Luanda - Paulo de Carvalho defende que as críticas ao líder sejam feitas nas estruturas partidárias. A opinião do sociólogo e militante do MPLA é relativa à suspensão da deputada e membro do CC ‘Tchizé’ dos Santos.

*Félix Abias
Fonte: Vanguarda

As críticas ao líder do partido devem ser feitas nas estruturas do partido e não publicamente, defende o sociólogo Paulo de Carvalho, militante e consultor do MPLA. O sociólogo respondia ao Vanguarda às questões relativas à decisão do Comité Central do MPLA, de suspender a deputada e membro deste órgão Welwítchia Tchizé dos Santos, filha do ex-presidente do partido e Presidente da República, José Eduardo dos Santos, por suposto comportamento que viola os estatutos do partido. “O erro que a Tchizé dos Santos comete, aponta o sociólogo, é ir às redes sociais, apresentar críticas, porque se vê lesada nos seus interesses, quando deveria o fazer nos órgãos competentes, porque as redes sociais “não vão resolvem nada. “O líder do partido é uma pessoa na qual não se deve tocar, este é um princípio de base”, defende.

 

Nesta perspectiva, Tchizé dos Santos justifica a sua crítica pública com a suposta difamação à sua imagem feita internacionalmente por João Lourenço. “Fazer crítica não é indisciplina partidária”, disse, para quem o CC receia que vá ao congresso dizer isso, ao mesmo tempo que entende ser uma medida que que visa amedrontar quem queira criticar publicamente o presidente.

 

De acordo com o comunicado final da última reunião do CC, lido pelo porta-voz do partido, Paulo Pombolo, com o seu comportamento, Tchizé dos Santos violou o artigo 35º dos estatutos do partido, segundo o qual as suas preocupações devem ser apresentadas nas assembleias de militantes.

 

Segundo ainda o artigo em causa, a assembleia de militantes é a reunião geral dos militantes regularmente inscritos na área de responsabilidade de cada organização de base do partido, realizada anualmente, para efectuar o balanço do trabalho, aprovar o programa de actividade para o período seguinte, e/ou eleger as suas direcções findo os respectivos mandatos. Compete ainda à assembleia de militantes: balancear a actividade do partido, eleger os membros da direcção da organização de base do partido, eleger delegados, eleger candidatos e discutir assuntos de carácter político, económico ou social, previamente agendados.

 

Questionado se a suspensão de Tchizé dos Santos não inibiria os militantes de fazerem críticas ao partido ou, particularmente, ao líder do partido e Presidente da República, disse que “uma coisa não tem nada a ver com outra”, e garante que ele próprio tem criticado mas nunca foi sancionado por isso. “Sou muito crítico, e as acrítica que faço apresento-as publicamente desde 1993. Obviamente, alguém pode dizer que já fui perseguido por isso, tudo bem, aconteceu, é verdade. Mas nunca fui sancionado como militante”.

 

Segundo Paulo de Carvalho, há uma grande diferença entre ele, enquanto militante de base, e Tchizé dos Santos, que é dirigente do MPLA. “A partir do momento em que alguém decide integrar o Comité Central, tem que cumprir as normas da disciplina partidária relativa a dirigentes, ou seja, as críticas devem ser apresentadas no seio dos órgãos a que pertencem”, reitera.

 

Por outro lado, salienta, não se deve criticar por criticar, e exemplifica: “Há dias fiz uma crítica sobre uma medida que o Ministério do Ensino Superior pretendia tomar, e eu estou convencido de que a medida estava errada e que as pessoas que a iriam tomar, só o fariam porque não percebem de gestão universitária. O que fiz foi fazer a crítica esclarecendo, porque uma coisa é criticar por criticar, outra coisa é elucidar e apontar caminhos, e nem apresentei a crítica porque vejo prejudicados os meus interesses pessoais”.

 

“O timing não é o melhor” Uma curiosidade que salta à vista na suspensão de Tchizé dos Santos, é o facto de ser sancionada a uma semana do congresso extraordinário, quando tem criticado o estilo de liderança de João Lourenço há mais de um ano, quer a nível do partido, quer a nível do Executivo. Chamado a comentar, Paulo de Carvalho é da opinião de que o timing em que o partido decidiu sancioná-la “não é o melhor”.

 

Contudo, o MPLA não está sozinho no que diz respeito à suspensão de membros às portas de congressos. Em 2011, o maior partido na oposição, a UNITA, suspendeu preventivamente 12 dos membros da Comissão Política, órgão equivalente ao Comité Central do MPLA, por 45 dias, supostamente por violação dos estatutos, por se terem associado ao grupo de reflexão que contestava Isaías Samakuva.

 

Com a suspensão, os visados viram-se impedidos de participar do congresso ordinário, nomeadamente como candidatos à liderança da UNITA. Trataram-se do político Abel Chivukuvuku, que viria romper com o partido, depois de 38 anos de militância, para ser presidente da CASA-CE até 2018, o antigo médico de Jonas Savimbi, Carlos Morgado, que viria igualmente integrar a CASA-CE, o antigo secretário-geral do partido, Lukamba Gato e o actual secretário executivo da CASA-CE, Rafael Aguiar, os malogrados Carlos Morgado, antigo médico de Jonas Savimbi, e o antigo ministro do Comércio do Governo de Unidade e Reconciliação Nacional (GURN), Joaquim Muafuma.

 

Xavier Jaime, um dos actuais responsáveis dos “independentes” da CASA-CE, que estão em via de criar um partido político, Manuel Tadeu, António Tchiulo Felipe, Evaristo Chicolomuenho e Américo Chivukuvuku completam a lista dos suspensos.

 

Na sequência da reunião que ocorreu no Huambo, a Comissão Política da UNITA instaurou processos disciplinares. Por sua vez, o presidente da FNLA, Lucas Ngonda, suspendeu vários militantes antes do último congresso realizado no Huambo, que viria ser anulado pelo Tribunal Constitucional. Os visados acusaram-no de “não saber lidar com a crítica e evitar possíveis concorrentes à presidência do partido.