Luanda - Uma menina de seis anos de idade morreu, no passado dia 21 de Dezembro, após ter contraído o vírus do HIV numa transfusão de sangue, na província da Lunda Sul, menos de três meses depois de um caso similar, em Luanda, sem, no entanto, ter provocado morte.

Fonte: O crime

Neste caso recente, a menina Vivalda Rita Muaecassagem Nino chegou ao hospital pediátrico do bairro Luavuri com febre e fortes dores de cabeça, sintomas de paludismo, doença que motivou o seu encaminhamento para o hospital central, já com a hemoglobina baixa.

Na maior unidade hospitalar da província, em Saurimo, a capital, em companhia da mãe, os médicos recomendaram uma transfusão de sangue, com um doador do grupo B, que cobrava cinco mil Kwanzas, valor fora do alcance da família.

Segundo o relato captado pelo ‘O Crime’, a alternativa foi recorrer a pessoas conhecidas e a membros da família, de onde saiu um tio da parte materna, do grupo sanguíneo recomendado, que doou sem ter sido submetido a exames.

Após a transfusão, a menina foi mandada de volta para casa, tendo regresso ao hospital quatro dias depois, e com os mesmos sintomas, contam as nossas fontes, que dão a conhecer uma nova transfusão, mas com recurso ao stock da unidade hospitalar.

Conforme consta, os sintomas que a pequena apresentava ‘não eram normais’, pelo que um dos médicos pediu para que se fizesse um teste de HIV, tendo o resultado (positivo) caído ‘que nem uma bomba no circuito familiar’.

Com Vivalda internada, a sua família reunia com a direcção do hospital para tentar perceber como foi possível acontecer, num frente-a-frente assistido pela directora da Saúde, do chefe do Departamento de Saúde Pública, representante da OMS e da Inspecção da Saúde, em obediência a um pedido de João Muaecassagem, avô da parte do pai.

Ficou decidido, então, que se podia submeter os pais e membros próximos da família ao teste de HIV, tendo dado para o negativo todos os exames. O resultado alterou quando o tio que doou o sangue foi ‘posto à prova’

Nada, ainda assim, que evitasse uma preocupação dos médicos, já que foi diagnosticada a doença à menina logo um mês depois da transfusão de sangue.

Soube-se, pois, que a pequena já se encontrava doente desde 14 de Dezembro de 2016, aos três anos de idade, em fase algo crítica. Foi contaminada no mesmo hospital.


Omissão da informação

Quando se detectou o erro do hospital, o Ministério da Saúde fez questão de abafar o caso. Posteriormente, a directora provincial da Saúde deslocou-se a Luanda e deu a conhecer à ministra da saúde, Sílvia Paula Lutucuta.

“Disseram à ministra que a minha neta só atingiu este estado avançado da doença porque nós a levamos a casas dos kimbanda. Pura mentira. Nós nem sabíamos que era seropositiva”, lamentou o avo, lembrando que ‘os dias forram passando e o estado da menina piorava a ponto de não comer, vomitava constantemente e no dia 21 de Dezembro acabou por morrer naquele hospital’’.

Para apoiar o funeral, a directora saúde deu um saco de carninhas, arroz e feijão, prossegue a fonte. “Senti-me ofendido, pois nem a caixa deram e, como se não bastasse, têm nos ameaçado para não denunciar o assunto à imprensa”, revela.

À hora em que fechávamos esta edição, esse dossiê encontrava-se em posse da ministra da Saúde, que não terá tomado ainda qualquer posição.

Dois casos em menos de três meses


Recentemente, uma menina de 7 anos também foi contaminada com o vírus de HIV, depois de uma transfusão de sangue na pediátrica de Luanda.


O caso ocorreu quando a criança, cuja identidade tem sido preservada, deu entrada com problemas de estomatologia e com sintomas de anemia, tendo recebido uma transfusão de sangue, aparentemente contaminado com o vírus HIV.

Foi detectado menos de 24 horas depois da transfusão e o secretário de Estado para a área hospitalar, numa conferência de imprensa, assumiu que houve "erro humano" e que a equipa que estava de serviço foi suspensa, tendo-se iniciado um inquérito para apurar responsabilidades.

Leonardo Europeu Inocêncio, que falou em representação da ministra da Saúde, Sílvia Lutukuta, indicou que, segundo as primeiras informações, o dador do sangue contaminado "desconhecia" que era seropositivo, mas não explicou por que razão o sangue não foi, entretanto, analisado.