Huambo - Em jeito de começar: provavelmente, Abel Tchivukuvuku deve estar a viver os piores dias de sua vida, a desilusão da política quando se faz alianças com abutres... Stress, insónia, dor de cabeça, incerteza, revolta, impotência perante os factos, sem soluções... Este artigo não é para consolá-lo, bem pelo contrário pode feri-lo ainda mais. Mas a riqueza dessa dor é a página dourada na sua biografia para a posteridade...as suas dores podem ser lições para o futuro de todos nós, quer quando fazemos opções quer quando celebramos negociações e acordos...

Fonte: Club-k.net

A classe dirigente da CASA-CE era constituída por um mosaico étnico-político que seria a metáfora de Angola real: o Presidente, Sr. Abel Epalanga Tchivukuvuku, natural do Huambo (de etnia Ovimbundu, centro de Angola) e proveniente da escola da Jamba pela UNITA onde militou desde a sua juventude e que viria a ser dissidente desta depois de uma derrota eleitoral pela presidência da UNITA em um de seus congressos a favor de Isaías Samakuva, de quem anteriormente Tchivukuvuku fora director de campanha eleitoral em 2003 contra Lucamba Paulo Gato.


A derrota eleitoral da UNITA nas eleições gerais de 2008, viria agudizar as animosidades entre Tchivukuvuku versus Samakuva, arrogando aquele de brio político que colocaria a UNITA no Poder em Angola basta que se lhe desse a Presidência da UNITA...


De 2010 até Agosto de 2011 Abel Epalanga Tchivukuvuku andou em nossas bocas nas nossas tertúlias como alguém ‘presidenciável.’ Sondamo-lo em simultâneo com Doutor Marcolino Moco; se um deles aceitaria vir para se fundar ou um novo partido político a altura de confrontar o MPLA e ter juventude, tarimba, popularidade que apoquentasse José Eduardo dos Santos cuja idade e a ditadura eram desvantagens em si e oportunidade de concorrentes. Para tal Tchivukuvuku ou Moco integraria o Bloco Democrático ou então aderiria aos POC. Todavia, Tchivukuvuku tinha uma esperança (ainda que remota) de vir a ser líder da UNITA então deixou uma zona cinzenta e que não dizia “Não absoluto nem SIM” determinante. Por sua vez o Doutor Marcolino Moco definitivamente disse que não estava interessado a liderar nenhum movimento político e portanto continuaria no seu MPLA mas contra JES.


Em Outubro de 2011, foi quando finalmente Abel Tchivukuvuku, tirando vantagem de sua popularidade teria aceitado o convite de certos líderes de pequenos partidos sem esperança de grande ascensão e de líderes quase anónimos tal é o caso dos POC a aceitar a liderar um desses movimentos políticos.


Em Setembro de 2011, Tchivukuvuku juntamente com 11 membros incluindo Lucamba Gato, Américo Tchivukuvuku, Carlos Morgado, Rafael Aguiar etc seriam preventivamente suspensos da UNITA por indisciplina acusados de violarem os estatutos ao contestar o prolongamento de Samakuva na liderança da UNITA. Assim, indignado, humilhado, seu orgulho ferido Tchivukuvuku sem meias palavras, o “SIM” veio como desafio a si mesmo. Nessa altura, em visita de amigo um dos actuais vice-presidentes da CASA-CE procurou-me numa das unidades hoteleiras de Luanda convidou-me para o café, o propósito era o caça talento e me pôs ainda mais ao corrente do que eu já sabia e seu propósito era que eu integrasse a classe dirigente desse partido que obviamente iria partir a espinha dorsal do MPLA e da UNITA...eufórico comunicou e pediu-me que não deveria mais hesitar em integrar o team do momento na arena política porque o indeciso, Abel Tchivukuvuku finalmente aceitou o desafio, primeiro para sua sobrevivência política salvando o seu “ego- político” ferido pela UNITA que o suspendeu de forma humilhante e segundo para mostrar o que ele é capaz de fazer na arena política em si. Eu, pessoalmente saudei a informação mas não quis embarcar naquele voo, mas nunca houve desprezo recíproco...


