Luanda - Na edição do dia 1 de Fevereiro de 2019, o Novo Jornal fez uma notícia que deu a manchete "Acusação da PGR omitiu braço empresarial do MPLA da lista de beneficiários dos dinheiros do CNC", uma notícia assinada pelo jornalista Nok Nogueira, dando conta de que a acusação enviada ao Tribunal Supremo pela Procuradoria-Geral da República (PGR), relacionada com o processo que envolve o antigo ministro dos Transportes Augusto Tomás e outros co-arguidos, omitiu o nome de uma das firmas beneficiárias do investimento de USD 9.600.000,00 (nove milhões e seiscentos mil dólares norte-americanos) que o Conselho Nacional de Carregadores (CNC) fez na compra de 8% das acções pertencentes à empresa ASGM, Automóveis de Angola S.A., sociedade por quotas, que tem como objecto social a montagem de viaturas (SKD) de marca Volkswagen.

Fonte: Club-k.net

O NJ noticiou que de acordo com um documento a que teve acesso, entre os sócios da ASGM, a acusação “passou ao lado” da GEFI – Sociedade de Gestão Financeira, SARL”, o braço empresarial do MPLA, à data dos factos liderado pelo ex-secretário para Informação do partido no poder na qualidade de presidente do Conselho de Administração, Mário António, tendo ainda nos seus corpos sociais a antiga porta-voz da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) e actual juiz conselheira do Tribunal Constitucional, Júlia Ferreira, que pertencia ao Conselho Fiscal em representação da GEFI na estrutura da ASGM, S.A.

 

Para situar os nossos leitores e porque nada acontece por acaso, Mário António é o PCA da GEFI (empresa do MPLA), a mesma empresa que gere, desde 1992, a LAC - Luanda Antena Comercial, em Luanda, a RCC - Rádio Comercial de Cabinda, em Cabinda, a RMC - Rádio Morena Comercial, em Benguela, e a Rádio 2000, no Lubango, Huíla.


A omissão, por parte da PGR, de um possível envolvimento ilícito desta empresa do MPLA - que perante a Lei de Imprensa não devia gerir órgãos de comunicação social, o que constitui uma violação clara à lei - ao caso "CNC" mostra, em termos práticos, que ainda temos uma PGR que depende da vontade política de quem está a governar, o MPLA, e, pelo que tudo indica, que pode ajudar a acobertar crimes praticados por altos funcionários da instituição partidária MPLA.


Mário António, na presidência de João Lourenço, é membro do Bureau Político do MPLA. Desempenha funções de destaque no núcleo duro do MPLA, que decide o rumo do país, chegando mesmo a indicar e desindicar pessoas para determinados cargos, de acordo com o que ouve na boca pequena. Até hoje não se vê um único pronunciamento da Procuradoria-Geral da República sobre as razões de ter omitido o nome da GEFI no caso CNC e não vemos o Titular do Poder Executivo pronunciar-se sobre isto, quando é o próprio MPLA que diz pretender moralizar a sociedade, elaborando discursos segundo os quais ninguém é suficientemente tão poderoso que não pode ser responsabilizado por crimes que comete.

 

O Jornalismo de Investigação, do nosso ponto de vista, já devia ter entrado em acção para se descobrir até que ponto deverá existir "máfia" na PGR e no MPLA e a possibilidade de João Lourenço, presidente do MPLA e do país, estar também envolvido em esquemas, o que reforça ainda mais a nossa ideia de que poderá haver no país uma justiça selectiva contra alguns militantes do MPLA e filhos de José Eduardo dos Santos, deixando outros tantos "filhos" intocáveis em órgãos de investigação que deviam promover uma justiça sem rosto.


Acreditamos, por outro lado, que João Lourenço poderá estar a ser traído pelos seus companheiros que fazem parte do Bureau Político do MPLA. Se for o caso, o Titular do Poder Executivo precisa de reagir urgentemente, solicitando mesmo à PGR um esclarecimento sobre as razões que estiveram na base da omissão do nome da empresa do MPLA designada "GEFI" no caso CNC e deve fazer também um esclarecimento público aos governados sobre as possíveis consequências na "nova Angola" quando não se separa o poder judicial do poder Executivo (MPLA), assim como dar esperança necessária à sociedade, com uma responsabilização de, também, empresas do mesmo MPLA de que é presidente, que se envolvem em crimes contra o Estado angolano. Não se pode alimentar a ideia de que o MPLA vale mais que Angola quando, em teoria, não é verdade. Falta vermos agora uma PGR que consiga investigar e acusar pessoas singulares e colectivas com base apenas na lei e não pelo facto de poder haver implicações negativas para o partido do presidente da República.

Carlos Alberto
20.05.2019