problemas complexos que a cidade enfrenta. Precisa de ser visionário, focado em encontrar soluções e não lamentar dos problemas. Precisa escolher uma boa equipa, de pessoas competentes, comprometidas com o bem comum e não os interesses individuais. Finalmente, deve ter Autoridade para impor, para todos, as soluções que melhor satisfaçam o interesse público. Não temos nenhum elemento que nos diga, objectivamente, que Sérgio Rescova (ou outro dirigente jovem em início de funções governativas) não tenha estas qualidades. Devemos dar tempo necessário e posteriormente avaliar. Urge prevenir pré-juízos de valor, por questões de coerência e justiça.

 

4- O PR deveria escolher alguém fora do seu partido para governar Luanda: Alguns sectores entendem que o PR deveria escolher outra personalidade fora do MPLA para governar Luanda, sugerindo alguns nomes da Sociedade Civil e da Oposição. É uma opinião válida. No entanto, a competência de escolher o Governador de Luanda é exclusiva e discricionária do PR. Logo, se ele pretende que seja alguém do seu partido a governar a maior cidade do país em termos populacionais e maior praça eleitoral, é uma decisão, do ponto de vista da lógica política, sensata.Sendo Sérgio Rescova “jovem”, numa cidade composta maioritariamente de pessoas jovens e o país está próximo do processo autárquico, a decisão é acima de tudo, futurista e inteligente. Os outros líderes da Oposição certamente fariam o mesmo. Logo, em respeito ao princípio democrático, devemos respeitar a escolha que quem foi eleito para fazer outras escolhas (ainda que não concordemos com ela). Isso se chama Democracia.

 

5- Não tem formação e qualificação para o cargo: Talvez seja a crítica mais injusta e vil de todas. Sérgio Rescova tem uma formação sólida, sendo licenciado, mestre e doutorando em Direito. Além de deputado, é Professor da Universidade Católica de Angola há mais de 12 anos. Logo, para o nível geral do país e da formação académica dos governantes, Sérgio Rescova tem uma posição confortável. Sem que isso signifique sucesso governativo, mas pode ser um indicativo.

 

Conclusões : Como Africanista, que sempre lutou para o rejuvenescimento da classe política, a nomeação de pessoas “jovens”, desde que competentes e comprometidas com a causa pública, é sempre urgente e bem-vinda. *Entendo que devemos dar oportunidade às pessoas nomeadas ou eleitas provarem, dentro de um tempo razoável, o seu valor . Isso deve ser para todos, independentemente da cor partidária. Os bons princípios de Cidadania devem prevalecer, além dos interesses pessoais. Logo, julgo que devemos eliminar de vez da nossa sociedade a Política do Caranguejo ( conta a lenda que um pescador estava a apanhar caranguejos e os colocava num balde, sem o tapar. Questionado se não tinha receio da fuga, ele respondeu que estes caranguejo eram angolanos. Sempre que um tentava subir, os outros tratavam de um puxar para baixo).

*Docente da Universidade Católica de Angola