Luanda - Querida Angola, gostava imenso de começar esses melancólicos gatafunhos de uma forma mais discreta mas a realidade castanha que já sai pelas torneiras já não me permite fingir sequer que está tudo bem.

Fonte: Club-k.net

Esta é a primeira carta que começo por não dizer “espero que a mesma missiva te encontre em pleno estado de saúde...” porquê de saúde, sejamos sinceros, nunca estiveste.

 

Opah... Temos ambos 43 anos de idade e desde então só foram laivos de bem estar efêmeros, nada de concreto. Acreditei sempre no teu amor mesmo por cima das asneiras que fazias comigo. Se fosse eu a fazer o que você me faz o mundo todo cairia sobre mim sem peso nem medida.

 

Vezes várias tentei te abandonar. Em 90/91 vi meus amigos e amigas a emigrarem. Convidaram mas rejeitei porque no amor é assim: É nas horas difíceis que se vêem quem é quem. Deste-me luzes de melhoria e promessas de mudança por isso eu escolhi ficar contigo; acreditei efusivamente na tese “se todos decidem sair e ninguém fica para ajudar a unir os escombros, a coisa não melhora”. Então fiquei.

 

Em 2002 vi-te com uma luz no fundo do túnel. Pensei que fosse a luz da esperança mas afinal era de uma lamparina que estava acesa a ser alimentada com o petróleo. Quando o mesmo “acabou”, a luz apagou-se e as coisas começaram a dar para o torto de novo. Mas não morri por ti em 92 não seria em 2002. Aguentei firme contigo.

 

Os meus amigos sempre disseram: Quando estiveres chateado com o teu cônjuge , não durmam sem conversar. Eu não gosto de discutir relação e então por mim se te visse a rir estava tudo bem. Então sosseguei.

 

Querida Pátria, hoje digo que estou cansado. Parece que não me queres mais. As coisas que estás a fazer já não se compreendem. Acho que tens outro amante; só não sei se é a FMI ou a Rússia. Sinto que é traição pesada. Preferes dar amor e medicamentos aos outros enquanto eu só recebo duvidosas toneladas massambalas em sacos com carimbo expirado.

 

Querida Pátria, se não mais me quiseres prefiro que me digas para que eu me vá mas nem isto tens coragem de o fazer. Preferes gerir “kits” com grandes nádegas e pouco cérebro; os que estão fora e são beneficiados te verão sempre com bons olhos, elogiar-te-ão; criam expectativas quando na verdade cá em casa vivemos por míseros 200 kuanzas dia. Eu já não posso dar mais porque não tenho.

 

Chega! Cansei! Isto já não é mais para mim e nem quiçá para a próxima geração. Vou embora; e enquanto mantiveres essa mentalidade, não volto pra ti. Estou cansado de acreditar que vais mudar. Não posso usar a fé quando és país e não religião. Vou mesmo bazar. Podes me falar mal mas só se vive uma vez.

 

Dizem que o verbo amor não se conjuga no passado mas hoje posso afirmar com mácula: Já te amei mais; o que sinto agora... Nem eu sei denominar.

 

Queria dizer “Há Deus” mas não...

Fico mesmo pelo ADEUS!