Lobito - Continua complicada a negociação entre vendedores e a Administração Municipal do Lobito. Para lembrar que a Administração expulsou os vendedores que efectuavam as suas actividades comerciais ao longo das vias rodoviárias, nomeadamente nas vias da Aerovia/Contente e Bar Africano (na antiga praça do Chapanguele). A causa, segundo a Administração Municipal, é os riscos de acidentes que essas pessoas correm quando desenvolvem actividades comerciais nesses lugares. A Administração Municipal tomou essa decisão depois de ter acontecido um acidente com um camião no passado 26 de Setembro, que vitimou mortalmente 4 pessoas e feriu outras 14. A maior parte das pessoas que praticavam comércio ao longo das estradas vieram do mercado do Mbango-Mbango, alegando péssimas condições como poeira e distância a percorrer para atingir aquele local.
Fonte: OMUNGA
A população tem-se manifestado perante a Administração desde a passada segunda-feira, mas sem sucesso. Os vendedores pedem que a Administração ceda o terreno das salinas para levarem a cabo as suas actividades comerciais, já que este local fica na zona baixa da cidade. Por sua vez, a Administração insiste que os vendedores subam para a praça do Mbango-Mbango que dista a mais de 10 Kms do centro da cidade.
Os manifestantes apresentam a proposta de ocupação do terreno das salinas que está visivelmente desocupado. A OMUNGA confirma tal facto já que, de um encontro tido com o Exmo. Sr. Governador provincial de Benguela, onde se abordou a situação dos moradores do actual recinto da Feira e que vivem o fantasma da ameaça de desalojamento forçado, aquele responsável garantiu que a própria Feira poderia vir a ser futuramente construída naqueles terrenos.
Os vendedores decidiram, com fundos próprios, iniciar o aterro das salinas mas foram impedidos pela polícia por falta de documento da Administração, “falta a declaração”, continuou a dizer-nos a Bibi. “Voltámos à Administração, até aqui não tem solução!”… “A polícia disse que tem que depender da Administração!”
“Estávamos com o comandante Liberal.” – foi ele que admitiu que entulhassem as salinas? – “Não nos admitiu para entulhar a salina, mas nós e a nossa força íamos tirar do nosso bolso, íamos entulhar a salina, a polícia veio…” A mesma vendedora adiantou “vimos que isso é provisório, é só para ficar aqui durante 3 meses, em Janeiro, nós todos vamos no M’Bango-M’Bango conforme falaram na Administração!”
A senhora continuou “porque também não adianta, só daqui, o povo do Bar Africano e Contente é que vai no M’Bango-M’Bango e a Canata, o Compão, a Kalumba, fica! Não estamos a fazer nada! Porque lá, o que nos tirou lá de cima, já é o sofrimento! Passávamos o dia a dormir, não vendíamos nada! Nós fomos lá com o bolso cheio, voltámos sem dinheiro. Agora como é que nós vamos mais lá em cima no M’Bango-M’Bango?!”
Desde quando estão na Administração? “Nós estamos na administração a partir de segunda-feira. Só hoje é que não fomos na Administração porque estamos a ver que já não há solução! Estão-nos a abandalhar, estão-nos a ignorar e mesmo ontem nos fecharam a porta na cara, não nos atenderam, mais tarde é quando nos atenderam, nos falaram que vão na Kalumba, falar com o SSOOOBBBAA, para vos dar uma parte das salinas para entulhar. Hoje mesmo fomos todos, fomos em peso, fomos prá Kalumba, estamos a voltar mesmo agora, há bem pouco tempo que chegámos aqui, fomos na Kalumba, o soba disse assim não pode, ou melhor, não poderia nos dar a salina para entulhar porque nós não temos declaração que certifica que nós estamo aceito lá, que ficámo aceito na praça da Kaluma, e voltámos, e agora estamos assim!.”
Cada um tem que ir procurar ver “se desenrasca qualquer coisa, qualquer coisa prós filhos! Vamos ficar assim até quando?!” Alguém no fundo “Vamos continuar mesmo assim???!!
