Luanda - Naquele dia sem um interesse predestinado, mais um na conta daqueles que passam para a história e menos um para o (in)feliz 2019, decidi abandonar o veículo próprio e fazer parte do convívio com a maioria, no grupo daqueles que lêem a nação sem paixão e sem protecção visual.

Fonte: Club-k.net

Apanho o primeiro candongueiro sem destino para a ouvir a voz do povo. Depois de um final de semana carregado de ócio várias temáticas seriam, de certeza absoluta, levantadas entre os cidadãos que respiram por teimosia e por aqueles que sobrevivem na base dos capítulos de uma religião qualquer. Um senhor com aparência de meia-idade, não sei se envelhecido pelas décadas cronológicas ou mesmo pelos problemas que vive(mos), abre já o apetite com um assunto das redes sociais: segundo ele, o “intrujão” da TV Zimbo João Paulo Ganga:


- Ficam aqui a enganar as pessoas que são “dotoras” afinal não estudaram bem tudo. Nós já lhes apanhamos há bwe de tempo; só mandam bocas quando se aproximam as eleições para garantir lá a vaga dele no meio dos que “robam” com sabedoria - e sorria com sarcasmo - só que não sabiam que o Jei lô ia lhes fatigar a todos. Agora estão a rasca...


- Ele não é o único mô kota - rebatia um jovem que estava vestido a social e com um envelope castanho na mão, ele todo bem penteado e bem-parecido, com aspecto de quem mais uma vez acordava na madrugada para ir entregar currículos e conseguir uma entrevista com sucesso -: são muitos falsos doutores que estão a ser descobertos. O kota JLo pode até parecer que está a fatigar mas só está mesmo a colocar as coisas no lugar, estás a ver?! Foram 38 anos de sexo político e se “viam” mesmo nas nossas cabeças kota... isso é muito abuso.


E todos deram as boas vindas a uma gargalhada desenfreada. E outros continuavam:


- eu estou aqui desempregado fruto da desorganização deste país. A minha empresa não está a pagar as indeminizações e não tenho onde se queixar. Só o ano passado perdi o emprego 3 vezes; minha mulher já voltou para a casa da mãe porque a sogra só dizia que eu sou azarado.


- mas também estás mesmo com pouca sorte kota: 3 vezes?? – Disse pasmado um rapaz que tal como eu só ouvia desde o princípio mas depois sentiu-se tentado a fazer parte do colóquio político de consertação nacional. Eu preferi não opinar. Não é a toa que temos duas orelhas e uma boca; decerto que é para ouvir mais e falar menos.


- Oh meus filhos, esse país já está a fechar as cortinas. Vivemos anos bons de lúxuria na desorganização, onde a mixa era um salário para além do próprio salário; agora que a EPAL do BNA veio fechar as torneiras sob o mandado do Sr. Paciência do país, o camarada JLo, estamos a reclamar. Ouvem bem meus filhos, isto ainda vai piorar para todos. Uns roubaram, todos sofrem.


Não era a minha paragem mas era o término da viagem daquela Assembleia andante para todos.

Na mesma paragem encontro 4 moças conversando. Pelo que debatiam eram empregadas domésticas, as ditas secretárias do lar. Parecia coscuvilhice de minha parte mas não. Nem baixo mais conseguiam falar; um autêntico desencontro com a ética e as boas maneiras. Uma delas dizia alto e em bom-tom que estava a “cagar” no quarto de banho dos patrões quando ouviu a porta de casa a abrir e...


Não fiquei ali parado para ouvir o desfecho daquela pouca vergonha. Apanho um outro táxi, desta de volta para casa. No caminho deparo-me com 7 cortejos fúnebres. Não sei se eu é quem vivo no lugar errado ou o paraíso está no mesmo caminho que a minha casa. Caso para dizer que há muita gente a morrer; se por vontade de não mais quererem viver mesmo ou fruto da incompetência dos jogadores de xadrez deste tabuleiro nacional, como vociferam os incomodados da vez, isto já não sei dizer com precisão.