Luanda - O casamento é definido no Código de Família Angolano como sendo a união voluntária entre um homem e uma mulher formalizada nos termos da lei com o objectivo de partilharem uma plena comunhão de vida.
Fonte: Club-k.net
Nos tempos que lá se foram, era normal celebrar as bodas de lata, prata e ouro, que é a celebração dos dez, vinte e cinco e cinquenta anos de casamento, respectivamente.
Hodiernamente, ao contrário dos antanhos, passou a ser normal, entre adultos e jovens, fazer-se as coisas e também dizê-las, sem o mínimo de respeito pelas mesmas, talvez por causa da crise de valores que recaiu sobre o cosmo actual, e que subsequentemente mudou toda a nossa forma de pensar e agir.
A vida humana deu consideráveis saltos: da fase da graça à amarguração total, de forma que tudo, inclusive o bem, parece transformar-se em mal. Por conseguinte, a palavra amor, tal como no-lo diz Bento XVI, na sua Carta Encíclica DEUS CARITAS EST, é a mais usada e mesmo – avança ele – a mais abusada no mundo. Neste sentido, ser infiel constitui negação a este sentimento nobre, que não nasce essencialmente da vontade humana, mas que de forma fenomenológica nele recai: o amor sexual e erótico.
Ligam-se à ideia de casamento, a casa, os utensílios e os meios necessários à sua subsistência. Numa dimensão mais transcendental, o casamento encerra um significado muito profundo, dado anteceder-se de um sim comprometido que advém da intenção e vontade de ambos partilharem a vida.
A aliança simboliza ligação dos dois: homem e mulher! Por isso, a imposição do véu tem em vista a consagração da noiva a um único marido.
Na generalidade das nossas vivências, tem-se constatado que os casamentos estão a ser celebrados e contraídos apenas para formalizar mais um momento da vida e moda, sem convicção autêntica acerca daquilo que se quer numa ignorância de perto sobre as promessas matrimoniais: “só a morte nos separa”, e caso julgar-se peremptório, lá na outra vida e se outra vida houver, é a ti que escolho também como marido ou mulher.
Na vida, quando somos e não somos, passamos a ser falsos e fragmentados e, como tal, defraudamos a confiança que granjeávamos dos outros.
O amor e a infidelidade não coadunam, nem rimam, tanto nas palavras, quanto no seu substrato semântico, ao menos neste mundo, que todas as manhãs nos oferece com as mãos da madrugada mais uma oportunidade para resolver os problemas aritméticos da “muenhu1”, sob a forma mais adulta que é dialogando e comunicando.
O diálogo deve ser a grande alavanca para servir de remédio às nossas insatisfações no lar. Pois que, abrir-se com o parceiro é o maior e melhor acto penitencial, que alimenta a esmagadora população matrimonial. Quando assim não acontece, a vida transforma-se em lágrimas e lago da turvabilidade. A falta de diálogo afasta as pessoas, ainda que estas estejam no mesmo espaço geofísico. Dialogar significa respeitar as opiniões do outro e não julgá-las. É dizer a verdade, mas nalguns casos, ouvir mais. Por conseguinte, a soberba é dos pecados capitais, como diz Gregório Magno, Santo e Doutor da Igreja, que mata o diálogo. Por isso, quando não há mansidão no falar com o parceiro, o lar pode cair num campo de batalhas, com efeitos superiores ao das duas guerras mundiais. Uma relação, qualquer que seja não sobrevive longe do diálogo.
Chorar é um bem em si mesmo, por isso, a todos alivia e consola no silêncio da praça. É desde sempre a táctica mais humana de expressar aquilo que, apenas com palavras e gestos, não se consegue trazer ao “muro das lamentações”.
Congratulo-me com quem chora, mas com pena de quem se vê forçado a formar rios de lágrimas, por incompreensões, falta de consideração ou infidelidade do cônjuge.
Paralelamente a isso, vezes há em que é necessário chorar para se sentir livre e ter a consciência de que talvez se fomos traídos é porque esta pessoa não vale o quanto a consideramos. É triste confiarmos em pessoas erradas que tenham entrado na nossa vida no momento errado com perspectivas certas que influenciaram a nossa tomada de decisão. Choca com a idéia de justiça, chorar por alguém que não parece digno.
A mão invisível do Estado precisa ser mais forte, actuante e efectiva, para que aos noivos sejam exigidos requisitos como o MÍNIMO DE IDONEIDADE para a educação dos filhos, gestão do lar, partilha da cama, etc. Isto passaria pela aplicação de programas concretos de formação dos futuros casais para uma vida mais autêntica na atmosfera familiar.
Há pessoas que são infiéis, porque tal prática lhes é conatural. São mentores de situações utópicas que em nada ajudam a construir a vida de duas pessoas que se deixaram contaminar pelo vírus da paixão comprometida. Neste particular, a sociedade tem as suas mil culpas por educar mal os seus filhos em relação ao dever ser. Criou-se uma consciência errónea a respeito das posses (dinheiro) ou o dever ter.
A vida ficou circunscrita à televisão. A sociedade já olha positivamente para aquilo que é desprezível, paliativo, efémero e míope. Discordo, com o novo mundo que CRIAMOS, onde ser infiel é NORMAL e REGRA. As pessoas passaram a ser estimuladas a práticas imorais num mundo cada vez mais indigente no que a própria moral diz respeito.
Todavia, aconselha-se ao casal a ter uma vida religiosa e espiritual forte, verdadeiramente comprometida com o Divino.
Um casal que seja cúmplice não deve matar o companheirismo e a confidencialidade. Ler e orar juntos são hábitos que ajudam a revitalizar o amor na relação.
Seja fiel, pois sem fidelidade e responsabilidade, o casamento perde boa parte da sua riqueza.
Que se observe na relação o sexo de qualidade que contribua para o bem-estar emocional e psicológico do casal; não se esqueçam de ser eternos amigos e namorados; O casal que quer fazer a diferença na relação deve ser autêntico. Sejam vocês mesmos e tratem-se sempre com respeito e educação. O marido deve reservar mais tempo para a vida conjugal e familiar. O casal deve ser bom em perdoar um ao outro, pois o perdão transforma e é um dos rostos mais lindos do amor. Aliás, quem não perdoa sofre e tem muitas feridas na alma.
O ser humano nasce para a liberdade do amor. Cruel seria sentir- se enganado, feito um objecto com avaliação pecuniária, que hoje vale e amanhã não, numa instrumentalização e mecanização angustiante que me faz reflectir: “prefiro ser coisa bem tratada que ser humano humilhado no curral das memórias da vida”.
ADILSON SALVADOR - Escritor -