Luanda - Falei recentemente que nós não gostamos de aprender com o passado ou aprendemos muito pouco, ao ponto de estarmos sempre a ameaçar os outros com a possibilidade de termos de volta os recortes mais dramáticos desse mesmo passado.

Fonte: facebook

Falei isso a propósito do 27 de Maio. Felizmente que este "nós" é apenas uma parte do todo.


Felizmente que não se aplica aqui o princípio catastrofista de Murphy que é aquele que nos diz que nada está assim tão mal, que não possa ficar ainda pior.


Nós todos juntos, sem precisarmos de estar todos misturados, valemos muito mais do que todas as partes separadas, somos muito melhores.


Esta coabitação pacífica é o grande desafio do estado-nação que estamos a edificar e que ainda nem meio século tem de consolidação, com a agravante de mais de metade deste percurso ter sido feito ao som dos batuques da guerra, dos trombones da ditadura e das sirenes da intolerância.


Vamos com calma, que o caminho que temos pela frente ainda é longo até chegarmos lá, até conseguirmos olhar para o passado de forma pacífica, como sendo apenas a nossa história.


Não será, certamente, neste tempo que isto vai acontecer, mas tem de ser nesta transição geracional que temos de equacionar o papel da história no processo de construção do Estado-nação.


Para a tal parte, a história vale o que vale e serve muito pouco para perspectivar o presente e o futuro, sobretudo quando ela não nos agrada porque choca com as nossas convicções, com destaque para as mais políticas.


A história só é boa para recordar e para aprender quando ela fala das nossas glórias, mesmo que forem só nossas, da nossa parte e de mais ninguém.


Dizem que é a tal história dos vencedores, mas também pode ser a dos vencidos, num país onde os seus protagonistas têm sempre uma narrativa para justificar quase tudo.


A outra história é para esquecer ou para diabolizar.

Da primeira podemos falar todos os dias.


Da outra, mesmo que for só uma vez por ano, já nos irrita solenemente ao ponto de acusarmos os outros de estarem toda a hora a falar do mesmo assunto ou de serem revanchistas.


Num país com a recente história de Angola feita com tantos desencontros, com tanta violência/exclusão não nos parece que o futuro se possa construir de forma diferente, com mais harmonia sobretudo, se continuarmos nas nossas trincheiras do passado e a transmitir esta herança para as jovens gerações.


O discurso do ressentimento/exclusão é muito mais viral que o seu antídoto, que é o discurso da inclusão/contextualização.


O esforço de superação tem de ser feito por todas partes e de pouco adiantam os recados que se mandam para ter cuidado com isto ou com aquilo, como se estivéssemos a caminhar sobre um campo com minas terrestres anti-pessoais.


É tempo de começarmos a deixar para trás este espírito para nos reencontrarmos definitivamente com todas as diferenças que possamos ter na valorização dos diferentes momentos do nosso passado comum.
Afinal de contas, Angola ainda está muito longe de ser o tal país bom para se viver e de que nos possamos orgulhar realmente.


Todos sabemos que não é um exercício fácil de fazer, sem mais rupturas, mas alguém tinha de tomar a iniciativa, após termos andado 38 anos (até 2017) a investir apenas no esquecimento das outras histórias, dos outros passados, das outras heranças que podiam afectar a "qualidade" da narrativa oficial sempre vitoriosa.


(Reginaldo Silva/Facebook)