Luanda  - A ativista angolana Carolina Pinto, seropositiva, denunciou hoje que instituições em Angola "continuam a exigir testes" de VIH/Sida para contratar, "inclusive a empregadas domésticas", afirmando que "persiste no país uma discriminação a vários níveis".

Fonte: Lusa

"A discriminação persiste sim e a vários níveis, nas instituições, seja pelo empregador, seja pelos colegas, e prova disso é que ainda continuamos a pedir testes de VIH/Sida para ingressar no emprego e até a empregadas domésticas estão a pedir os testes", afirmou a ativista, em declarações aos jornalistas, à margem do Encontro Nacional da Rede Angolana das Organizações de Serviços de Sida (ANASO, organização não-governamental).

 

"Não acredito que após o resultado positivo ela possa ser empregada, então está claro que a discriminação existe a vários níveis e precisamos de fazer alguma coisa para combater", adiantou, alertando que a discriminação pode contribuir para o aumento do número de pessoas infetadas.

 

Porque, observou, "quanto mais discriminação haver, mais revolta, mais as pessoas se escondem e, provavelmente, o número de pessoas infetadas pode aumentar, porque pode ser uma certa vingança e revolta, que não acontece com todos os seropositivos".

 

Em maio, o Instituto Nacional de Luta contra a Sida (INLS) angolano anunciou que pelo menos 13.000 pessoas morrem anualmente vítimas da doença e que das 310.000 pessoas vivendo com VIH/Sida, cerca de 27.000 são crianças, 190.000 mulheres e 21.000 grávidas.

 

As províncias angolanas do Cunene, com 6,1%; Cuando-Cubango, com 5,5%; Moxico 4,0%; e Lunda Sul, com 3,9% "continuam a registar altas taxas" da doença, segundo as autoridades.

 

Carolina Pinto, que convive com a doença há 20 anos, considerou que as autoridades angolanas "devem rever as ações" de combate ao VIH/Sida, dando o exemplo do "insuficiente número de recursos humanos para dar resposta ao número de pacientes existente".

 

Por outro lado, assinalou, "deve ser vista também a questão da responsabilização dos técnicos de saúde e da punição, porque há um desleixo por parte de alguns", apontando também a "desmotivação pelos baixos salários que o pessoal da saúde tem, é um salário indigno".

 

Segundo a também membro da Associação dos Amigos Seropositivos de Angola, a problemática do VIH/Sida no país deve ser vista numa "perspetiva transversal, a nível de todos os departamentos ministeriais" e "não centrada apenas no Ministério da Saúde".

 

"Parece que o VIH/Sida está muito focada na saúde e todos os ministérios precisam, cada um dependendo do seu foco, trazer o VIH/Sisa à razão e chamar aqui a atenção, principalmente, ao Ministério do Trabalho", realçou.

 

"A lei sobre o VIH/Sida diz que as empresas devem formar e educar os seus funcionários sobre o VIH no local de trabalho, mas isso quase que nem acontece, e se a gente começa a fazer isso, provavelmente, todas as questões poderão acontecer a nível dos ministérios", rematou.

 

No encontro que será também marcado pela realização de uma assembleia de membros para eleição dos novos órgãos sociais, a ANASO, fundada há 25 anos, analisa o seu relatório de contas de 2018 e o seu programa de ação para o quadriénio 2019-2023.