Lubango - A cultura africana tem nas suas raízes ensinamentos valiosos que a tornam numa das mais ricas fontes da sabedoria. A filosofia bantu é rica em ditados, provérbios, fábulas, contos, lendas e mesmo realidades que nos tornam um povo capaz de prever, viver em harmonia e afastar todos os fantasmas da desconfiança e discórdia.

 

Fonte: Club-k.net


As línguas bantus servem de veículo principal para a transmitir esses ensinamentos e no caso angolano são dezenas de idiomas falados e sentidos pelas suas gentes. No que respeita ao debate, o povo angolano tem na sua cultura o diálogo como fundamento para a solução de inúmeros problemas das suas comunidades. Diz o ditado em umbundo “O kambo ka li suñanha oko ka pama” – uma aldeia que se reúne regularmente é forte.

 

Trazemos esta abordagem a propósito da cultura de debates que nos países democráticos completam o leque da programação dos órgãos de comunicação social, mas também favorecem aos intervenientes e sobretudos os gestores de cargos públicos a apresentação das suas ideias, programas, argumentos e visão da sociedade.

 

Infelizmente em Angola temos um deficit de debates públicos sobretudo nos órgãos de imprensa estatais e por parte de dirigentes da esfera pública bem como do partido no poder. Que o digam os jornalistas de alguns órgãos privados lançados em iniciativas de promover debates, quantas vezes receberam raspanetes dos dirigentes do estado e do partido que governa Angola, para não falarmos da abolição das transmissões em directo dos debates da Assembleia Nacional na TPA e RNA e a ausência de debate entre partidos ou candidatos na campanha eleitoral.

 

Como resultado deste deficit temos assistido aos poucos que se dignam faze-lo em nome do maioritário, o atropelar das normas de ética e de bem conversar, a insegurança nas posições defendidas e as justificações as vezes precipitadas de estarem nos debates ou como académicos ou juristas e não membros do MPLA.


Mas o mote dos representantes da corte nos debates foi dado no dia 24 de Setembro na TV Zimbo, onde os angolanos assistiram a uma palhaçada e demonstração de falta de civismo, ética e incoerência nos sues argumentos, deixando bem nítida a falta de cultura de debates no nosso país. Não querer ser interrompido e interromper o seu adversário em debate revela falta de ética.


Também ficaram evidenciadas as cábulas e frases feitas nos quase 10 kilogramas de livros trazidos da biblioteca do discípulo de direito torto, que, evocando artigos da actual constituição não deu conta que os mesmos eram faca de dois gumes, pois quando foi a vez do seu adversário recorrer aos mesmos, dizia ser uma lei não exegética. Falou da recusa do resultado das eleições de 1992 como causa do conflito que deixou o país na anormalidade constitucional, mas negou falar da violação dos acordos de Alvor em 1975, como a principal causa do conflito angolano, já considerado por um sábio que sobre ele todas as parte foram responsáveis, culpadas e vitimas. Ninguém é o único detentor da verdade.

 

Voltando à lei que é o cerne da questão, fazemos uma pergunta: É ou não exegética? Se for serve para os dois casos e se não, também não serve para os dois casos.


A verdade é que os angolanos estão preocupados quando os constitucionalistas, juristas, académicos e conhecidíssimos líderes de opinião, desrespeitam as normas de um bom debate, se exaltam descontroladamente e alinham na violação da lei mãe, querendo convencer que vai ser aprovada uma constituição à medida da nossa realidade. Que garantias teremos para a sua aplicabilidade e respeitabilidade, ver artigos 58º e 159º, já violados.


Que lições tiramos dos debates que temos assistido nos últimos tempos, num esforço reconhecido da TV Zimbo e de outros órgãos privados? As lições tiradas são: A falta de diálogo no seio do partido no poder, onde a proposta de constituição apresentada à Assembleia Nacional é diferente das posições defendidas pelo presidente do partido e da República.


A assunção de posições pessoais dos representantes aos debates descartando-se das responsabilidades da sua família ideológica, bem como o uso constante de citações, artigos, e frases lidas dos manuais académicos, ocupando um terço da mesa dos estúdios Isto é sem sombra de dúvidas revelação da falta de cultura de debate de alguns fazedores da opinião pública angolana. Ou então por serem caloiros nestas lides precisem de ganhar mais tarimba e cabular um pouco mais nos livros da faculdade feita com muito sacrifício em terras lusas? Haver vamos. O certo é que, não aprendemos nada, não ouvimos nenhuma novidade, a não ser as cábulas e frases feitas de outros autores deixando a nu a falta de cultura de debate.


Encorajamos mais debates e maior participação dos membros da esfera pública para renascermos na cultura do diálogo e do debate de ideias que fortificam a nossa vivência, como africanos e angolanos prontos a erguerem um país novo e igual para todos.