Luanda - Dentre os factores que dificultam o acesso a uma Educação de Qualidade em países pobres, com sistemas educativos geridos por princípios de unicidade, com fortes assimetrias de desenvolvimento e caracterizados pela sua maior ou menor diversidade cultural e linguística, destacam-se os seguintes:

Fonte: JA
- Factores de gestão educativa que embaraçam a docência adequada (número de alunos por sala de aula, relação escola/família e escola/comunidade…);

- Factores pedagógicos que condicionam a aprendizagem dos alunos mais jovens (tais como o não reconhecimento da língua materna, da cultura dominante, do patamar de conhecimentos de partida para a aquisição de novas informações…);

- Factores sociais (acesso à assistência médica e medicamentosa, condições de habitação, saneamento básico, qualidade da alimentação…);

- Factores de carácter profissional (competência profissional, coerência curricular, inteligência emocional, recursos disponíveis, condições salariais, reconhecimento social…);

Nestes países, o fraco financiamento da educação leva a que os alunos do ensino primário e do 1º ciclo do secundário fiquem carentes de estratégias compensatórias, que, face ao sincretismo infantil, viabilizem o uso de metodologias indutivas (do simples para o complexo, do fácil para o difícil, do conhecido para o desconhecido, do concreto para o abstracto…).

Para os professores faltam políticas de educação intercultural para as necessárias adaptações de carácter regional, já que a angolanidade, por exemplo, deve ser edificada no contexto da real e histórica diversidade cultural e não a partir de princípios ideológicos uniformadores. Nada mais anti-democrático do que tratar por igual o que à partida é diferente;

Faltam, no caso específico de Angola, estratégias de empoderamento (a exemplo da formação contínua, da capacitação pedagógica, do desenvolvimento comunitário, do fomento de grupos de auto-ajuda, de dinâmicas de trabalho em grupo, de programas de desenvolvimento da inteligência emocional…), a serem inseridas na formação docente e no contexto da ainda inexistente regulamentação do Subsistema de Formação de Professores. Quer na antiga Lei de Bases do Sistema de Educação (Lei 13/01), como na actual (Lei 17/16).

Falta o apoio de uma adequada estratégia de merenda escolar, que minimize a fome ou a má nutrição das crianças… Enfim, falta muita coisa a ser estruturada e implementada para que a qualidade do ensino, a todos os níveis e em países pobres, para que a educação possa jogar um papel determinante para a resolução dos seus problemas económicos e sociais. Já anteriormente reconhecido ao nível dos ODM’s (Objectivos de Desenvolvimento do Milénio), a fome e a extrema pobreza são os principais factores impeditivos de uma adequada aprendizagem.

No capítulo destinado à economia, no livro de teses apresentadas no Fórum Preliminar “Stop a Destruição do Mundo”, em 1993, um texto de Maria de Lourdes Morais refere que vivemos num enorme desenvolvimento tecnológico, mas presenciamos, ao nível planetário, “fome em meio à abundância e baixa qualidade nos alimentos”. Um problema que só poderá ser resolvido, desde que se contrarie os fortes interesses económicos, já que os agrotóxicos são um dos principais responsáveis pelo envenenamento de vegetais, animais e seres humanos (agricultores e consumidores).

Maria de Lourdes Morais cita o livro “A Face Bélica do Tio Sam” pelas preciosas informações sobre pesticidas proibidos no mundo, mas ainda fabricados e usados principalmente em países em desenvolvimento. Pesticidas “aldrin e dieldrin da Shell Chemical Company e da Royal Dutch-Shell”, que, desde 1974, estavam proibidos nos EUA e que provocaram várias mortes por cancro. Os lavradores, induzidos pela propaganda, pelos bancos e pelos vendedores de tais indústrias a utilizar tais venenos (e em grande quantidade), não são os culpados. Os verdadeiros culpados são, sem dúvida alguma, os responsáveis dos laboratórios e o comércio de tais produtos, que, dada a sua falta de ética, envenenam a Humanidade para obterem lucros. Também a poluição ambiental (do ar, água e solo) são o resultado de interesses económicos e a causa da degeneração dos alimentos.

“A ambição do monopólio e a pressa em obter alimentos são responsáveis por outros estragos: cereais, frutas e legumes colhidos verdes ou amadurecidos à força. Ou ainda alterados na sua composição genética para aumentarem de volume e peso. Tais alimentos são tornados híbridos, não produzindo mais sementes, para que os lavradores sejam obrigados a comprá-las sempre nos monopolizadores”. Já não é novidade para ninguém que os animais engordam com rações, injecções de hormônio e antibióticos que, depois disso, passamos a ingerir. “A criação destes animais é também feita de forma antinatural (parados em pequenos espaços, o que lhes provoca doenças). Tudo isto influi na perda de qualidade da carne, do leite e dos ovos e na intoxicação dos seres humanos através de alimentos cada vez menos naturais”.

Dados do UNICEF, da década de 90, informam-nos que a cada dia que passa cerca de 40 mil crianças em todo o mundo morrem por falta de alimentação adequada, enquanto milhões sobrevivem desnutridas.

*Ph.D em Ciências da Educação e Mestre em Relações Interculturais