Luanda - Navegar no tempo é uma expressão que significa recuar no tempo, recordar-se do passado, e deste, tirar lições apropriadas que permitam navegar no presente e perspectivar o futuro. No fundo foi isso que aconteceu na II Conferência Nacional sobre a Vida e Obra do Jonas Savimbi, que teve lugar no Hotel de Convenções de Talatona, em Luanda, no dia 13 de Março de 2019.

Fonte: Club-k.net


Eu fui convidado pela Direção da UNITA na qualidade de Preletor. O Workshop foi composto por quatro painéis que trataram das seguintes temáticas: a) Jonas Savimbi como estratega político e militar, dividido em duas partes: A parte da luta de libertação nacional; e a fase que iniciou no dia 25 de Abril de 1974 até dia 4 de Abril de 2002. O General Carlos Tiago Kandanda encarregou-se da primeira parte, e o General Abílio Kamalata Numa ocupou-se da segunda parte. b) Jonas Savimbi como diplomata, político, conciliador e promotor de consensos. Este tema esteve a cargo do General Lukamba Paulo Gato. c) Jonas Savimbi como humanista; homem social, e chefe de família. Este tema esteve ao encargo do Dr. Esteves Kamy Pena. d) Jonas Savimbi como homem de letras. Este último tema ficou em posse da Dra Clarice Kaputo.


No meu entender este Workshop foi uma boa iniciativa em todas as vertentes, tais como: a participação massiva de Jovens; a qualidade dos Prelectores; os temas abordados; e a pessoa alvo ao qual se destinou o evento. O ambiente global no seio dos participantes foi de certa forma cívica, aberta, pedagógica e animadora. Aliás, a figura do Jonas Savimbi já faz parte do património universal da humanidade, e o seu Pensamento Estratégico tornou-se neste momento o ícone mais atraente da Juventude Angolana.


Apesar da campanha sistemática de diabolização, assente no espírito tribalista, regionalista e racista, o Pensamento Estratégico do Jonas Savimbi continua intacto, firme e inabalável. Pois, não é possível apagar os factos da História. Porque eles estão lá fisicamente, bem entrincheirados, e bem protegidos dentro e fora do país, em registros magnéticos, em ficheiros informáticos, em arquivos escritos, em laboratórios científicos, em bibliotecas, em academias e em centros de estudos e de pesquisas.


Por isso mesmo este Workshop trouxe a superfície um conjunto de factos históricos em todos os domínios acima referidos, dos quatro painéis, que foram ao fundo das coisas. A publicação deste trabalho valioso será muito útil aos jovens e aos pesquisadores, ávidos de conhecer o passado recente de Angola, capaz de permitir um estudo comparativo mais adequado e científico.


Porque até cá, a História de Angola tem sido alvo de manipulação, de falsificação e de invenção de coisas que nunca aconteceram e nunca existiram. Acima disso, tem- se assistido a inversão das coisas, imputando culpas às pessoas inocentes, com fim de ocultar as maldades e as roubalheiras; que tem sido cometida por um punhado
de pessoas que se apoderam do Estado Angolano, assumindo-se como donos do país, sendo intocáveis e impunes. O que conduziu o país ao estado actual de falência total, sem recursos financeiros para fazer face ao estado crítico de pobreza extrema, da fome, da penúria e das epidemias constantes que ceifam diariamente as vidas do povo angolano, sobretudo das crianças.


Repare que, nas afirmações do Jonas Savimbi tudo que acontece hoje já era previsto e dito de forma afirmativa e com maior propriedade. Aliás, o comportamento corrupto, da burguesia nacional, já se manifestava na luta pela independência nacional, e este fenómeno esteve na base de discórdias e de ruptura no seio do nacionalismo angolano.


Havia na altura uma controvérsia sobre a política de assimilação e do estatuto de indigenato. Isso, de certo modo, dividia a raça negra entre os assimilados, que tinham algumas regalias junto das comunidades brancas e mestiças; e os indígenas que eram tratados de gentios, gente do mato e matumbos. Portanto, a estratificação da sociedade angolana não obedecia apenas à condição social da pessoa. Mas sim, da raça e da origem étnica e geográfica.


Nesta base, os povos das cidades do litoral consideravam-se como superiores aos do interior do país. Aqueles que tinham o certo domínio da língua portuguesa tinham estatutos diferenciados. Ao passo que, as línguas nativas bantus e outras, eram tratadas com desprezo e com desdém. Mesmo assim, nas Missões Protestantes e Católicas as línguas indígenas eram lecionadas nas escolas.


