Luanda - Na sequência das eleições gerais de 23 de Agosto de 2017, Marcelo Rebelo “Salazar” de Sousa, Presidente da República de Portugal, sem pejo assumiu uma postura de um execrável neocolonialista ao reconhecer e felicitar João Lourenço, o candidato do MPLA, numa altura em que a própria Comissão Nacional Eleitoral - CNE, na pessoa da sua então Porta-voz a Dr. Júlia Ferreira, agraciada por João Lourenço com o cargo de Juíza Conselheira do Tribunal Constitucional, ainda divulgava resultados provisórios e também falsos, prontamente denunciados pelos próprios Comissários da CNE que não sabiam de onde vinham, uma vez que em 15 das 18 Províncias não estava a decorrer o apuramento das operações eleitorais nos termos da lei.

Fonte: Club-k.net


Com este grosseiro gesto, Rebelo “Salazar” de Sousa sobrepunha a sua vontade à dos soberanos dos eleitores angolanos ainda tomados por um sentimento generalizado de revolta causada pelas mais que evidentes fraudes e pela falta de transparência que marcaram todo o processo.


Da Esquerda à Direita portuguesas, não me lembro ter ouvido uma condenação firme à indigesta intromissão de Marcelo “Salazar” de Sousa numa questão, à partida, reservada aos angolanos.


Para se certificar do sucesso do seu “golpe” à soberania angolana, Marcelo “Salazar” de Sousa fez questão de vir à Angola, e foi o único Presidente não africano a fazer-se presente na cerimónia de tomada de posse de João Lourenço à Presidente da República, cargo para o qual não foi eleito em conformidade coma Constituição da República de Angola nem com a Lei nº 36/11, Lei Orgânica sobre as Eleições Gerais.


No quadro da impiedosa caça às bruxas, dentro do próprio MPLA, começam a surgir vozes credíveis que confirmam as fraudes e põem em causa a legitimidade política do seu algoz vingativo João Lourenço no exercício do poder político, o que o torna num potencial criminoso e traidor da Pátria.


Fiquei a saber que Marcelo “Salazar” de Sousa inicia, no dia 06 de Março, uma visita oficial à Angola, isso depois de no ano passado ter sido visitado pelo seu homólogo, o usurpador e impostor João Lourenço.

 

Achei curioso, embora bom, que o ilustre visitante tenha incluído no sue programa uma passagem pela província angolana da Huíla, que eu conheço muito bem, dado ter sido lá até pouco tempo o Secretário da UNITA e ter sido a partir de lá que, como cabeça de lista do meu Parido, testemunhei e denunciei as fraudes e as gravosas violações à CRA e à lei, incluído o NÃO APURAMENTO PROVINCIAL dos votos como manda a lei.


Depois de Luanda, a Huíla tem o maior agregado populacional de Angola, com um universo de 897.465,00 de eleitores, cuja vontade soberana expressa nas urnas foi substituída pela da CNE e vilipendiada por de Rebelo “Salazar” de Sousa, sendo aqui relevante sublinhar que, em 15 das 18 Províncias não houve o apuramento das operações de voto que nos marcos da lei serviriam de base para o apuramento nacional!


Duvido em absoluto se em Portugal seria possível declarar vencedor qualquer concorrente numa eleição em que, nem que fossem apenas 300 eleitores tivessem sido, abusiva e manifestamente impedidos de exercer o seu direito de voto, ou se o tiverem exercido, pura e simplesmente fosse ignorado na contagem global.


Mas aqui em Angola, Rebelo “Salazar” de Sousa o fez com o maior cinismo e desonestidade intelectual, mandando para as urtigas a vontade milhões de eleitores expressa nas urnas!


Na qualidade de um renomado Professor e constitucionalista, Rebelo “Salazar” de Sousa tinha consciência do quanto seu posicionamento violava de modo flagrante princípios consagrados na CRA e na legislação eleitoral angolana.


De contrário e até na qualidade de Presidente da República de Portugal, tinha o dever de se informar bem sobre o assunto, de modo a evitar as asneiras que cometeu ao reconhecer João Lourenço nos timings em que o fez.


A contento de todos é mister que os políticos, intelectuais e homens de negócios portugueses passem a tratar Angola com mais respeito. Afinal há 44 anos que Angola em de deixou de ser colónia de Portugal!


Angola tem seus povos, pessoas de carne e ossos e detentoras de dignidade imanente à todos os humanos e têm valores e culturas próprias.


Com efeito, Angola é muito mais que o petróleo e os diamantes; é muito mais que um mero mercado de vinhos, ou ainda um lugar de oportunidades para aventureiros e de empregos para centenas de milhares de portugueses.


Posicionamentos reacionários e neocolonialistas como esse de Marcelo Rebelo “Salazar” de Sousa são inaceitáveis e devem merecer a mais enérgica condenação dos patriotas angolanos e de todos os democratas portugueses ciosos das históricas relações entre os dois povos, na base da amizade e respeito mútuo.


Sou um “free born", tenho muitos amigos portugueses e vou com muita regularidade à Portugal e, portanto a minha geração não padece de qualquer preconceito ou complexo.


A propósito, 44 anos depois do fim do jugo colonial português, impõe-se um pedido formal desculpas da parte de Portugal pela escravatura, pelos atentados à dignidade da pessoa do angolano, atentados à sua cultura e espiritualidade, pela delapidação de riquezas e por todas as atrocidades cometidas contra os povos de Angola.


Ao povo irmão português peço que trabalhemos sempre na promoção das relações entre os nossos dois povos e que estas se situem acima dos interesses mesquinhos e corruptos de certas elites políticas, intelectuais e até religiosas.


Ainda assim, desejo boas vindas e boa estadia em Angola ao Presidente do povo irmão português e espero que durante a sua estadia em Angola, não perca a oportunidade de se retratar e livra-se da versão de Salazar do Século XXI.