Em Novembro de 2011 comunicou-se informalmente entre nós (amigos) que Abel Tchivukuvuku lançou um desafio de que ficaria feliz se liderasse algo novo, onde aparecessem claramente seus ideais, sua criatividade e seu programa. Inicialmente pensou-se adaptar o AMC-Amplo Movimento do Cidadão que já existia em forma de ONG em que eu e o Dr. William Tonet estávamos engajados a reorganizar. Mas depois surgiu um nome: CSN- Convergência de Salvação Nacional e no final de Janeiro de 2012 (com o desafio eleitoral que se avizinhava a passos largos) claramente inspirado no AMC, criou-se a versão final do nome: Amplo Movimento de Salvação de Angola - CASA.


Nessa Altura JES accionou o Tribunal Constitucional para barrar o caminho aberto da CASA e colocar o primeiro entrave: disse que a CASA era um nome parecido com algum que já existia, por isso mudassem o nome ou não iriam concorrer às eleições. Era tarde demais para mudar o nome. Estávamos em Maio de 2012 e as eleições estavam agendadas para 31 de Agosto, 2 dias depois do aniversário natalício do patrão da máfia. Foi quando se aumentou a parte CE que significa então Coligação Eleitoral para então dar o completo nome de Convergência Ampla de Salvação de Angola-Coligação Eleitoral.


Nessa altura confesso que nunca tinha ouvido falar do Sr. André Mendes de Carvalho “Miau”. Anteriormente até já cogitávamos no General João de Matos (de feliz memória) mas ele não estava também perto do interesse político; quando o sondamos disse-nos peremptoriamente que estava dedicado à família e aos seus negócios.


Institucionalmente estaria engajado no Centro de Estudos Estratégicos por si fundado. Mas “Miau” Não! Cheguei de conhecê-lo pessoalmente já nas vestes de vice-presidente da CASA-CE quando fiz uma reunião com ele, na Sede Eleitoral da CASA-CE na rua da Martal, na Maianga em plena campanha eleitoral. Eu vinha na qualidade de Coordenador do Grupo de Reflexão da Sociedade Civil para o Processo eleitoral de 2012. Conversei juntamente com meus colegas aproximadamente uma hora com ele; não vi relevância na abordagem política do General Miau na altura. Me pareceu ainda básico no entendimento da dinâmica eleitoral....


Regressando no mosaico-etno-cultural e político de origem dos dirigentes da CASA-CE: Abel Tchivukuvuku Coadjuvado por 4 Vices-Presidentes nomeadamente:


 Dr. Lindo Bernardo Tito, dissidente do partido PRS e natural da Lunda- Tchókwe (região oriental de Angola). É inteligente, jurista de profissão, constitucionalista e o conheci em 2009 quando trabalhei com ele na elaboração das contribuições da sociedade civil para o processo constituinte. Discuti largamente com ele qual seria a nossa visão para uma boa Constituição para Angola. Na CASA-CE poderia contar-se com ele para “roubar” o eleitorado do PRS e mobilizar os descontentes eleitores do leste cujos diamantes têm financiado a sua própria desgraça por culpa, manha, astúcia e ganância do MPLA.


 Sr. Alexandre Sebastião André (ASA), anteriormente presidente do defunto PAJOCA e actual presidente do PAADA dentro da coligação. Ele é natural do Kwanza-Norte (Kimbundu a Nordeste de Angola), poderia usar-se os seus parcos militantes do PAJOCA e sua origem kwanza- nortenha para fragilizar a praça eleitoral do MPLA e dividir os Kimbundu;


 Sr. Manuel Fernandes, antigo presidente dos POC e cumulativamente presidente do PALMA. Amigo de fácil trato e humilde me parecia ser sincero e urbano. Natural do Uige (Bakongo) a Nor-Nordeste, com sua origem étnica poderia congregar os Bakongos do Uige e Zaire provavelmente Cabinda, para fragilizar o bastião dos votos étnicos da FNLA.