Mas a partir da data da Independência Nacional, em Novembro de 1975, o Governo do MPLA decretou logo a proibição do ensino das línguas africanas indígenas nas escolas. Quem ousasse falar a língua africana indígena nos centros urbanos era repreendido, desprezado, humilhado e excluído. Os nomes africanos eram censurados e proibidos. A cultura portuguesa era imposta e obrigatória, incutida nas mentes das pessoas como sendo a sua língua materna. A cidadania angolana ficou intrinsecamente ligada à língua portuguesa.


Em função disso, quem não soubesse falar português era tido como estrangeiro. Quem nascia em Portugal era automaticamente tido como angolano, porque falava fluentemente português. Mas um filho ou filha de uma família angolana que nascesse num dos países africanos e não soubesse falar português não tinha direito à nacionalidade angolana. Portanto, impunha-se o neocolonialismo e o obscurantismo colonial. Pois, a cor negra era o sinónimo de inferioridade, de atraso, de iliterácia, de subdesenvolvimento e de pobreza. Infelizmente, as normas, a mentalidade e as atitudes acima referidas ainda vigoram na nossa sociedade angolana.


Logo, quando Jonas Savimbi levantava a Voz bem alta da Negritude, do Nacionalismo, do Patriotismo, da Angolanidade, dos Pés Descalços, da Angola profunda e do Pan-africano era tido como racista, tribalista e contrarrevolucionário. Em seguida, lançavam-se campanhas sistemáticas de desinformação e de diabolização, defendida por uma classe de intelectuais assimilados que não tinham ideia nenhuma do potencial do interior de Angola.

Muitos dos quais ficaram limitados ao espaço do litoral sem atravessar o Rio Cuanza em direcção ao interior de Angola. A Escola de Pensamento, assente na assimilação e na aculturação, continua em vigor. Nota-se que, a alienação sociocultural é um dos instrumentos mais poderosos de subjugação, de exclusão, de exploração e do enriquecimento ilícito da classe dominante.


Como resultado, hoje em dia veem-se exércitos dos “pés descalços” a zungarem nas ruas das cidades e dos musseques, com bacias nas cabeças, com crianças nas costas, em baixo do sol ardente, perseguidas pelos agentes da polícia, com armas na mão, a fazer tiros contra elas. Este é o regime político que prevalece em Angola desde a Independência do País, em Novembro de 1975.


Este cenário triste, de um regime opressivo e corrupto, fazia parte da profecia do Jonas Savimbi. Hoje ao ler e ouvir o seu Grito de liberdade cria a curiosidade e atrai a Juventude, ávidos de conhecer o passado recente de Angola, cheia de rivalidades e de guerras atroz, entre os irmãos da mesma pátria; submetidos aos interesses das potências mundiais, que disputavam e continuam a disputar-se pelo o controlo de Angola, em termos da geoeconômica, da geopolítica e da geoestratégica mundial.


Em síntese, é importante recuar um pouco no passado colonial em que o Interior de Angola, a Sul do Rio Cuanza, era o palco principal de “kuata-kuata” de escravos, de trabalhadores forçados e de contratados, que eram rusgados, apanhados, acorrentados e dirigidos em filas, numa marcha forçada, fustigados com chicotes, arrastados para o litoral atlântico, de onde eram transportados em navios negreiros ao desconhecido.


Acima disso, muitos dos angolanos do interior do país eram levados ao norte de Angola como mão-de-obra barata das fazendas agrícolas, ou na construção das infraestruturas tais como: ferrovias, estradas, portos marítimos, aeródromos, etc. Submetidos a condições de trabalhos desumanos, inaceitáveis e condenáveis. São recordações do passado colonial cujas imagens tristes e humilhantes tiveram reflexos enormíssimos na mente das pessoas e nas relações humanas, que resultaram nas assimetrias sociais. Deixando sequelas nas consciências humanas, não só em termos de revolta; mas sim, no que diz respeito o complexo de superioridade étnica e racial, que ficou induzido nas estruturas mentais de alguns sectores da sociedade angolana.


Logo, é isso que a Juventude deve saber para acabar com os tabus, despertar as mentes adormecidas e forjar a consciência patriótica, a unidade nacional e a solidariedade. Pondo fim à política de dividir para reinar, que era o instrumento colonial da assimilação, da aculturação, da exclusão e da alienação sociocultural.

Viva o Nacionalismo Angolano!

Viva o Pan-africano! Abaixo o Neocolonialismo.


Luanda, 15 de Março de 2019.