Luanda - A surpresa é o prazer inesperado, um facto imprevisto, aquilo que nos dá o encanto e nos espanta, como maravilha. A maravilha é o poder de Deus que faz o impossível, dê- nos a felicidade e a vida; liberta a alma do tormento e da tristeza; e inspira em nós a fé e alegria. Além do mais, a maravilha sujeita o mal com feitos de justiça e vence exércitos poderosos com um gesto simples de espada, dando a liberdade e a felicidade aos sub ditos pobres e oprimidos - o Grande Senhor do Céu. O «cavaleiro do cavalo branco» é bíblica, consta do Apocalipse 19:11-21, que começa por esta frase: “Vi então o céu aberto e aparecer um cavalo branco montado por alguém que se chamava Fiel e Verdadeiro - aquele que julga e combate com justiça.” Fim de citação.

Fonte: Club-k.net

O aforismo acima expresso, da escritura sagrada, do «cavalo branco», é um epíteto militante, atribuído ao Abel Epalanga Chivukuvuku por seus correligionários devido a sua audácia e entrega total. Estando sitiado por dois exércitos poderosos, com os acólitos ao redor. Ele, na sua luta, defende a liberdade, a igualdade, a justiça e o bem- estar social das populações mais carentes e mais desfavorecidas da sociedade angolana.


Há de facto dois acontecimentos distintos e inéditos que me fizeram escrever esta reflexão. O primeiro acto ofende a consciência de qualquer pessoa de boa-fé. Ao passo que, o segundo acto é um espanto do encanto, de um acto inesperado. Pois, é estranho que se torne uma controvérsia entre as partes durante o processo da transladação, da entrega à família e da inumação dos restos mortais do Dr. Jonas Malheiro Savimbi. Este acto infeliz criara um clima melancólico, tenso e de êxtase.


Pois, nós os africanos, no contexto da nossa cultura, o corpo morto é sagrado e deve ser tratado com respeito, com carinho e com honra. Importa saber que, Dr. Jonas Malheiro Savimbi foi nativo africano, imbuído dos valores do pan-africano e da negritude, como sendo instrumentos eficazes de consciencialização política, da emancipação cultural, da solidariedade humana e da integração socioeconômica do continente africano. Repare que, Dr. Jonas Savimbi foi um homem bastante culto, integro e ousado, que nasceu no interior do planalto central, da classe média e de uma família religiosa. Na sua infância, junto dos seus pais, viveu ao longo do Caminho de Ferro de Benguela (CFB), onde seu pai, Lote Malheiro Savimbi era funcionário. Por ai conviveu intensamente com muita gente, de todas as origens étnico-culturais, inclusive dos países vizinhos, do Congo e da Zâmbia.


Na verdade, além de nacionalista, Dr. Jonas Malheiro Savimbi foi um político carismático, perspicaz, com convicções muito fortes, assente na cultura africana, com raízes bem profundas na civilização cristã, do mundo ocidental. Portanto, uma figura desta dimensão sociocultural, na sua dignidade humana, não teria sido objeto de menosprezo e blasfêmia, durante a caminhada à última morada, na Terra de Lopitanga. Este acto infeliz e divergente demonstram claramente a dimensão e a profundidade do fosso abismal que nos separa, como filhos da mesma pátria, que devem amar-se um ao outro, em busca da reconciliação, da unidade nacional, da coesão social e do bem-estar de todos. O que é bastante lamentável o que tenha acontecido.

Quanto ao espanto do encanto se refere à conferência de imprensa do dia 29 de Maio de 2019, do Abel Epalanga Chivukuvuku, que teve o objetivo único de informar a opinião pública sobre os pormenores do seu tratamento em Luanda e na África do Sul. O espírito de abertura e de transparência é menos comum na classe política africana, em que a doença de um dirigente constitui um tabu, um segredo de Estado, que fica oculto ao público, mesmo na beira da morte. Neste caso, só Nelson Mandela que tinha uma cultura diferente, cuja saúde era o domínio geral do povo sul africano, que solidarizava com ele, levavam ramos de flores ao hospital onde se internava, escutavam atentamente os relatórios médicos diários, e intercediam com orações constantes tanto nas igrejas quanto nos círculos familiares.