 O próprio Abel Tchivukuvuku o nome e a origem seriam bastantes para abocanhar os votos da UNITA e MPLA proveniente da etnia mais vasta que são os Ovimbundu que de resto reivindicam sempre o Poder desde o tempo colonial e nunca ainda conseguiram chegar lá por culpa do MPLA que privatizou a Sede do Poder em Angola, seja como for Parabéns porque a política é mesmo assim.


 O Almirante (general) André Mendes de Carvalho, da elite do MPLA, sobrinho do patrono da JMPLA o malogrado Hoji-ya-Henda e general da Marinha. Ele é natural do Icolo-e-Bengo (Catete) que no mapa actual é Luanda. Provavelmente sua presença roubaria a linha de Agostinho Neto, os MPLA’s descontentes com JES. Mas como general da marinha não era popular na soldadesca das FAA e por isso não se contaria com ele para mobilizar os votos das FAA. Só mais tarde underground veio a saber-se entre nós que o Almirante Miau veio enviado do MPLA para vigiar e sugar energias de Abel Tchivukuvuku, ajudando o ASA- Alexandre Sebastião André e no momento de desfazer a CASA-CE então o substituiria. Quando através de intermediários alertamos o Abel Tchivukuvuku para se treinar mais devido aos seus “pseudo- colaboradores”, ele “não estava, nem aí”. Tal profecia não tardou em meados de 2016 e 2017 Alexandre Sebastião André (ASA) já não escondia essa pretensão burlesca e vídeos de seus planos macabros já circulavam entre nós e nas redes sociais, foi crescendo e a eclosão se deu agora...


 Ainda contou-se com o Jornalista e Constitucionalista Wiliam Afonso Tonet, que com seu brio e militância historicamente conhecido se tornou muito mais relevante a CASA-CE com essa presença. Mas com sua visão intelectual e muito alerta, Williamt Tonet foi diminuindo aos poucos seu engajamento porque descobriu cedo que a CASA-CE não prometia grande futuro devido a mediocridade dos vice-presidentes irremediavelmente intriguistas, oportunistas e imediatistas.


 Apareceu uma figura não menos importante tal é a Luisete Macedo, teóloga que provavelmente usaria seus dotes religiosos para ir coleccionar votos cristãos a favor da CASA-CE. Ela era aspirante a Presidente da República como candidata independente depois entrou para a CASA-CE vinda dos POC pelo PAR. Não brilhou tanto dentro da CASA-CE como o fora antes como Independente.


Com alguns quadros famosos provenientes da UNITA então o Abel Tchivukuvuku de forma retumbante entrou triunfal para a CASA-CE. A mistura de inteligibilidade, escolas, etnias, simpatias então o termo CONVERGÊNCIA ganhou sentido. Tecnicamente a ossatura da CASA-CE eram seus partidos constituintes dos quais Abel Tchivukuvuku não era nem simpatizante, nem amigo pior um pouco militante. Então sem essa ossatura a CASA-CE em si é (era) abstracta ou na pior da classificação-Bola de Neve.

DA DESTITUIÇÃO DO ABEL TCHIVUKUVUKU DA LIDERANÇA DA CASA- CE


Como nota prévia, digo que em Angola todos os partidos que tentaram ou executaram a destituição de seus líderes saíram triunfantes no seu enorme fracasso e a história registou. A primeira impressão que tive aquando do anúncio na Televisão de Angola de que Abel Tchivukuvuku teria sido destituído da Presidência da CASA-CE por alguns senhores, de viva-voz o líder que tinha sido confirmado no cargo por uma reunião pelo menos formal que parecia ser Congresso. Seja como for, os 5 partidos que em sinergia destituíram Abel Tchivukuvuku são uma máquina organizada e trituraram o elemento isolado.


Pensava eu que seria necessário evocar as deliberações de um inquérito se houvesse conduta de Tchivukuvuku considerada imprópria, citariam algum artigo de alguma lei ou regulamento, ou estatuto, mas à moda antiga na era das sociedades sem Estado pré-históricas acordaram de manhã e “pegaram” nos micros de rádio e televisão e expulsaram aquele que era “seu líder” minutos antes. É um “Golpe-Baixo”! Primeiro entendi que Tchivukuvuku era afinal considerado vassalo dos seus vice-presidentes que o dão “chute” a qualquer momento e sem motivos publicamente qualificados relevantes? Mas o meu olhar é externo e provavelmente eles devem ter razões fundantes...


