Luanda - Cheguei na livraria Kiazele muito mais cedo do que o habitual, 13 horas, por força de uma boleia do kota Carequinha, meu falecido vizinho do bairro Panguila, tirou-me da porta de casa até ao local da detenção, nunca antes tivera uma boleia tão completa como aquela, pelo tipo de conversa que mantínhamos houveram momentos que dava a impressão de ser uma viagem de despedida. Havia combinado com o meu primo Mbambi que tão logo chegasse ao desvio da Cimangola deveria ligá-lo, mas que por culpa do ritmo da conversa acabei por me esquecer, sorte dele!

Fonte: Club-k.net

OS ÚLTIMOS MOMENTOS ANTES DA DETENÇÃO DOS 15+2

Estando já no local, livraria e centro de formação, deleitava-me em ver as pautas afixadas na vitrina, decidi ligar ao Hitler para saber onde ele estava. Estou mesmo a chegar, estou aqui no São Paulo, dentro de minutos chego já! Antes mesmo de ele chegar Nuno Dala cruza, me saúda e fica também a apreciar as pautas, quando decidiu entrar na sala de debates, um quartito pequeno, é que dei conta que alguns já haviam chegado e estavam dentro a revisar algumas matérias. Próximo daquela sala havia uma outra que os activistas chamavam de Bunker, se calhar por ser mais apertada.


Entrei e encontrei o Inocêncio, Mbanza, e o Nicolas, minutos depois chegou o Hitler, de seguida o Arante, Dibango, Bingu Bingu, Nito, e o ambiente para o debate estava criado. Alguns minutos chega o Luaty, e mesmo ainda fora do quadro dos debates trouxe um outro tema, a campanha “ BUZINA SÓ”, semelhante ao adianta só da Unitel, consistiria em incentivar os automobilistas a protestarem junto das bombas quando estes encontrarem-se na dificuldade de abastecerem as suas viaturas por força da crise dos combustíveis que se acentuava naquele ano, ainda na mesma senda previa-se uma palestra cujos oradores seriam Makuta Kondo , João Paulo Nganga mais alguns dos nossos, com o tema, Como Aproveitar a Crise do Petróleo Para A Queda da Ditadura.

 

O Domingos da Cruz ficou com a missão de contactar Makuta e o Nganga, e o Dibango a responsabilidade de encontrar o local. Era este o ponto central para aquele encontro e não mais o de analisar o livro de Domingos. Fazíamos um compasso de tempo a espera dele para o relatório da responsabilidade a ele atribuído. Um pouquinho mais tarde juntou-se a nós o Sedrick, decidimos começar o debate, e a primeira pergunta, pelos vistos a que definiu todo debate: Manos, qual é o capítulo a ser abordado hoje? Perguntou o Luaty! Ninguém respondia. Mas será que estamos mesmo empenhados naquilo que viemos cá fazer? Outro silêncio!Ok, então é melhor que cada um defina o que é isto que temos vindo cá fazer!


Prontos, o debate girou em torno daquilo, cada um dando a sua definição, neste instante o Sedrick se retira para ir buscar o Dito Dali, era a sua primeira participação, não conhecia o local nem qualquer uma das pessoas que se encontrava no debate, foi convidado pelo Domingos, que no dia 20 de Junho também não se fez presente.


Quando chegou, o mano todo vaidoso, trajando calca azul, camisola branca e ténis cor verde, senta justamente comigo, no meu lado directo, esperou mais 5 minutos e apresentou-se. Depois do mesmo sentar, outra pessoa ainda toma a palavra, entre o Sedrick e o Nuno, já não lembro muito bem, e é nesse instante, cerca de 15 ou 25 minutos apenas depois de o Dito conhecer a maior parte dos revús, que calmamente a porta se abre, entra um indivíduo de camisola vermelha e óculos escuros e diz: Estão presos, bem presos! Ninguém entrou em pânico, ninguém resistiu ou tentou uma fuga.


De princípio pensei que era um activista a tentar brincar, mas quando sacou a pistola e outros colegas seus invadiram a sala me apercebi logo que eram polícias e estávamos presos, e bem presos.


As outras versões poderás saber no diálogo com os 15+2 a ser realizado pelo Movimento Hip Hop de Intervenção Terceira Divisão, a ser realizado neste sábado, pelas 15h, na Boa Esperança, Kikolo, no Salão do Arejo defronte a AngoMart.