Luanda - Ao não conferir honras de Estado às exéquias de JMS, o Executivo não só deixou a rédea solta à UNITA para que o partido do Galo Negro colhesse os benefícios políticos com o seu morto, como também não avaliou devidamente a situação, já que não contava com as simpatias que JMS ainda goza, mesmo depois morto e diabolizado até à exaustão.

Fonte: Facebook


Como que apanhados em conta mão, os «iluminados» do regime foram surpreendidos com os banhos de multidão que o acto tem vindo a mobilizar nas tradicionais praças-fortes do Galo Negro.


Nas contas mal feitas de alguns desses «pensólogos», as cerimónias fúnebres, sobretudo no Kuito seriam uma forma de reacender, ou adensar a animosidade da população local que, há mais de quarto de século, sofreu na carne o cerco à cidade e as atrocidades cometidas pelo movimento rebelde então liderado por JMS. Ledo engano!


O gesto, algo musculado do general Pedro Sebastião, terá sido uma corrida desesperada «atrás do prejuízo», de forma a reduzir ao mínimo o impacto político do funeral do «cadáver mais incómodo» do país. Como se isso não bastasse, cometeram outro erro: isolar a família de JMS do partido de que ele fora fundador.


Em boa verdade, o erro não começou no actual governação de JLo, mas de JES que não soube libertar o corpo do líder rebelde quando, nos primeiros 5 anos subsequentes à sua morte, a sua popularidade estava acentuadamente de rastos em que o nome de JMS quase que causava náuseas em vários segmentos da população.


Com o tempo foi-se dando conta que, afinal, a morte de JMS não só deixou órfão a UNITA, como também o próprio MPLA que perdera um «aliado contra natura», com o qual repartia as culpas da má governação e a crescente incapacidade de satisfação das necessidades básicas das populações, tais como o fornecimento de água potável, energia, saúde e saneamento básico.


Depois da realização com sucesso das exéquias do general Bem Ben, JLo tinha tudo para brilhar com JMS caso apostasse num funeral de Estado, à semelhança do que ocorreu meses antes em Moçambique em que o seu homólogo Filipe Nyusi que, num assomo de coragem e em desafio às correntes mais conservadoras da FRELIMO e das Forças Armadas, não hesitou em acolher os restos mortais de Afonso Dhlakama.


Ao elevado gesto de humanismo e tolerância política não se pode dissociar o facto de, num clima de guerra, ainda que de baixa intensidade, o chefe de Estado ter abandonado o conforto do seu palácio da Ponta Vermelha e ter ido ao encontro do então da RENAMO que se refugiara na Gorongosa.


Espero que o MPLA e a ala mais conservadora do regime saibam fazer as devidas leituras e tirem as ilações mais apropriadas deste episódio, que quase deixou cair por terra todos os esforços de Reconciliação Nacional empreendidos pelo PR JLo.