Pareceu-me mais uma cena tirada da Banda-Desenhada ou algum episódio de bonecos animados. Mas era de facto a governação por capricho no lugar da lei.


De imediato notei uma ausência retumbante na mesa: Bloco Democrático não fez parte dos actores dramáticos do teatro. Eles (BD) sempre me pareceram muito civilizados, intelectuais, educados, instruídos. Andaram em boas escolas. Entram para política para fazer diferença e não para dar ordens e ganhar dinheiro. Por isso é que não vieram para Conferência de Imprensa, não subscreveram a tragédia mas infelizmente não conseguiram impedir o colapso...


Para o benefício dos mais jovens darei aqui alguns exemplos instrutivos para o futuro:


 Em 1998, criou-se em Angola a UNITA-Renovada que pelos microfones e câmaras da Televisão Pública de Angola anunciaram a destituição de Jonas Malheiro Savimbi do cargo de Presidente fundador da UNITA. A UNITA-Renovada na altura e na história da própria UNITA deve ter jogado algum papel importante que se justifique, mas depois morreu e sobreviveu a UNITA autêntica. O mentor da UNITA-Renovada está hoje politicamente malogrado, falando do veterano Jorge Valentim. Os padrinhos da UNITA-Renovada só queriam que essa facção ajudasse a demolir a UNITA e seu Líder. Em 2002 quando Jonas Savimbi tombou os padrinhos da máfia entenderam que a UNITA-Renovada é jornal de ontem e portanto sua sobrevivência dependeria da sua incondicional rendição à UNITA de Jonas Savimbi, a autêntica. Graças a sua maturidade forjada na guerrilha e sua inconfundível inteligência colectiva, o diálogo triunfou e a UNITA unificou-se contra vontade do Padrinho.


 A FNLA fora fundada por Holden Roberto na década de 50/60 do século XX. Em 2004 promoveu um Congresso sob presidência de Holden Roberto, onde elegeu-se Ngola Kabango como vice-presidente. Com a Morte do Líder Fundador, Ngola Kabango fora conduzido a Presidente interino. Nesta altura surge Lucas Ngonda, apoiado pelo Padrinho da Máfia à moda angolana a demolir a FNLA de Holden Roberto agora representada por Ngola Kabango. Ngonda a ferro e fogo reivindica de forma despudorada a Presidência da FNLA e não reconhecendo Ngola Kabango como líder legítimo. No dia 5 à 7 de Novembro de 2007 Ngola Kabango convocou um Congresso para legitimar seus órgãos incluindo a presidência. Participou das eleições de 2008 e elegeu alguns deputados, de que ele próprio também entrou para a Assembleia Nacional como Deputado. Em pleno exercício de mandato legislativo o Padrinho revestido de Tribunal Constitucional apareceu com o Acórdão 109/2009 dando razão a Lucas Ngonda invalidando as deliberações do Congresso de 2007 que elegeu Kabango e assim o padrinho entregou de mãos-beijadas a FNLA para Lucas Ngonda cuja missão única é mesmo acabar com a FNLA.


