Luanda - Mais de dez mil muçulmanos angolanos da Lunda Norte anunciaram este sábado a realização do Ramadão, mês sagrado do Islão, na RDCongo, devido à "insensibilidade das autoridades locais" que encerraram, até fevereiro, as 39 mesquitas da província.

Fonte: Lusa

Em declarações à Lusa, o secretário da comunidade muçulmana na província, leste de Angola, António Muhalia, adiantou que duas solicitações para reabertura das mesquitas foram endereçadas ao governador provincial sem, no entanto, "qualquer parecer favorável".

 

"Na primeira solicitação as autoridades apenas recordaram que estão canceladas todas as atividades dos muçulmanos aqui na província e não podem reabrir nenhuma mesquita e a segunda solicitação demos entrada ontem [sexta-feira] e ainda não tivemos resposta", explicou.

 

"Também já informámos ao governo da província que vamos à República Democrática do Congo para fazermos o nosso jejum porque o Ramadão começa no domingo e estamos a pensar viajar na segunda-feira", acrescentou.

 

A comunidade islâmica na província da Lunda Norte "não exerce o seu direito de culto", desde fevereiro passado, período em que os mais de dez mil muçulmanos viram encerradas pelas autoridades, no quadro da Operação Resgate, as 39 mesquitas da província, segundo fonte da comunidade.

 

"Infelizmente estão encerradas no total 39 mesquitas, a maior parte aconteceu em 2018 e este ano mais duas foram encerradas. Não estamos a rezar e estamos impedidos de fazer os cultos", disse anteriormente à Lusa, António Muhalia.

 

O Ramadão, mês sagrado do Islão, no qual a maioria dos muçulmanos pratica o ritual de jejum, começa no domingo, 5 de maio, e termina dia 4 de junho.

 

Hoje, o líder islâmico fez saber que, na sequência do encerramento das mesquitas, os muçulmanos estão também impedidos de realizar o Ramadão "inclusive com ameaças de prisão".

 

"É uma violação da nossa liberdade de culto e, deste modo, não teremos outra opção a não ser emigrarmos para a RDCongo para realizarmos as nossas orações, porque as autoridades estão insensíveis às nossas solicitações", lamentou.

 

A religião islâmica ainda não é reconhecida pelas autoridades angolanas, mas noutras províncias angolanas, como na capital do país, as atividades dos muçulmanos "decorrem na normalidade".

 

A ministra da Cultura de Angola, Carolina Cerqueira, anunciou em janeiro, no parlamento, durante a discussão na especialidade da Lei sobre a Liberdade de Religião, Crença e Culto, que o Governo "acompanha a evolução do islamismo no país" e que vai tomar em breve uma posição.