Luanda - Os melhores cumprimentos, com votos de um exitoso começo de 2019, sobretudo na difícil e complexa missão de dirigir este importantíssimo órgão do Estado, que tem por missão a manutenção do nosso Estado de democrático e de Direito e a ordem e tranquilidade dos cidadãos.

Fonte: Club-k.net

Não pretendo me alongar muito nessa exposição, por isso vou diretamente ao ponto. Permita-me, em primeiro lugar, justiçar a razão por que lhe dirijo uma carta aberta e não propriamente uma denúncia ao seu gabinete. A razão é muito simples, é que com a carta aberta tenho a plena certeza de que o assunto chegará até vós, quer directa, quer indirectamente, pois, destino diferente pode ter se a endereçar ao vosso gabinete.


Feita a explicação, vamos ao que venho;


Vossa Excelência é dos rostos mais visíveis da operação resgate em curso no país; e afirmou na abertura do Conselho alargado da Polícia, que a “operação resgate” regressa nos próximos dias com maior vigor, porque a corporação tem encontrado resistência, renitência de algumas pessoas com retorno a antigas práticas... Também temos memória de outras declarações anteriores a essas, que consideramos felizes pelo seu conteúdo. Porém, há perguntas que não se podem calar: como pode um órgão como a polícia que melhor conhece o ABC da extorsão e da corrupção moralizar uma sociedade moldada a normalizar o errado?! Feita de outra maneira, quando começa realmente a operação resgate dentro da própria polícia? Terá a polícia alguma moral para dirigir uma operação de tamanha envergadura, quando ela precisa urgentemente de ser resgatada?!


Vou ilustrar a minha exposição com alguns exemplos; e para não ser genérico na abordagem, vou concentrar-me apenas na POLÍCIA DE TRÂNSITO; e embora a situação seja conjuntural em todo o País, com as devidas excepções, vou tomar como exemplo a Província do Bengo, a mais próxima de Luanda, por sinal de onde lhe escrevo:


A “cidade” de Caxito, capital da Província do Bengo, fica a 36 (trinta e seis) kilómetros de Luanda, tendo como referência a zona do Kifangondo. Durante o dia é possível encontrar 5 a 6 “postos de extorsão” da polícia neste trajecto. Eis os referidos postos: entrada do parque do Sassa Povoação, na vila de Caxito, paragem da Açucareira, subida de 10% do Porto-Kipiri, desvio da Barra do Dande e na entrada do sector 1 do Panguila ou na entrada do Mercado com o mesmo nome. São clientes preferenciais da polícia de trânsito neste período do dia, os “azuis e branco”, mini-autocarros e camiões chineses (e não só), que
fazem aquele percurso todos os dias, obrigados a pagar à polícia entre 500 e 1000 kwanzas.

Durante a noite e madrugada, onde o alvo são os camiões/carrinhas que vêm do interior da Província e das províncias vizinhas, supercarregados com produtos do campo, que normalmente aproveitam as altas horas para se livrarem dos inúmeros contróis ao longo do dia, os postos são os seguintes: controlo do desvio do Icau ou o dos Libongos para quem vem do Ambriz e Zaire, Quiosque da vila de Caxito, paragem da Açucareira, desvio da Barra do Dande, Porto seco, Pensador (estes dois últimos num raio de aproximadamente 1,5 kms) e na entrada do Panguila; sem contar com o giro que em vez patrulhar os bairros de Caxito e Panguila onde a criminalidade cresce de forma vertiginosa, pôem-se também na estrada a espera das viaturas carregadas. Normalmente, o estado técnico dessas viaturas é bastante precário, mas isso não conta para os agentes que estão mais interessados na quota diária estabelecida, do que na integridade dos cidadãos.


Vou preferir ficar-me por aqui e não falar de algumas estradas nacionais, sobretudo a 230, 100 e 100 A (sentido Luanda-Uige e Zaire), pois a coisa fica mais feia!


Qual a razão para tantos postos policiais, entre fixos e móveis, num perímetro tão curto, quando na prática sabemos que não cumprem com a sua função?! Das conversas que temos mantido com efetivos da polícia nacional, dizem-nos que quer as “operações stop”, algumas delas “arbitrárias”, quer o excessivo número de constróis, têm a mão de comandantes, que mandam os seus homens todos os dias à rua para manterem os seus bolsos sempre cheios. Os relatos que temos sobre os balbúrdios de dinheiro que se conseguem com essas operações são assustadores!


Excelência senhor Comandante Geral, o senhor prometeu pôr ordens na polícia nacional; portanto, a pergunta que não se cala é: pra quando o fim desse estado de coisas? Pra quando o fim do enriquecimento dos efectivos da polícia à custa da extorsão dos pacatos cidadãos? Ou então se pretende eternizar a máxima segundo a qual, a gasosa (agora transformada em saldo) é um entendimento entre o polícia e o cidadão?


Sabemos das boas intenções e dos bons discursos de vossa Excelência sobre a moralização da polícia; mas pelo estado das coisas o senhor vai precisar mais do que as palavras.


A terminar, apenas uma nota de rodapé: quando falei disso numa estação local de rádio, na qual colaborava como comentador, a polícia local, através do porta-voz da Delegação do MININT/Bengo, fez pressão a direcção da rádio para o meu afastamento e tal aconteceu. Pois então, não vos assuste se coisa pior vier acontecer comigo.

Tenho dito.