 O Jovem Carlos Leitão fundara um Partido conhecido como PADEPA- Partido de Apoio ao Desenvolvimento de Angola. O PADEPA tinha como secretário-geral o Sr. Silva Cardoso. Em 2006, 110 membros do PADEPA foram presos em Luanda porque tentaram fazer manifestações pacíficas contra corrupção, ditadura e exigência à comunidade internacional que ajudasse a salvar o povo angolano das garras ditatoriais do MPLA. O seu Presidente, Carlos Leitão entendera perfeitamente bem o papel de uma oposição política. Era acutilante, coerente com os valores da democracia, perspicaz e sentido patriótico e de Estado. Os padrinhos que temos vindo a citar, viram no Carlos Leitão um político a sério, que crescendo saberia fazer a diferença. O Padrinho financiou um títere interno, chamado Silva Cardoso nas vestes de Secretário-geral do PADEPA e nos dias 23 e 24 de Novembro de 2007 o Padrinho financiou um pseudo-Congresso que o elegeu como Presidente destituindo o verdadeiro líder, Carlos leitão. Silva Cardoso, o títere do padrinho fora por este aplaudido que de imediato lhe concederam a legitimidade de concorrer às eleições de 2008. Como o objectivo do Silva Cardoso corrompido pelo Padrinho era acabar com o PADEPA então a sua lista falsa fora aprovada pelo Tribunal Constitucional e conseguiu concorrer às eleições de 2008. Carlos Leitão destituído da presidência do PADEPA, com sua facção dos independentes ainda tentou de forma desesperada remeter sua candidatura às eleições de 2008 mas Silva Cardoso já tinha seu processo apoiado pelo Tribunal Constitucional que conseguiu com brio afundar o PADEPA até à tumba. Neste ponto de vista o Tribunal Constitucional tem sido um carrasco indisfarçável dos partidos da oposição em Angola e extinguiu o PADEPA.


 Finalmente Alexandre Sebastião André (ASA), Mendes de Carvalho, Manuel Fernandes e outros, sem precisar do Tribunal Constitucional do qual são afilhados destituíram Abel Tchivukuvuku como história bem conhecida em Angola. Amanhã, o padrinho dirá que a CASA-CE auto- destruiu-se porque é assim que funciona. Pensava que todos os angolanos já estariam alerta com este método tão antigo como a Bíblia.


Mas a imprudência, o super-ego, a prepotência, o excesso de optimismo cegaram a inteligência e assim o País vai perdendo suas referências e o buraco negro que nós chamamos de Padrinho vai engolindo as boas iniciativas políticas.


Seria de facto a hora e o lugar de pôr um basta a estas fantochadas do Padrinho da desgraça dos partidos e no geral o rosto é o Tribunal Constitucional. Que legitima fraudes eleitorais, desorganiza os partidos da oposição, corporiza, personaliza nos pretensos acórdãos jurisprudenciais a ditadura de partido-único.


Não há dúvida que enquanto os angolanos não encontrarem caminho para disciplinar as instituições que seriam republicanas, a arbitrariedade da máfia judicial e política colocará o MPLA eternamente no Poder, a custa da apatia, falta de visão de antecipação política, acutilância, sentido de responsabilidade social dos líderes políticos da oposição que apenas procuram na política encontrar dinheiro fácil, carros, casas e roupa cara quando a Nação clama por patriotas a sério que são uma espécie em extinção..


Enquanto os líderes da oposição não acordarem da sua sonolência perto da síncope serão eternamente manipulados, vituperados, acabrunhados, apoquentados, destituídos, cuspidos por cima, humilhados e serão obviamente adolescentes políticos e nunca crescem. A primeira lei é o povo. É ele que entra no conceito de Estado. Quem tiver o povo ao seu lado, mesmo que seja ilegal ele é legítimo porque a Soberania reside no povo e não no Acórdão do Tribunal Constitucional. Não se compreende como é que o Tribunal Constitucional continue a triturar a democracia popular para salvar a ditadura disfarçada na democracia tutelar. Tchivukuvuku tem a imagem chamuscada, tem a trajectória política barrada pelo Tribunal Constitucional, o árbitro da batota. Mas Tchivukuvuku é só um soldado; existe um exército que é o povo angolano que precisa outro alento e continuará lutando e sonhando...


O conflito na CASA-CE é falso. É um falso problema, visa destruir sua estabilidade política e preparar-se para fazer a verdadeira luta nas eleições de quer autárquicas de 2020 quer gerais de 2022. Tchivukuvuku estára forçado a a se ausentar nos dois momentos políticos. Obviamente que Abel Tchivukuvuku no debate político com João Lourenço faz mais diferença do que Lucas Ngonda, do que Quintino Moreira, do que General Miau; estes estarão sempre presentes, o Tribunal Constitucional está e estará evidentemente ao seu dispor. Porquê? Porque são irrelevantes na Política e não assustam o Poder instalado. As ditaduras modernas gostam de escolher a dedo quem deve ser sua oposição preferencial.


