Luanda - Quando José Eduardo dos Santos nasceu, Angola sentia os efeitos de uma crise económica que devastava o mundo, por causa da Segunda Guerra Mundial, que se tinha iniciado em 1939. A guerra afecta sobretudo os países europeus, entre eles Portugal que, apesar de não participar militarmente, não escapa aos seus efeitos.

Fonte: Club-k.net

Angola ainda era uma colónia portuguesa e curiosamente é durante a guerra que abranda a resistência angolana ao colonialismo. Mas a repressão colonial não diminui. A economia angolana, enquanto colónia, vive sobretudo das grandes fazendas de café e algodão, onde se manifesta mais a exploração aos trabalhadores.


1961 é um dos anos mais decisivo na vida de José Eduardo dos Santos que começa com a revolta na Baixa de Cassange, em Janeiro. Um mês depois, há o assalto às cadeias de São Paulo e, em Março, os ataques às fazendas do Norte de Angola. Intensifica-se assim a revolta angolana contra a colónia. Portugal reforça o número de tropas e polícias em Angola. Nos bairros de Luanda, aumenta a contestação e muita gente decide lutar contra os portugueses. Em Novembro, José Eduardo dos Santos, depois de estudar no antigo liceu Salvador Correia, junta-se ao MPLA e mais tarde é obrigado a exilar-se em Brazzaville, capital da República do Congo. Começa nesse ano a pressão internacional sobre Portugal para permitir as independências das colónias.


Enquanto um homem pisa pela, primeira vez a lua, José Eduardo dos Santos conclui os estudos, engenharia de petróleos, em Baku, no Azerbaijão, na altura, uma república da União Soviética (URSS). O mundo fervilha com a luta pela hegemonia mundial entre os EUA e a URSS e os norte-americanos combatem no Vietname, naquela que se transformou na guerra mais mediática até então. Consolida-se a ligação do MPLA com Moscovo e muitos dirigentes são presos em Portugal e em Angola, enquanto outros lutam na mata. Em finais de 1969, Portugal tem mais de 40 mil militares para Angola, formando o maior exército de África.


A revolução portuguesa de Abril de 1974 ‘apanha’ José Eduardo dos Santos em Brazzaville a exercer o papel de diplomata que iria marcar a sua vida política. Representa o MPLA e pouco depois passa a coordenar o Departamento das Relações Exteriores. Angola atinge a independência em Novembro de 1975, mas enfrenta uma guerra civil que só viria terminar em 2002. O mundo divide-se em dois pólos: de um lado, a URSS, do outro, os EUA. É nesse tabuleiro que José Eduardo dos Santos assume a pasta do Ministério das Relações Exteriores. Angola tem aliados de peso, URSS, Cuba e China, e inimigos ao lado: a África do Sul, dominada pela minoria branca, mas que impõe um sistema de divisão de raças; e o Zaire, de Mobutu, que tenta atingir Luanda. O socialismo-científico é assumido como ideologia do poder angolano.


José Eduardo dos Santos chega à presidência de Angola em Setembro de 1979, pouco depois da morte do primeiro presidente António Agostinho Neto. O país enfrenta uma guerra em várias frentes: interna, a civil, e externa. Angola está no centro do furacão da guerra-fria e José Eduardo dos Santos emerge como negociador: defende a independência da Namíbia, o fim do ‘apartheid’ e a retirada das tropas sul-africanas de Angola. Em troca, admite a retirada das tropas cubanas. A meio da década de 1980, o mundo teme o pior: uma possível guerra à escala mundial, entre o bloco de países apoiado pela União Soviética e o dos aliados dos EUA.


Enquanto o mundo assiste, em directo, à guerra do Golfo, com os ataques dos EUA ao Iraque, Angola negoceia a paz. Os acordos, assinados em Portugal, resultam em eleições que José Eduardo dos Santos e o MPLA vencem, mas não são reconhecidos por Jonas Savimbi. É o regresso da guerra, mas Angola passa a ter outros amigos.

Pragmático, José Eduardo dos Santos consegue recolher apoios de Cuba aos EUA, da Europa à China. Angola deixa o monopartidarismo e adere à democracia multipardiária. A URSS e o bloco socialista desfazem-se. A economia da China desponta.


A morte em combate de Jonas Savimbi traz a paz a Angola, a partir de 2002. José Eduardo dos Santos vence as eleições de 2008 e as de 2012. A Constituição é alterada e Angola atinge crescimentos económicos como nunca tinha visto. As guerras moram longe, no Iraque, Afeganistão, Síria, mas África também não escapa: a Líbia fica com o poder na rua, a Nigéria enfrenta os extremismos religiosos, a República Democrática do Congo defronta-se com movimentos rebeldes, a República Centro-Africana vive à beira do caos. José Eduardo dos Santos acumula a chefia do Governo com a mediação de conflitos africanos.