Joanesburgo - Durante o ano de 1928 a 1933, Portugal vivia o chamado período de “ditadura militar”. Nas eleições de Março de 1929, o general Óscar Carmona fez-se eleger Presidente da República. Portugal vivia período de tensões e ameaças. Porém, face à incapacidade de os Serviços de Informações controlarem as conspirações contra o regime, o novo Presidente contratou um espião francês, George Guyomard, para estudar as forças de segurança e eventuais ameaças comunistas. Durante os três meses que  Guyomard ficou em Portugal, não detectou nenhuma ameaça. Pelo contrário, manifestou espanto por notar que em Portugal havia “ditadura, mas não havia ditador”. O poder, segundo o relatório de Guiomar, estava centrado nas mãos dos tenentes que haviam construído uma espécie de sovietes de quartéis.

Fonte: Facebook

O primeiro-ministro era Vicente de Freitas, as finanças do país estavam com problemas e este convidara, para o seu governo, um professor da Universidade de Coimbra para se tornar no salvador ministro das Finanças. No livro “Intimidades de Salazar”, o Tenente Horácio Assis Gonçalves, que fora um dos militares mais influentes do período da ditadura militar, escreve que a dada altura os tenentes sentiram que era necessário encontrar um “condottieri” (líder em italiano), tal como Mussolini, de Itália, a quem eles apreciavam. O Tenente Assis revela que ele próprio assumiu a missão de convencer os militares, que o salvador ministro das Finanças, António Oliveira Salazar, era o chefe autoritário que há muito procuravam. Com a ascensão do ministro das Finanças a chefe do Governo, em 1932, Portugal passou a ter “finalmente” um ditador e o tenente Assis Gonçalves, que se tornara seu secretário particular, foi um dos responsáveis que conduziu Salazar a quatro décadas de poder ditatorial.


Esta análise vem a propósito do actual contexto angolano. Pois, também não temos ditador, mas quando lemos que os agentes do Estado voltaram a raptar activistas (agora Hitler Samussuku, tal como fizeram, em 2012, com Cassule e Kamulingue), estão a retirar deputados do avião (como, em 92, fizeram com o candidato presidencial, Simão Cacete), a reconduzir-se patrões dos esquadros da morte, concluímos que não se está a fazer correcções às práticas erradas e que custaram caro a José Eduardo dos Santos.


Na última reunião do conselho de segurança, o Presidente João Lourenço deu sinais que não queria no seu governo, excessos de ontem. Porém, quando reconduz e mantem-se rodeado dos “tenentes” de ontem, fica automaticamente exposto ao surgimento de um “Tenente Assis” para fazer de si, um “condottieri”, como fizeram de Salazar os “tenentes” de Portugal.


O William Tonet, diz-nos que o ditador não precisa de 30 anos para o ser. A pessoa pode não desejar ser ditador, mas pode impedir-se de  nunca sê-lo. O Presidente deve retirar o “fato atípico”, como repetidamente tem aconselhado Adalberto Costa Júnior, e alterar a constituição. Deve afastar os “tenentes” do seu governo. Hoje arrancaram o Hitler Jessy Chiconde “Samussuku” do táxi, sem mandado de captura,  amanham jogam-no aos jacarés. Os que levaram Samussuku, são os mesmos que raptaram Cassule e Kamulingue. Nada mudou, porque o Presidente insiste mante-los no seu governo.

Referencia

1-Intimidades de Salazar: o homem e a sua época - Assis Gonçalves
2-A PIDE depois da PIDE: Salazar contra as policias - Jacinto Godinho
3-Relatório sobre Execuções Sumárias em Luanda - Rafael Marques de Morais
https://www.makaangola.org/files/OCampodaMorte.pdf