Sabemos e demais que o General Kopelipa que ao longo dos anos de ouro da fraude eduardista, esteve no comando. 2020 e 2022 serão as primeiras eleições em que a verdadeira máquina da fraude está aposentada. Os seus resquícios ainda não deram provas de sua valentia. Então a máquina fraudulenta deve jogar com antecipação. Alias, é assim que se faz: prepara o plano de luta enquanto o adversário está distraído; os nossos apáticos partidos da oposição preparam o plano acima das linhas da batalha adversária e tem no perder sua identidade. Só foi por isso, que os projectos de legalizar os partidos do Abel Tchivukuvuku foram barrados pelo Tribunal Constitucional.


Angolanas e angolanos lembrem-me onde é que se encontram aquelas senhoras e senhores, verdadeiros robots de fabricar e inventar votos na indústria da fraude eleitoral quer no MATRE quer na CNE? Estão distribuídos nos andares dos arranha-céus do Executivo e do Poder Judicial sobretudo nos Tribunais Constitucional e Supremo, outros estão na PGR. Insisto que a democracia é a única coisa que o povo quer, anseia e pela qual luta...


O mais importante é que os oportunistas ganharam subsídios vitalícios no Parlamento que o imediatismo, o mercantilismo e o utilitarista parlamentar é a única coisa que lhes interessa como se estivessem a dizer “ que se dane o povo angolano”! Milhares de Angolanos aderiram à CASA-CE seguindo unicamente a imagem política de Abel Tchivukuvuku. Mas fica para o Almirante Miau, o desafio de convencer o eleitorado de que a CASA-CE é uma instituição cuja vida útil vai mais longe do que o rosto do seu fundador. Mas eu duvido muito que em 2020 e 2022 a CASA-CE venha a sonhar e dar um voo garboso superando os resultados magros mas promissores que Tchivukuvuku em duas eleições colheu. Porque até lá tenderá mais a descer do que subir.

SE ME PERMITEM FARIA UMA RECOMENDAÇÃO

Abel Tchivukuvuku deve reflectir e construir cenários possíveis: primeiro deve despir-se da vaidade, do orgulho e da ilusão de que é um líder tão insubstituível e tão amado pelo povo que o faz ídolo. Isto acabou e deve aceitar a nova realidade imposta a si primeiro de fora e segundo de sua desprevenção (prepare-se para a guerra na paz).


Não deve fundar partidos de 5 em 5 anos. Se vier a ser Líder do Bloco Democrático dentro da CASA-CE por força do pacto da Coligação, seria desconfortável senão mesmo absurdo...este não é obviamente o caminho. A não ser que o Bloco Democrático se desfaça do pacto de Coligação e saia da CASA-CE e depois convoque um Congresso que abrirá espaço para Abel Tchivukuvuku liderar. Mas este acto se chamaria de quê...?


Se fundar outro partido em 2019 ou 2020 lá está os carrascos do Tribunal Constitucional a espera dessa tentativa para ser ainda mais humilhado mas é o caminho da lei, siga-o...! O partido provavelmente seria aprovado pelo Tribunal Constitucional talvez por rudimentos mínimos de vergonha lá para 3 meses antes de início da campanha eleitoral de 2022, para ir impreparado ao pleito e voltar de lá com 1 ou 2 lugares naquela sala de jantar que o vulgo chama Parlamento!


Se regressar para UNITA seria com que cargo, que tipo de oferta e com que natureza moral? Esse seria de resto o caminho mais obscuro e desaconselhável, porque degradante demais.


Renegociar com a CASA-CE, destituído de Presidente e ser militante de base seria um acto de total desespero mas humildemente é o que é de momento.


Abel Tchivukuvuku não é cientista político e não é jurisconsulto. Ele entra no conceito de políticos de profissão ou seja, ganham a vida fazendo política e por isso, tirá-lo da política é literalmente prejudicial para a sua vida pessoal e familiar. A política precisa carreira, coerência, coesão. Liderança.


