Joanesburgo - Em Junho de 2015, o general Antônio José Maria, na altura Serviço de Inteligência e Segurança Militar (SISM), convenceu o ex-Presidente José Eduardo dos Santos com a falsa informação de que estaria em curso, em Luanda, preparativos para um suposto "golpe de Estado", visando a sua destituição. Para neutralização do falso “golpe de Estado”, o general contou com um especialista do SIC, João Pedro que a 20 de Junho daquele ano comandou, no terreno (bairro Vila Alice), a operação de detenção – sem mandado de captura – de um grupo de jovens que ficou conhecido por “15+ 2”. Para a parte legal da neutralização do falso “golpe”, o general contou com os préstimos do Vice-PGR, Luciano Chaca, que seria depois agraciado (entre os dias 6 e 7 de Agosto) com uma consulta médica, na capital portuguesa, por conta do Estado.

Fonte: facebook

"O general  era a entidade que mandavam nos  juízes na era JES"

Na fase do julgamento, o general montou numa das salas, do Tribunal do Benfica, em Luanda, um “gabinete operacional” que era acompanhado por sete operativos da secreta militar encabeçados pelo brigadeiro Fula Neto. O Brigadeiro Fula Neto era o oficial que naqueles anos se destacava como o operacional do SISM para as questões do “Movimento Revolucionário”, ao contrário do tenente-general Filomeno Peres Afonso “Filó” que era para missões sensíveis como foi a execução de Isaías Cassule, descrita, em tribunal, pelo recluso Júnior Mauricio "Tcheú"


Certo dia, naquele edifício do Tribunal do Benfica, os familiares do preso politico, Osvaldo Caholo estavam a procura da sala de audiência para assistir mais uma das sessões de julgamento e erradamente entraram para a “sala de operações” montada por Zé Maria. Por ironia, reconheceram um parente seu do SISM que neste dia estava ai em serviço. Desde então já não se teve duvidas de que no regime de JES, o general Zé Maria era a entidade que controlava os juízes, procuradores ou "procuradoras de perucas" para fabricação de falsas sentenças contra opositores, enquanto analistas eram mandados para a TPA defender a tese de existência de "separação de poderes" em Angola.


Também por ironia, estamos precisamente num mês de Junho, em que há informações de que aquele “antigo patrão informal do poder judicial”, da era JES, perdeu os sentidos no momento em que lhe foi colocado as algemas nas mãos, ao ser detido por alegada “insubordinação militar”, o mesmo crime que em 2005, o então procurador militar, general João Maria de Sousa, o coronel Beato Manuel Paulo (a época ajudante do procurador militar) haviam fabricado para prender e humilhar o general Fernando Garcia Miala.


Antecedentes:

Em finais de 2012, o Brigadeiro Fula Neto e o seu, tenente-general Filomeno Peres Afonso “Filó” realizaram démarches de penetração no Movimento Revolucionário (MR) fazendo-se se passar por quadros do Ministério da Juventude e Desportos, interessados em ajuda-los. Ambos chegaram a reunir-se, no Hotel Continente, em Luanda, com uma facção do MR, liderada pelo ex- activista Mário Domingos.


A experiência do general Zé Maria em acompanhar de perto julgamentos de jovens contestatários ao Presidente JES remonta desde 2011, ano em que iniciaram a realizar as manifestações anti-regime.


No dia 3 Setembro daquele ano, o juiz Adão Bento Damião, do tribunal municipal da Maianga conduzia o julgamento sumario contra um grupo de jovens acusados de realizarem manifestação contra o longo consulado do Presidente José Eduardo dos Santos. Na hora do intervalo do julgamento, o general Zé Maria apareceu no Tribunal e chamou-lhe por alguns minutos.


Ao fim do intervalo, o Juiz Adão Damião regressou a sala da audiência com um ar perturbado e mesmo sem prova contra os réus condenou os manifestantes aplicando uma pena de menos de 45 e três mês. Para além desta medida, recusou converter as penas, em multa conforme manda a lei, com relação as sentenças inferiores a seis meses de condenação.