Luanda - Nossa longa e ampla experiência na escola nos impele ao dever de contribuir com ideias para o sucesso do actual sistema de ensino angolano. Precisamos começar por esclarecer que todo sistema de ensino fácil de ser corrompido (ineficaz), produz pessoas não dignas dos títulos que se vem ostentando. A incapacidade do sistema de conseguir que os alunos aprendam, é outro aspecto que muito preocupa, pois, é pelo conhecimento técnico-científico que revolucionamos o sentido de Estado. São muitas e complexas as razões que trouxeram a Educação aos péssimos resultados que se repetem nos dias de hoje nas Universidades. Antes podemos nos lembrar da ausência de apreço que se tem, em Angola, pela escola e a pouca valorização que se dá ao professor, à sua ação e formação. Para citar apenas duas bastante relevantes.

Fonte: Club-k.net

A insistência em enfatizar problemas socio-cultural serve apenas para desviar o foco do problema real que prejudica o aprimoramento da educação escolar, tão essencial para que o país se torne viável. A Educação Básica é um problema nacional importante e grave demais para que se reduza a acusações histórico-social e cultural. Considerar que a escola ensina, a família e a igreja promovem a educação moral é uma opinião desatualizada, pois o desenvolvimento moral é inseparável do desenvolvimento intelectual, e a educação das crianças não se limita a memorizar informações e factos. O conhecimento existe em um contexto, numa abordagem que, necessariamente, envolve o desenvolvimento emocional, social, intelectual, moral e físico do aluno.


Confundir educação moral que tem como objetivo construir a autonomia do sujeito com moral religiosa obscurece o conhecimento e relega a aprendizagem a uma pedagogia transmissiva obsoleta.


Desde que se introduziu a reforma educativa em angola, desejávamos que os projectos que motivaram tais reformas fossem consolidadas de forma coerente, fundamentadas, estendidas pela logicidade do sensato para enfrentar as dificuldades da nossa educação escolar que precisa cumprir sua função de garantir que as novas gerações compreendam e contribuam para o aperfeiçoamento da sociedade.


Não se deve concordar que num país em que muitos alunos não chegam a aprender a ler e nem se pode falar em escrever, se tenha como meta principal construir escolas sem garantir as devidas qualificações que promovam uma educação de excelência. A escola é um lugar de falar de alfabetização, comunicação, pensamento lógico, científico, humanidades, moral, tudo o que fundamenta o acervo cultural da humanidade. O pensamento moral implica transformação interna do sujeito, que se constrói discutindo acções e conhecimentos, e não com punição e obediência.


O Executivo esta preocupado é com a estruturação quantitativa de escolas, ou seja, com a construção de escola. Asseguramos que, o que existe de fato, é a dificuldade de aprender dos alunos. Portanto, não é viável assegurar a quantificação estrutural de escola, pondo a qualidade das mesmas em descanso.


É preciso assegurar uma formação e valorização continuada dos professores, pois, isto constitui uma providência fundamental do Estado, de tal sorte a actualizar os métodos didático- pedagógicos para que de facto, a preocupação em formar as novas gerações que consigam interpretar a realidade, em sua complexidade, para lidar com as transformações radicais decorrentes do mundo digital seja concretizada e dentro dos princípios da igualdade e da unicidade do Estado angolano.


A acusação de que supostos assédios por parte de professores e alunos se tem efectivado um pouco por todo país, pela infiltração dessas práticas nas escolas soa como um discurso anacrônico que remete qualquer um a pensar na gravidade que o sistema trouxe ao imputar certas responsabilidade as famílias, que muitas se tem escusado delas. Mais uma vez, um deslocamento da questão realmente grave que é a da dificuldade de tornar as crianças e jovens angolanos aprendizes eficientes e preparados para os desafios do mundo actual.


Angola precisa se educar para o novo mundo, criado pelas novas tecnologias, com questões demasiadamente desafiadoras para a humanidade. Não há tempo a perder com convicções vetusto que parecem ignorar que a humanidade foi capaz de levar o homem à Lua, que é capaz de descobrir curas para doenças, inventar máquinas que facilitam a vida, tudo isso porque a espécie humana é dotada de mentes curiosas, criadoras e inventivas.


Essa capacidade de pensar, discutir, refletir e trocar conhecimento trouxe a humanidade até aqui Quanto aos exames nas escolas públicas, as prova não podem ser elaborada por pessoas mal- intencionadas que desejam prejudicar os alunos. Não, pelo contrário, a prova deve ser construída por professores que tentam ligar o conhecimento a diversos contextos, que é o que se devia buscar hoje na educação escolar. Pois, conhecer é fundamentalmente conseguir aplicar o conhecimento em diversas situações, é estabelecer relações entre os saberes, é saber usar na vida o que se aprendeu. Não consideramos que conhecimento são conteúdos memorizados e descontextualizados.


Um outro factor a ter em conta, que tem atentado a dignidade dos angolanos é quando uma escola suspende-se das actividades lectivas por entender que os alunos devem ir um acto político-partidário tendo em conta os interesses de quem governa. É difícil acreditar que em democracia se aceite que um grupo de amadores, que carecem de saberes básicos sobre educação, divulgue fantasias sobre influência de partidos políticos sobre estudantes dentro de escolas de Ensino Médio. Com tanto embasamento cultural, esperamos que esses ataques ao conhecimento sejam ultrapassados.


A doutrinação não é boa para o aluno, o que forma a consciência cidadã é a discussão e a dúvida, o que é muito diferente de reprimir a expressão e incentivar a denúncia, ação altamente deseducativa do ponto de vista moral.

Todos têm a liberdade de ser como são, sem moldes determinados. Isso é respeitar o indivíduo, sem regulamentação do que ele é por decreto. Saber do Executivo que planeja melhorar as condições do ensino nos 164 municípios de angola, para resgatar a qualidade do nosso ensino é alvissareiro, porém falta esclarecer como será proposto e realizado.


Sabe-se que muitos professores do ensino médio tem influenciado em sala de aula os alunos para aderirem a certas religiões, o que fundamentalmente, viola um direito fundamental. Maioritariamente, as pessoas, decidem sua vida profissional na escola, portanto, é preciso que não nos permitamos que o país entre numa rota de retrocesso, a partir da instituição escolar. É preciso assegurar a laicidade no sistema de ensino, não permitir que a exploração da credulidade dos despossuídos, por meio da religião, se imiscua no processo da educação escolar. O conhecimento e a cultura são patrimônio de um país. A arte atravessa a História da Humanidade e é expressão de civilização, que não pode ser demonizada. Crença e conhecimento são coisas muito diferentes. Uma é fé, e outra é ciência.


Aguardamos um plano criterioso que assegure a aprendizagem que vai preparar nossas crianças e jovens para enfrentarem, entre outros muitos desafios, que virão com a transformação cada vez mais rápida da realidade.