Luanda - O Governo angolano garantiu hoje que são "completamente falsas" as informações referentes a casos de tráfico de órgãos humanos na província angolana do Cunene, considerando tratar-se de "uma campanha que visa instalar o pânico e insegurança" à população.

Fonte: Lusa


Em comunicado, o Ministério do Interior de Angola refere que "de algum tempo a esta parte, pessoas com fins inconfessos têm divulgado nas redes sociais falsas informações referentes a eventuais casos de tráfico de órgãos humanos".

 

O padre católico angolano Félix Gaudêncio disse, recentemente, que a população da província do Cunene, sul do país, "estava assustada" com os "crescentes relatos" de traficantes de seres humanos, sobretudo crianças, quatro dos quais já detidos pela polícia.

 

"O quadro é de medo, a população está mesmo com medo, em pânico, porque se trata de uma população que, anteriormente, acolhia muitas pessoas, orientava quem estivesse perdido, mas hoje em dia há esse receio de orientar ou acolher estranhos", disse a 30 de janeiro, em declarações à Lusa.

 

A polícia da província angolana do Cunene deteve quatro supostos traficantes de seres humanos, que tentavam aliciar crianças, situação que preocupa os moradores.

 

"Nas imediações do mercado Chamucuio [em Ondjiva, capital da província], foram detidos quatro supostos traficantes de seres humanos", na sequência de denúncias da população de que estariam a "aliciar crianças" com guloseimas, com o objetivo de as "levar para a Namíbia", país vizinho, relatou, em janeiro, o comandante da polícia local, Tito Munana, à imprensa local.

 

Após a audição dos quatro suspeitos, a polícia está "no encalço de mais uma senhora, que é a suposta mandante do grupo", referiu o responsável.

Hoje, o Ministério do Interior angolano dá conta que "depois de um trabalho investigativo árduo desencadeado por especialistas na matéria, concluiu-se tratar-se de informações completamente falsas".

No documento, as autoridades recomendam igualmente o "não-encaminhamento a terceiros de notícias desta natureza", apelando a toda população, particularmente a da província do Cunene, a "manter-se calma e denunciar todos os que procuram semear o medo".

O Padre Félix Gaudêncio, também presidente da Associação Ame Naame Omuno, de defesa e promoção dos direitos humanos na província, defendeu ainda, na ocasião, o "reforço do policiamento" no seio das comunidades, afirmando que o tráfico de seres humanos na província "é uma prática antiga".

"Porém, agora ganha maior visibilidade por causa dos meios de comunicação e por causa do mediatismo, então, isso é uma realidade porque chama muito a atenção o facto de aparecerem pessoas assim mortas, de vez em quando", bem como "aparecerem pessoas a dizerem que estavam a ser aliciadas para serem levadas para a Namíbia", concluiu.

Em dezembro de 2018, um vídeo publicado nas redes sociais apresentava um suposto autor confesso desses crimes, relatando como terá matado uma mulher, a quem terá retirado os órgãos, que foram levados para a Namíbia.

Questionado sobre o assunto, o também delegado do Ministério do Interior de Angola no Cunene, Tito Munana, referiu que as autoridades judiciais "ainda não provaram se os relatos do suposto traficante do vídeo divulgado eram verdadeiros".