Pela destituição imposta a Abel Tchivukuvuku, o “Golpe” assentou na vulnerabilidade de Tchivukuvuku não ter consolidado sua carreira política e sua liderança sobretudo em dois cenários: como líder de pessoas e como líder de processos.


Como líder de pessoas, Tchivukuvuku não conseguiu em 6 anos a frente da CASA-CE diagnosticar, interpretar e desfazer seus inimigos internos e externos transformá-los, influenciá-los ou expô-los a tempo. Seus inimigos tinham uma força da qual Tchivukuvuku não conseguiu contrapor: tinham partidos e Tchivukuvuku se lhe fora oferecido amigavelmente um cargo fantasma que não se ancorou numa instituição formal, material e organicamente conhecida. Porque Coligação politicamente não é um partido e sim um acordo abstracto; os partidos são aqueles que o destituíram porque não era parte e daí a facilidade de o descartar. Ele (Tchivukuvuku) não fora capaz de administrar os riscos que corria: tais como reduzi-los, ou compartilhá-los, ou enfraquecê-los, ou derrotá-los ou confrontá-los internamente antes e mudando o comportamento dos agressores... ou treinar melhor a equipa usando competência, conhecimentos, habilidades, ou identificar as batatas podres e substitui-las a tempo; nem que para tal deslocasse da moral de convicção para moral de responsabilidade que é típica na política se a entendesse. A gíria do desporto nos ensina que “ou você muda a atitude, comportamento, crença, ideias, políticas e práticas da sua equipa para coloca-la como campeã ou então a equipa vai mudar você da forma degradante....


Ter sido destituído pelos subordinados e não pela lei é arbitrário, é insultuoso mas acima de tudo é a consequência lógica de falta de inteligência estratégica de liderança. Não basta o carisma é preciso também envolver a ciência na liderança. Precisava conhecer as forças e fraquezas de seus inicialmente subordinados que se vieram a transformar em inimigos internos com ajuda de externos. Precisava antever esse cenário ainda em 2012 e o mais tardar 2013. Mas até 2016 Abel Tchivukuvuku não tinha aceitado sua condição de vulnerável na CASA-CE. Os partidos políticos angolanos no geral são muito fracos em fazer estudos, diagnósticos, avaliações internas periódicas e conhecer-se melhor. Tem excessivamente as atenções viradas para fora de si. Precisam o “conheça-te a ti mesmo”. Mas essa fraqueza resulta da falta de objectivos de País, de busca do verdadeiro Poder. São partidos em constante emergência porque são os lugares de sobrevivências de seus membros.


Se buscassem objectivos nobres num País, iriam atrás de livros, de ciências, de consultorias, de treinamentos, contratariam ideólogos e teóricos, teriam grandes assessores jurídicos autênticos e os partidos seriam verdadeiras escolas da Democracia, da Sociologia e do Direito seria uma verdadeira “reinventing government”. Mas “ninguém dá o que não tem”.


Como líder de processo. Abel Tchivukuvuku não interpretou de forma correcta, atempada e inteligente o contexto político-partidário em que ele vem militar a mais de 4 décadas. Os partidos e coligações não existem e provavelmente não existirão em Angola apenas para liderar pessoas têm que liderar os processos.


A CASA-CE é parte dos processos político - históricos de Angola que devem ser entendidos pelos líderes. Abel Tchivukuvuku não foi capaz de interpretar e liderar os processos políticos angolanos que partem do contexto, processam-se no contexto e tem por meta a atingir o local e o global. Por isso, os processos o surpreenderam. O Líder nunca deve ser surpreendido pelos processos pois que é ele quem faz esses processos: “para bom entendedor, meia palavra basta”.


Quem ganhou com a destituição do Abel Tchivukuvuku? Quem ganhou é o MPLA e seu líder que não enfrentarão doravante, algum líder relevante da oposição.


Quem perdeu com a destituição do Abel Tchivukuvuku? O primeiro perdedor é a própria CASA-CE. Em segundo lugar é a democracia que é o povo que perdeu.


Tenho dito. Ângelo Kapwatcha