Tivemos informação que priorizaram este terreno mas uma empresa estava a cobrar cerca de 3000000 Kz (três milhões de Kwanzas) para poder entulhar? “Nada, foi 30000 USD (trinta mil dólares)”, explicou.”Nem todo o mundo tem possibilidade, mas nós por causa do sofrimento, íamo-nos arriscar! Agora dependemos da Administração que não está a nos dar essa tal própria da declaração, e ele mesmo não vai dar a declaração! Também é muito dinheiro, muito dinheiro, as pessoas não têm possibilidade!”
Se a Administração decidir que todos vão subir no M’Bango-M’Bango, vocês vão aceitar? “Nós do Bar Africano que já ficámos no M’Bango-M’Bango um ano e sete meses com sofrimento enquanto as outras estavam aqui em baixo a vender, nós queremos que o Compão, a Kalumba, a Canata, é que sobem primeiro, nós seremos os últimos a subir porque já nos enganaram assim! Tiraram o Quintalão! a Canata, a Kalumba e o Compão ficou! E nós ficámos lá a sofrer.”
Mas mesmo que a Administração disser que todos vão subir, a Canata e o Compão, vai continuar lá o sofrimento?! A poeira vai continuar! “Também o governo tem que ver por essa situação, tem que ver!”
Acham boa ideia ter este terreno aqui para todos venderem? “É boa ideia, porque realmente uma praça tem que estar dentro dos bairros, porque nós dependemos das pessoas que vivem na beira da praça! Lá é mata, vamos vender pra quem?! (ouve-se no fundo – “ninguém consegue sobreviver. Só esse tempo que estamos a fazer esse negociozinho aqui no Africano, estamos a conseguir sobreviver. Agora de repente nos tiram daqui pró M’Bango-M’Bango é mais sofrimento pra nós!”)
“Já estamos conscientes que aqui estamos provisório, depois que aconteceu aquele acidente, tá certo, estávamos ao lado da estrada, estava mal. Agora disseram que temos que afastar mais atrás, deixam só a gente remediar estes dias!”
“Eles viram conforme nós organizámos as nossas barracas, eles disseram que aqui já é um bom limite porque já demos uma boa distância fora da estrada, já estamos fora do perigo, mas vocês não podem vender aqui sem a ordem da Administração. Mas então desde segunda-feira que nós estamos na Administração, qual é o dia, qual é o mês, qual é o ano que o governo ou o nosso Administrador do Lobito, que é o Sr. Amaro, vai nos dar a declaração?! A ordem de vender?! Não vemos essa hora! Estamos tramada, não temos nada pra fazer!”
A Isabel, uma das manifestantes diz que a intenção da Administração é de as abandonar já que até aqui não emite nenhuma declaração que permite que se entulhe a zona das salinas. “Os valores que a empresa pediu para entulhar já estão preparados, é a Administração ceder o terreno, vamos nos desenrascar mesmo aqui, ou eles nos matam ou não sei porque não temos aonde ir. Estamos a vir da Kalumba, não tem espaço para todo mundo. Não adianta só nós irmos para Mbango-Mbango. A partir de amanhã, Sábado, vamos começar a pendurar e a polícia que vier ou nos bate ou nos matam. Não temos outra alternativa”, completou.
Enquanto continua o impasse e a Administração continua surda às preocupações de centenas de vendedores e de milhares de compradores, a OMUNGA está a envidar todos os esforços para saber do Administrador sobre as reais intenções do seu pelouro em relação ao futuro das praças no Lobito. Por tal razão já endereçou mais uma carta ao Administrador a solicitar um encontro gravado. Estamos a aguardar!
Entretanto a OMUNGA já endereçou uma carta ao Comandante Municipal da Polícia a reclamar sobre a detenção da câmara fotográfica por parte do Intendente António Adão, da 1.ª esquadra policial, quando na tarde de 28 de Setembro, a equipa da OMUNGA fazia o trabalho de acompanhamento da manifestação dos vendedores por defronte da Administração Municipal. A câmara fotográfica foi-nos devolvida posteriormente mas apenas depois de ter destruído todo o seu conteúdo.