Veja que, os povos civilizados, do mundo cristão, actuam com espírito profundo de amor ao próximo, de solidariedade e de compaixão. De facto, o ser humano tem o instinto afinado sobre o valor da vida e o perigo da morte. Em função disso, faz mover a sua consciência para agir de imediato de acordo com as condições de momento, se o bem comum estiver ameaçado, ou quando se encontrar na encruzilhada entre a felicidade e a desgraça.


Interessa notar que, a família é o núcleo básico da comunidade humana, com afinidades de sangue, que estreita os elos entre si, como teias de aranha. Por este motivo, o Abel Epalanga Chivukuvuku esteve bem em estar rodeado pela sua família diante os jornalistas e o público, na conferência de imprensa, para agradecer e esclarecer tudo que se passou durante a doença. Este acto de sensibilidade humana é extraordinário e louvável, um bom exemplo para a classe política, cuja responsabilidade é de representar e servir o povo, ao qual devem prestar contas.


Enfim, interessa dizer que, o passado constitui não é só uma escola, mas sim, uma Estrela Polar que serve como ponto central de orientação. E esta Estrela Polar foi o Dr. Jonas Malheiro Savimbi, ao qual devemos o nosso saber, de estarmos à altura de engajar-se na luta de libertação nacional e na conquista da democracia plural. Por isso, é com muito orgulho que nos manifestamos a nossa viva solidariedade, o nosso respeito integral e a nossa lealdade inequívoca ao Nosso Mestre.

Aliás, na História da Humanidade os Discípulos aprendem com seus Mestres, através dos quais desenvolvem a Doutrina para os novos espaços e para os horizontes mais distantes, de acordo com as transformações concretas da época. Uma ciência política, de uma matriz filosófica distinta, que se limita a um espaço específico, fica estática no tempo, e torna-se um dogma. Nesta perspectiva, o Platão, por exemplo, foi o estudante do Sócrates, e professor do Aristótele, fundadores da filosofia ocidental. Tendo-se dedicado ao estudo sobre a política, cultura, justiça, estética, epistemologia, teologia, e cosmologia, etc.


O outro exemplo concreto foi do Karl-Marx, que desenvolveu a teoria marxista a partir das temáticas filosóficas do Friedrich Hegel, do Ludwig Feuerbach, do Aristóteles e do Emanuel Kant. Dalí para diante, se desenvolveu o liberalismo e a social democracia ocidental, assente na economia do mercado e na livre iniciativa, que se prática hoje a escala mundial, com as adaptações devidas de cada país.


Se recuar um pouco na História da China constatará que, ela fundou-se na grande filosofia do Confucius, que destacava o ensinamento da moralidade pessoal e governamental, da retidão nas relações sociais, da justiça e da sinceridade. O médico e político Sun Yat-Sen foi discípulo do confucionismo e entusiasta da civilização ocidental, que lhe serviu de instrumento político de luta contra a opressão Manchus. O Presidente Mao Tsé-Tung, que libertou a China da dominação estrangeira, aprendeu com Sun Yat-Sen, com Karl Marx e com Vladimir Lênin. Ao passo que, o Deng Xiaoping, o cérebro da teoria actual da economia chinesa, foi adepto do Mao Tsé-Tung, com que fizeram a Grande Revolução Popular.


Contudo, o paradoxo do sistema mundial contemporâneo reside no Grande Mestre Italiano, o Príncipe Nicolau Maquiavel, cuja filosofia não é assumida formalmente por ninguém, mas é praticada por toda gente. Para dizer que, o «pensamento político» do Dr. Jonas Malheiro Savimbi assumiu a dimensão mundial, como património universal, submetido ao estudo amplo por diversas instituições do saber. Parece-me que, é por este motivo, de grandeza do pensamento, que atrai a opinião pública nacional e internacional ao Planalto Central. O que, de certo modo, tenha sido o grande desafio ao poder centralizador e unipessoal. Paz a Sua Alma!


Luanda, 31 de Maio de 2019.