Luanda - Nós, ex-estudantes da Faculdade de Engenharia da Universidade Agostinho FE-UAN, queremos por meio desta endereçar as autoridades angolanas, a comunidade académica angolana e a sociedade angolana em geral.

Fonte: Club-k.net


No passado dia 08/05/19 tomamos conhecimento pelas redes sociais do falecimento (por razões desconhecidas) do Dr. Alexandre Garbuze, professor catedrático da Faculdade de Engenharia da Universidade Agostinho Neto (FE-UAN), nascido na Ucrânia em 1946 e vindo para Angola em 1992 (um período crítico dada a guerra civil que o país vivia).


O Dr. Garbuze, veio para Angola no âmbito de um acordo de cooperação entre os dois países, precisamente como professor Titular da FE-UAN para as cadeiras nucleares do ciclo básico como FÍSICA II (Termodinâmica e Hidrostática) e FÍSICA III (Electrostática, Electricidade e Eletromagnetismo), foi igualmente o chefe do Departamento de Ciências básicas e o coordenador da comissão organizadora do exames de aptidão para o ingresso à FE-UAN.


Esteve ao serviço daquela instituição desde 1992 até 2019 (27 anos) por ele passaram mais de 5000 estudantes e mais de 1000 engenheiros formados por aquela instituição.


É com grande sentimento de pesar que expressamos a nossa dor e luto pelo passamento físico de um grande ícone do país teve, de um cidadão que esteve de forma comprometida ao serviço da ciência e das engenharias em Angola.


Destacado pelo seu Rigor científico e administrativo e pelo seu conhecimento profundo sobre engenharia, física e cálculo matemático, o Dr. Garbuze trabalhou de forma profissional e incansável para a aplicação do seu cunho rigoroso no processo de formação dos Engenheiros da UAN, tendo abandonado a sua terra natal para viver em Angola e se doar a FE-UAN, uma figura cuja o nível de rigor, transparência, disciplina e conhecimento reunia unanimidade e deixava qualquer um admirado.


Ficamos chocados com a notícia e também com o funeral que o Dr. Garbuze teve, nem sequer teve direito à um óbito, tiraram o corpo do morgue e foram depositar no cemitério. Justamente assim.


Alguns estudantes questionaram e pediram um óbito ou uma cerimónia para que as pessoas interessadas fossem prestar a última homenagem e a instituição pela qual ele esteve ao serviço alegou que não faria por falta de verbas. Os estudantes predispuseram-se a contribuir para custear as despesas associadas ao óbito nem isso foi o suficiente para as autoridades permitirem a realização de um óbito ou uma cerimónia digna a medida da dimensão da pessoa e obra do Dr. Garbuze, uma vez que ele não tem familiares em Angola, seria e estávamos esperançosos que a UAN fosse assumir as responsabilidades sobre o seu corpo e dar-lhe a dignidade merecida e reconhecida pela comunidade estudantil.


No funeral do Dr. Garbuze se fizeram presente umas dezena de pessoas, dentre alguns funcionários da instituição, alguns professores e ex alunos.


Um Professor Catedrático que tanto fez pelo país, a Reitoria da UAN não se fez presente, a Ministra do Ensino Superior não se fez presente, o Governador de Luanda não se fez presente, a massa estudantil e académica não se fizeram presente, não houve nenhum comunicado feito pelas autoridades nos órgãos de comunicação, não houve uma mensagem da Decana, não houve pronunciamento qualquer da Reitoria, não houve qualquer gesto de respeito, reconhecimento e valorização da pessoa e obra do Professor Garbuze.


Imploramos a reitoria que comunicasse aos estudantes e ex-estudantes da Faculdade de Engenharia que não tinham dinheiro para enviar o corpo para Ucrânia conforme o pedido da sua esposa, estávamos dispostos a contribuir, solicitamos uma conta bancária para o efeito e nada.


Houve um anúncio na Rádio Luanda foi os antigos ex-estudantes. E nem por isso foi o suficiente para realizarem um funeral contigo.


Que ingratidão para com um homem que trocou a sua pátria por Angola e contribuiu, com excelência para a formação de vários quadros angolanos.


Importa referir que por quase todas as empresas principais do “Oil & Gas field” (o sector mais activo da vida económica do país) tais como a Total, Chevron, Esso, Sonangol, ENI, SLB, HALLIBURTON e outras de outros Ramos como a Unitel, Movicel, Cimangol, FCKS e muitas outras, temos quadros que passaram pelo crivo rigoroso do Dr Garbuze e hoje contribuem de forma ativa para a vida econômica do país.


Assim como também passaram por aquela casa muitos quadros políticos, governantes e ex-governantes como o caso do Engenheiro Manuel Vicente antigo PCA da Sonangol e o Ex-Deputado da UNITA Eng. Domingos Maluca.


O Doutor faleceu no dia 8/05 e no dia 10 a direção da FE-UAN para realizar o funeral e encerrar o assunto.
Nós, estamos envergonhados e chocados, pois, a mulher dele pedia ajuda à faculdade e como a faculdade depende da reitoria, não foi atendido a tempo para que tivesse um óbito e funeral condigno ou um funeral na sua terra natal.


É inadmissível e inaceitável, um homem com aquela dimensão ter de ser tratado como um animal.

Qual é a mensagem que as Autoridades Angolanas querem passar à sociedade em geral?

Que valor tem o conhecimento em Angola?

Para quando a meritocracia?

Que tipo de investimento de desenvolvimento buscamos sem a valorização e promoção da investigação científica?

Foi chocante, estamos indignados.

O Dr. Garbuze não merecia.

Que a alma dele descanse em paz e perdoe a nossa ingratidão.