Luanda - Num discurso que apontou baterias à família do seu antecessor, o Presidente de Angola falou dos “que ameaçam o MPLA e fazem chantagem” e defendeu a necessidade de fazer respeitar a Constituição e a Lei.

Fonte: Publico

O Presidente de Angola abriu o 7.º Congresso Extraordinário do MPLA, lamentando a ausência do seu antecessor na liderança do partido e do país: “Gostaríamos imenso de ter entre nós a presença do camarada José Eduardo dos Santos, que, ao longo de 39 anos, conduziu o MPLA nos momentos bons e maus e hoje é o presidente emérito do nosso partido”, afirmou João Lourenço.


Se estivesse, aquele que foi chefe de Estado angolano durante 39 anos, não gostaria de ter ouvido o seu sucessor a criticar aqueles que “ameaçam o MPLA e fazem chantagem”, numa clara alusão à família Dos Santos.


Uma das filhas de José Eduardo dos Santos, a deputada Tchizé dos Santos, é outra das grandes ausentes do congresso, suspensa do Comité Central do partido por estar ausente do Parlamento há mais do que os 90 dias permitidos pelo estatuto de deputado e se recusar a suspender o seu mandato.

 

Além disso, afirmou o Presidente angolano, “não é aceitável que se tenha chegado ao ponto de colocar a Sonangol e a Sodiam a financiar negócios privados como se de instituições de crédito se tratassem”. As duas empresas públicas, a primeira de petróleo e a segunda de diamantes, foram parceiras de negócio em investimentos da empresária Isabel dos Santos, a filha mais velha do ex-chefe de Estado.


Nesse conjunto de mensagens para ex-líder do MPLA ausente, Lourenço aproveitou para lembrar a “necessidade de que os que têm responsabilidade de fazer respeitar a Constituição e a Lei, sejam os primeiros a cumpri-la para que, com o seu exemplo, eduquem toda a sociedade no respeito pelo bem público, pela necessidade de todos prestarem contas da forma como gerem o erário público”.

De acordo com João Lourenço, a dívida publica angolana serviu “para financiar o enriquecimento ilícito de uma elite restrita e muito bem seleccionada na base do parentesco, do amiguismo e do compadrio, que constituíram aglomerados empresariais com esses dinheiros públicos”.

Aos 2448 delegados presentes, o líder do MPLA sublinhou que “esta situação de injustiça” obriga o Estado “a pagar o investimento dito privado na banca, na telefonia móvel, nos media, nos diamantes, na joalharia, nas grandes superfícies comerciais, na indústria de materiais de construção”, tudo sectores em que as empresas de Isabel dos Santos ou suas participadas mantêm parcerias com empresas públicas angolanas.

Segundo o Novo Jornal, na quinta-feira, a Procuradoria-Geral da República de Angola divulgou uma lista de empresas ligadas a grandes figuras do anterior governo – como Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, Leopoldino Fragoso do Nascimento (Dino) ou Manuel Vicente – “em processo de privatização irregular” ou financiadas com garantia soberana do Estado “sem ter havido o reembolso voluntário desses fundos públicos até à presente data”.

Este 7.º Congresso Extraordinário também ficou marcado por um acto simbólico de reconciliação do MPLA com a sua história, com a exposição das fotografias, na sala onde o congresso decorre, no Futungo de Belas, nos arredores de Luanda, dos cinco presidentes que o partido já teve.

Se até Eduardo dos Santos, era como se o MPLA tivesse sido liderado apenas por ele e Agostinho Neto, agora lá estavam, lado a lado, os rostos de Ilídio Machado (1956-59), Mário Pinto de Andrade (1960-62), Agostinho Neto (1962-79), José Eduardo dos Santos (1979-2018) e João Lourenço.